Com os MOBAs, a indústria de jogos aprendeu que um combate pode ter muitas facetas, e que apenas meia dúzia de classes aparentemente diferentes, mas meio parecidas, não era suficiente. Cada jogador tem um estilo, e isso vai além da escolha entre uma metralhadora, um rifle sniper, ou uma espingarda. Ousar mais parecia ser a tônica para tornar o combate não apenas mais interessante, mas também personalizado e variado.
Desse pensamento, nasceu um estilo combinado, que parece prestes a se tornar um padrão no mercado de jogos de tiro em primeira pessoa. É uma história parecida com a dos próprios personagens de Battleborn, surgidos a partir de um cataclisma que dizimou o universo e exigiu que as facções sobreviventes utilizassem seus heróis para acabar com uma ameaça que pode destruir a todos.
O novo jogo da 2K é um shooter violento, mas também um MOBA em que a estratégia conta muito. Um título com multiplayer competitivo intenso, mas também um modo cooperativo que exige inteligência na montagem da equipe. Os aspectos são tantos que, muitas vezes, o combate se transforma em caos, a ponto de esvaziar a premissa e torná-la menos interessante do que deveria.
Battleborn começa com um tutorial que passa a impressão de que o título é até fácil de se dominar. Ali, o jogador vai aprender como funciona a jogabilidade, o sistema de upgrades, os comandos e entender a arte peculiar e bastante bonita do título. Temos até uma historinha, algo surpreendente, principalmente, para aqueles que chegarem esperando única e simplesmente um game de tiro.
A fase de aprendizado, entretanto, é curta e rápida demais para que o usuário compreenda tudo o que acontece no titulo. Não apenas porque ele é cheio de elementos, mas tambem devido ao fato de que o tutorial carece de explicações. Nem tudo o que aparece na tela é definido, alguns itens não parecem ter efeito aparente e a tela, às vezes, fica lotada de coisas, sendo que não se tem muita noção do que cada um deles representa. Essa noção só se torna mais evidente quando se parte para o jogo “de verdade”, nos modos campanha ou Versus.
Battleborn é um título bastante confuso. Existem diversos momentos de puro caos, em que é difícil entender exatamente o que está acontecendo. Prepare-se para morrer bastante sem saber exatamente o que o matou, enquanto indicações numéricas tentam mostrar, mas deixam pouco claro, exatamente quem foi seu assassino.
O estilo artistico do game é bonito, com gráficos cartunescos e até mesmo alguns toques de animação japonesa. Entretanto, o visual também contribui para toda essa bagunça, devido à quantidade de partículas emitidas a cada explosão, tiro ou poder especial usado. Observar de longe um combate entre aliados e inimigos é como ver uma porradaria da Turma da Mônica, enquanto estar no meio dela é não enxergar absolutamente nada.
A melhor forma de definir o caos de Battleborn seria citá-lo como uma mistura de Borderlands com Destiny.
A performance também sofre com isso. Nos momentos de maior movimento, é possível perceber drásticas quedas na taxa de frames, o que em um título com tantas coisas acontecendo, só piora a situação. Dá para entender a lógica da Gearbox, que quis trazer as características visuais de cada personagem. Na prática, ela acabou criando um conjunto meio amorfo.
Battleborn não poderia ter saído em um momento pior, espremido em meio à Beta do tão esperado Overwatch e o lançamento de Uncharted 4: A Thief’s End. E por mais que fazer análises baseadas na comparação não seja o melhor caminho, é impossível não colocar lado a lado dois representantes do gênero, que à primeira vista se mostram bastante semelhantes mas que possuem diferença fundamental entre si.
Não fosse o game da Blizzard, a aparente falta de personalidade de alguns personagens de Battleborn talvez não seria uma falha tão grande. Diante da experiência provavelmente simultânea dos jogadores com Overwatch, entretanto, é impossível ignorar isso. No último, cada um tem sua aparência e características bem definidas, enquanto em Battleborn, é bem fácil confundir um com outro e ignorar a existência de terceiros.
Ao desenvolver o jogo, a Gearbox cometeu uma falha grave e simplesmente não criou uma arena para testes dos personagens. Contar com um ambiente onde o jogador pudesse usar cada um deles contra inimigos controlados pela inteligência artificial facilitaria a vida não apenas em termos de composição de estratégia, mas também para firmar melhor a imagem de cada protagonista na cabeça.
Pelo contrário, tudo o que se pode fazer é partir para o combate com um dos heróis, e caso a escolha não seja adequada, lidar com a frustração, já que não dá para mudar de personagem no meio da ação. Ou você estará preso com um personagem indesejável durante toda uma partida da campanha, que muitas vezes pode durar mais de uma hora, ou se verá morrendo sem parar e agindo de maneira ineficaz em partidas de Versus.
