Mais um BIG Festival, mais uma vez o New Game Plus esteve lá para cobrir um dos maiores eventos sobre games independentes da América Latina, que já atrai a atenção de muitos desenvolvedores internacionais. Por lá, estão também as grandes marcas, que enviaram alguns jogos para serem votados no recém-criado BIG Trends, pois nenhum jogo será segregado.
Agora acontecendo tanto em São Paulo quanto no Rio de Janeiro, o Brazil Independent Games Festival abriu espaço para a música e uma extensão para quem não conseguiu uma vaga, devido à grande procura, transformando em um evento duplo, o interno e o externo. Falaremos de ambos e muito mais!
Hoje é dia de rock, bebê!
Uma das grandes novidades para este evento foi o Big Dia da Música, um palco que reuniu no penúltimo dia do evento muitas bandas, também independentes, que fazem um dos grandes fatores primordiais em um game, a trilha sonora e os efeitos que tanto caracterizam os jogos que amamos.Não é à toa que shows como o Video Games Live e outros concertos mundiais têm os jogos como tema, e nesta edição, deu para perceber que o público está cada vez mais ávido por essa vertente.
Foi aí que vimos um encontro inusitado entre Nino Tornisiello, guitarrista da banda Mega Driver, e Barry Leitch, criador de icônicas trilhas como as de Top Gear, Horizon Chase, Gauntlet Legends, Rise of Sin Tzu, entre outros. Certamente, a motivação dessa grande atenção ao fator musical nos jogos independentes se deu após o BIG Festival de 2017, em que alguns jogos de aventura com narrativa musical marcaram o evento.
Foi grande o número de títulos nem sempre convencionais como Double Kick Heroes, alguns que fazem uso da lógica musical para se resolver puzzles ou mesmo por puro apelo visual, como vimos em Rock & Rails, no qual você é uma guitarrista que desliza sobre trilhos soltando raios de seu instrumento.
Somando seis participantes na disputa pelo prêmio de Melhor Som, Rhythm Doctor levou a taça para o Peru e acreditamos que seja por usar do carisma do Pixel Art em um conceito inovador de jogo musical, que envolve medicina e pacientes que são curados quando o médico acerta a sétima batida cardíaca dele de acordo com o ritmo que elas emanam. Aqui, altas chances de o game se tornar um viral mundial, com o grande acúmulo de prêmios ao redor do mundo.
Me dá um abraço, brother!
Não é de hoje que o BIG Festival trata de temas como conscientização social, desenvolvimento da indústria de games educativos, apelo político e inclusão, seja via acessibilidade ou de grupos considerados não-gamers pelo senso comum. Esse aspecto, felizmente, passou longe nesta edição do evento e muitos pais estavam lá “jogando de dois” com os pequenos, incluindo vovós em multiplayers, com o clássico semblante sério do jogador em dificuldades.
Claro que este resultado veio de muito esforço contínuo. No prêmio BIG Impact – Educacional temos o incomum Marvelous Inc., em que você resolve puzzles usando lógica de programação. Claro que o jogador não terá que ter conhecimento desse tipo, mas precisará pensar como alguém da área para vencer os desafios. Já no BIG Impact – Questões Sociais temos o já conhecido Lenin – The Lion, que abrilhantou a coluna INDIEcações no começo deste ano.
Além das categorias citadas, temos o prêmio para melhor jogo feito por estudante, levado por Motif, da Turquia, com um jogo para testar a coordenação motora do jogador. Vale citar também o divertido game de cooperação DYO, onde dois jogadores controlam os irmãos minotauros (da mitologia grega, não do UFC), que precisam resolver os puzzles do próprio labirinto usando a saudosa tela dividida, quando necessário, dando aquele ar nostálgico dos jogos antigos.
Bota pra dois aí!
Uma grande surpresa foi ver que os bons tempos do coop voltaram. O que para os mais novos pode até ser algo inovador, para nós, “tiozões”, é uma volta às origens. O multiplayer offline, que antigamente chamávamos de “jogar de dois”, vinha perdendo espaço por causa da jogatina online. E foi justamente esse estilo um dos grandes destaques sociais e retrô que abrilhantaram esta edição do BIG Festival.
Vimos o maravilhoso Tricky Towers na edição de 2016, ser um dos jogos mais procurados. Agora, o título multiplayer offline do momento também envolvia torres, no caso falamos de No Heroes Here, que levou dois prêmios de uma vez, melhor jogo brasileiro e melhor jogo por voto popular, algo esperado para um multiplayer onde se deve defender sua torre medieval das ameaças externas em um formato interessante de cooperação.
A guerra obriga até quatro jogadores a se comunicarem para terem tempo hábil de equiparem os canhões com pólvora, balas de vários tipos que precisam ser manufaturadas e inseridas manualmente. Como se não bastasse, os canhões precisam ser limpos depois de usados e a harmonia entre os jogadores é o único caminho para a vitória.
Falando só de multiplayer, temos Sunken Brawl, um jogo de luta com animais marinhos; Arena Gods, que apesar do título, é um Battle Royale de personagens coloridos se matando em uma arena pseudo romana; At Sundown, outro Battle Royale, mas com armas de fogo e ambientes que lembram escritórios.
Muddledash é um jogo onde cada jogador controla sorridentes ETs que precisam correr carregando uma caixa de presente, que os outros têm que roubar para si e levar até a linha de chegada, usando dos meios mais pilantras possíveis. Já Treadnauts (imagem) mistura Battle City, do NES, com Yoshi’s Island, visto que controlamos tanques de guerra coloridos que andam pelas paredes e teto em cenários extravagantes onde é necessário operar o ângulo dos tiros para acertar os oponentes, enquanto o jogador foge dos disparos dos adversários.
Apesar de tanto apelo à jogatina cooperativa, o vencedor de melhor game do BIG Festival foi Frostpunk, um gerenciador de cidade caótica pós-apocalíptico com uma qualidade gráfica de Triple A.
Sonhando separado, realizando unidos
Como mencionado antes, o BIG Festival 2018 recebeu vários jogos e não mencionamos nem metade deles. Alguns merecem o destaque por serem bem divertidos e promissores, principalmente os que ficaram no lado externo no espaço Panorama Brasil, como Kaze and the Wild Masks, uma mescla de Sonic e Donkey Kong Country 2 com um desafio na medida e um Pixel Art maravilhoso.
O Metroidvania necessário foi Dead Cells, com muita ação e cores enquanto o jogadorr tenta sobreviver em dungeons muito violentas usando armas e ferramentas. Já no segmento “referência à filmes”, temos Akane, um mundo futurista japonês com experiência a la Kill Bill e uma personagem que precisa fatiar todos que interferirem seu caminho, um violento e difícil jogo de ação.
Também tivemos jogos ruins, que não foram poucos, mas apareceram em menor número que nos anos anteriores. Mesmo assim, o que conta é a inovação e é sempre gratificante ver o esforço dos desenvolvedores em não apenas criar os games, muitas vezes de forma caseira, mas também ir até São Paulo ou Rio de Janeiro para divulgação.
São atitudes que comprovam que a indústria dos jogos indies só precisa de mais investimento, pois os talentos e público já estão comprovadamente ávidos por novidades, tanto os hipsters de bigode bicolor se desesperando em jogos de plataforma em 2D quanto as avós de cabelo roxinho matando zumbis em um Cadillac em alta velocidade, enquanto ouvem rock and roll. São outros tempos, são novos tempos, são tempos melhores.