Para a Capcom, o formato episódico serviu para muito mais do que apenas se integrar a uma dinâmica atual do mercado ou, então, para criar ganchos dignos dos seriados e capazes de deixar a gente com nó no estômago. O método foi utilizado, também, para que a empresa pudesse se debruçar com calma sobre diversos aspectos que tornaram a franquia um sucesso.
“O Julgamento” volta a remeter diretamente à obra de Kafka, dessa vez, não apenas em termos narrativos, mas também de jogabilidade. Aqui, estamos no terreno burocrático dos enigmas e, ao mesmo tempo, também vemos alguns dos culpados sofrendo as punições por todo o mal que causaram. É o capítulo mais longo da aventura até agora e, também, o primeiro a contar com verdadeiros problemas de ritmo.
Mais uma vez, assumimos o controle de Claire e Moira ou Natalia e Barry imediatamente após o fim do capítulo anterior. Se o primeiro foi quase como um grande tutorial e o segundo completamente focado na ação, o terceiro puxa o freio de mão para se focar nos puzzles.
Lembra-se do passado da franquia, em que você deveria pegar um item em uma sala, colocá-lo na outra para obter uma chave que abre uma porta que dá acesso a outro quebra-cabeças? Então, é exatamente essa a sensação que “O Julgamento” deseja passar, mais uma prova de que Resident Evil Revelations 2 se apresenta como uma grande ode aos games clássicos.
O game também faz uso de seu sistema de parceiros de maneira bastante semelhante a RE Zero, criando momentos em que ambos devem sincronizar suas ações para chegar a um objetivo. Daqui também emergem algumas sacadas interessantes, que vão fazer com que o fã veterano nostalgie bastante.
Após o final eletrizante do capítulo 2, era de se esperar que “O Julgamento” viesse também com uma explosão. Mas não é bem assim.
Os quebra-cabeças são intercalados por momentos de grande ação, em que inimigos invadem os cenários de todos os lados. Sabe aquela máxima de que algo de muito ruim vai acontecer quando o game começa a te entregar itens sem parar? Então, é melhor economizar, pois você vai precisar de cada tiro, como já se provou ser característico em Resident Evil Revelations 2.
Entra aqui também um pequeno fator replay, com elementos de escolha que contam mais sobre o enredo caso o jogador tome a decisão correta. Mais conexões com os games antigos também dão as caras e já dá para entender o que está acontecendo e fazer apostas para o final que tem tudo para ser surpreendente.
Apesar disso, essa redução na velocidade de avanço acaba gerando alguns problemas de ritmo. Após o final incandescente no segundo capítulo, o jogador quer saber mais. O trecho com Claire e Moira entrega isso, continuando a fazer com que a história ande e entregando mais revelações. O contrário, porém, vale para o pedaço protagonizado pelo veterano dos S.T.A.R.S.
Sabe aquela máxima de que algo de muito ruim vai acontecer quando o game começa a te entregar itens sem parar? Então, é melhor economizar, pois você vai precisar de cada tiro
O capítulo segue a tradição de trazer dois trechos com cerca de uma hora de duração para serem finalizados, mas com certeza, parece ser muito maior. Dando sequência a um gancho explodidor de cabeças em “Contemplação”, “O Julgamento” coloca mais uma vez o jogador para investigar os cenários pelos quais Claire e Moira já passaram. Quando se entra em áreas inéditas, temos objetivos chatos como abrir comportas ou carregar uma caixa de energia por um cenário imenso.
Ao contrário dos puzzles da protagonista, os que aparecem aqui não são nada desafiadores, mas sim, simplesmente chatos. Mais do que isso, os trechos de Barry já começam a mostrar seus sinais de cansaço, com “O Julgamento” demorando a terminar, mas no mau sentido.
O trecho com Barry tem seus pontos positivos, como o diálogo bastante pessoal entre ele e Natalia no começo do capítulo, ou seus últimos minutos, carregados de emoção. Ainda assim, para um game que primeiro se valeu da empolgação dos fãs para se sustentar e, mais tarde, de um gancho fenomenal, “O Julgamento” traz uma quebra de ritmo bastante significativa. Não seria um problema se não estivéssemos na reta final e, acima de tudo, se essa perda de movimento não quebrasse uma linha ascendente de ganchos, pontas abertas e curiosidade.
Após o final eletrizante do capítulo 2, era de se esperar que “O Julgamento” viesse também com uma explosão, principalmente por ser ele quem abre as portas para o episódio final. Mas não é bem assim. A sensação aqui não é de uma gigantesca ponte que se estende cheia de teorizações e expectativas. Não é como nas grandes séries, em que você vai passar uma semana roendo as unhas, mas também não é moroso o suficiente para que você não se importe.
Na realidade, é mais como uma preparação. Você sabe que algo grande está vindo, mas não sabe exatamente o que é. E talvez esteja aqui a grande vitória ou a esmagadora derrota de Resident Evil Revelations 2. Saberemos na próxima semana.
Este game foi analisado no PlayStation 4, em cópia cedida pela Capcom.