Desde o começo, Batman: The Telltale Series foi uma história de destruição. E mais do que as ameaças às quais Gotham City já está acostumada, o game tratou de destroçar completamente o legado de Bruce Wayne, colocando dúvidas na cabeça de alguém que incorpora um herói ainda em seus primeiros dias, e parece ter tomado a decisão de lutar baseado em falsos ideais.
Primeiro, foi sua família. Depois, a empresa. Agora, os ataques chegam o mais próximo possível de Bruce, atingindo aquilo que servia como seu porto seguro. Até agora, o Batman ainda era um local a fugir, e até mesmo, tentar resolver as coisas. Mas até isso está sendo arrancado pelos Filhos de Arkham, que em sua cruzada por justiça – de forma deturpada, mas para eles, ainda assim justiça – transformam a roupa de Morcego na única opção possível para solucionar as coisas.
“Guardião de Gotham”, penúltimo episódio de Batman: The Telltale Series, tinha tudo para ser a derrocada final do personagem. O que acontece, entretanto, é o contrário, e o fato de termos um Bruce Wayne acuado forma, justamente, o ensejo para que Batman finalmente comece a se mostrar como o protetor dos fracos e oprimidos que todos nós sabemos que ele vai se tornar.
Preso no Asilo Arkham após os eventos do terceiro capítulo, Bruce Wayne se vê diante daquele que, um dia, será seu principal algoz. Também em “início de carreira”, o Coringa representa um dos pontos altos do capítulo, e ironicamente, é um dos responsáveis por colocar o milionário de volta em seu caminho de luta pela justiça.
Ou não, já que o palhaço criado pela Telltale aparece de forma bem semelhante à encarnação que vimos no cinema, em “Batman: O Cavaleiro das Trevas”. Temos um vilão que está bem à frente de tudo aquilo que está acontecendo e parece saber mais do que sua aparência e posição denotam. O Coringa aparece, quase, como uma participação especial no game, deixando aquele gostinho de “quero mais” para uma segunda temporada que parece cada vez mais inevitável.
Batman: The Telltale Series tem potencial para se tornar o melhor título da empresa, desde que ela entregue escolhas que realmente tenham significado, como os fãs querem acreditar há anos.
Essa sensação de desesperança e o fato de que nós, como jogadores, sabemos até mesmo mais do que Bruce Wayne sobre com quem ele está lidando, traz um peso bem maior sobre as escolhas deste capítulo. Por mais que o desfecho das ações em Arkham sempre seja bastante similar, independente das falas ou decisões tomadas, a Telltale finalmente consegue ultrapassar isso, deixando a impressão de que, finalmente, está se obtendo progresso a cada passo escolhido.
Muito dessa sensação vem, também, do fato de que este é o capítulo em que mais controlamos Batman desde o começo da série. Com seu alter-ego obrigado a ficar recluso, escondido das mãos do governo, da polícia e da opinião pública, o Morcego finalmente surge como alguém capaz de fazer aquilo que nem mesmo o milionário, com todo seu dinheiro e recursos, é capaz de realizar.
Nessa dinâmica, “Guardião de Gotham” acaba apresentando uma crescente bastante interessante em termos de narrativa. De uma situação aparentemente inescapável, surge
o lampejo de esperança para o herói que ainda está para surgir, por mais que suas bases ainda não pareçam muito sólidas.
Finalizando com um dos combates mais brutais de toda a série, que somente é visto caso uma certa decisão seja tomada, entretanto, o penúltimo capítulo de Batman: The Telltale Series termina de forma abrupta. Pela primeira vez em todo o game, não temos um cliffhanger nem algo grande a esperar, a não ser, claro, o próprio encerramento da temporada – nem mesmo um trailer do quinto capítulo é exibido, ao contrário do que rolou em todos os outros.
A impressão é de que o plugue simplesmente foi puxado, e o clímax, totalmente cortado em seu ápice. Um dos piores encerramentos da série, para o que possivelmente é seu melhor capítulo.
Um dos melhores capítulos da série acaba maculado por problemas de uma engine defasada e de uma falta de cuidado visível com a localização.
Se a série da Telltale sempre teve seus problemas com localização e performance, “Guardião de Gotham” eleva isso à máxima potência. Neste capítulo, temos problemas com as legendas em português que chegam a soar como descaso, uma vez que uma simples revisão permitiria notar o que está acontecendo.
Ao longo de todo o capítulo, são diversos os momentos em que as legendas em português não aparecem, ou são substituídas pelo texto em inglês. Traduções erradas aparecem o tempo todo, enquanto falas que os personagens não disseram surgem traduzidas, ao mesmo tempo em que o que eles efetivamente estão falando jamais aparece escrito na tela.
Para piorar as coisas, como já dito, isso acontece em um dos capítulos com os diálogos e interações mais legais entre os personagens, e que mostra, justamente, o início do combate final de Batman contra todos os seus inimigos, quase que ao mesmo tempo. Quem está fisgado nessa história e não conhece o inglês passará por momentos difíceis e bastante frustrantes aqui.
É uma pena que um dos melhores capítulos de uma das séries mais grandiosas da Telltale acabe maculado por problemas desse tipo, oriundos de uma engine defasada e de uma falta de cuidado visível. “Guardião de Gotham” abre um ótimo caminho para não apenas o desfecho, mas sua próxima temporada, e finalmente, traz escolhas que parecem significarem alguma coisa.
Caso isso realmente se confirme, e a desenvolvedora consiga superar os problemas técnicos, Batman: The Telltale Series tem potencial para se tornar seu melhor jogo. A narrativa parece estar no caminho certo, resta apenas a empresa entregar aquilo que todos nós esperamos – e que os fãs querem acreditar – há anos, funcionando de forma adequada.
O game foi analisado no PlayStation 4.