Para piorar, nem mesmo um “rage quit” funciona, uma vez que seu perfil de usuário fica “preso” a uma partida mesmo que você não esteja participando dela. Só é possível iniciar um novo combate após o final do anterior. Battleborn é como a vida: se você tomar uma decisão errada, terá que conviver e lidar com ela por um tempo. Só que aqui estamos falando de um jogo, e não da vida.
Battleborn é um título bastante confuso. Existem diversos momentos de puro caos, em que é difícil entender exatamente o que está acontecendo.
Isso também faz com que um jogador, ao localizar seu personagem preferido, acabe jogando apenas com ele, tornando a experiência nada variada. Ou, então, ao testar diferentes protagonistas dos quais não gosta em sucessão, ficar com a impressão de que Battleborn só tem heróis ruins. Nenhuma das alternativas, entretanto, é verdadeira, mas a impressão fica devido à falta de atenção da Gearbox com coisas importantes.
A sensação transmitida é totalmente diferente da realidade. Battleborn traz, sim, opções para todos. Temos personagens de força-bruta, como o tão burro quanto enorme Montana, Oscar Mike, o soldado que parece ter sido feito sob medida para quem curte Call of Duty ou Battlefield, o espadachim Rath ou o sorrateiro Marquis, que é tão letal quanto classudo.
São 25 campeões ao todo, sendo que a maioria deles começa o jogo bloqueado. Eles são habilitados de diversas maneiras, seja a partir da conclusão de missões no modo campanha ou pelo cumprimento de requisitos específicos em níveis de personagens ou ações de combate. Liberar todo o elenco é um incentivo para seguir em frente, apesar de depender de jogadores online para fazer isso, muitas vezes, atrasar o processo sem necessidade.
Alguns, claro, ainda precisam de otimização e balancemento. É clara, por exemplo, a supremacia de personagens que atacam com disparos, principalmente aqueles de longo alcance, em relação aos que trazem um estilo de combate corpo a corpo. Isso é algo que vem com o tempo, mas que pode acabar prejudicando a vida de alguns jogadores neste início.
A Gearbox trouxe ainda uma novidade interessante à fórmula, criando um sistema de upgrades que não se mantém entre as partidas. Todos os jogadores iniciam as rodadas com nível um, e de acordo com o progresso, vão alimentando em tempo real uma nuvem de habilidades para cada personagem. É uma forma de garantir progressão e, ao mesmo tempo, permitir que os jogadores adequem os personagens não apenas às próprias habilidades, mas também às necessidades do time.
Mesmo que o jogador se mantenha interessado e motivado por Battleborn, apesar da confusão e da dificuldade de aprendizado com os protagonistas, a arquitetura online pode ser o pior inimigo. Ao longo das primeiras duas semanas desde o lançamento, quando essa análise foi realizada, o título apresentava sistemas com funcionamento nada otimizado, levando a longas esperas, que se tornam ainda maiores na medida em que usuários, sem paciência, se desconectam e impedem a localização do número mínimo necessário para se iniciar uma partida.
Battleborn não poderia ter saído em um momento pior, espremido em meio à Beta do tão esperado Overwatch e o lançamento de Uncharted 4.
Dá para perceber que se trata de um problema, pois é aleatório. O matchmaking pode demorar de até cinco minutos até poucos segundos, independentemente da hora do dia. Some aí, ainda, o longo tempo até que cada jogador escolha seu personagem e uma abertura que, apesar de trazer um tom interessante aos combates no começo, torna tudo ainda mais demorado.
Ao dar seu primeiro passo no mundo dos MOBAs de tiro, se é que podemos falar assim, a Gearbox e a 2K demonstram mais erros do que acertos, em termos de quantidade. Entretanto, as falhas são um tanto quanto gritantes e mostram não apenas um desconhecimento de causa, o que seria natural para alguém que está estreando em um gênero, mas também uma desatenção.
A melhor forma de definir o caos de Battleborn seria citá-lo como uma mistura de Borderlands com Destiny. Os fãs de ambas as franquias podem acabar se sentindo mais em casa do que o restante dos meros mortais, mas mesmo eles serão afetados pelos problemas que derrubam a qualidade da experiência.
Adicione aí, então, a iminente chegada de Overwatch, um título que, por mandar bem em todos os aspectos – inclusive naqueles em que a Gearbox claramente errou – vai acabar tomando o palco e deixando Battleborn de lado. Uma pena, pois temos em mãos um jogo que merecia mais, tanto em termos de planejamento para lançamento quanto em mecânicas e otimização. Muitos erros são simples e pontuais, mas acabam maculando o todo.
Battleborn foi testado no PS4, em cópia cedida pela 2K Games.