Durante a Comic Con Experience 2014, conversamos com o simpático e alegre Cameron Scott Davis, comumente conhecido por ter atuado como concept artist e character designer de games das franquias Tony Hawk’s e Guitar Hero.

Cameron trabalhou especificamente em Tony Hawk’s Project 8 e Tony Hawk’s Proving Grounds, e ganhou ainda mais destaque e visibilidade quando passou a ser responsável pela produção de todos os personagens e trajes de Guitar Hero 3: Legends of Rock, 4: World Tour, 5, Aerosmith e Metallica.

Além de todo esse chiquetoso currículo, o moço também é ilustrador de materiais de publicidade, pôsteres e capas de revista sobre os jogos; e já trabalhou na DreamWorks Animation, onde, entre outros projetos, participou da animação The Croods. Por fim, também deu aulas presenciais de design de personagens e lecionou master classes on-line na Gnomon School of Visual Effects, em Hollywood.

Confere só o bate-papo que tivemos com esse figurão!

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NGP: Primeiro, conta pra gente como foi mexer com trabalhos artísticos tão distintos um do outro? Você teve liberdade para criar o que você queria ou foi tudo muito limitado?

Cameron Scott Davis: Ambos. Era limitado em alguns casos, mas eu era livre pra fazer o quê eu queria em outros. Quando você está produzindo um produto para ser vendido essencialmente como um jogo, você tem que torná-lo acessível para o maior número de pessoas possível. Então, para mim isso é limitar (risos). Mas qualquer coisa é assim quando você está mexendo com dinheiro. Todavia, é muito divertido trabalhar em um projeto que é visto como eles são [Tony Hawk’s e Guitar Hero]. Existem prós e contras, mas eu gostei de trabalhar em ambos. Eu gostava das idas e vindas; de fazer meu próprio trabalho e de fazer algo junto de outras pessoas, fazer algo em conjunto. Existe um certo balanço nisso.

NGP: No Guitar Hero, enquanto você trabalhava no design de personagem dos membros de bandas como, por exemplo, Metallica ou Aerosmith; você teve que tomar cuidado com algum detalhe específico conforme os criava ou foi tipo um processo natural?

Cameron Scott Davis: Eu não sei… (risos) Veio naturalmente. Eu costumava desenhar muito as celebridades e pessoas famosas como personagens cartunescos, sabe? Com características bem exageradas. E eu me focava no que os fazia ser como eles eram: o quê os distinguia e o quê os fazia reconhecíveis para as pessoas. Eu estudei isso os desenhando. Ao fazer a transição do conceito de arte para estilizar uma pessoa real, tudo veio um tanto fácil.

NGP: Assim que você deixou a Neversoft, você entrou para a DreamWorks Animation, que é toda uma nova indústria. Como foi para você essa transição, o quão diferente foi?

Cameron Scott Davis: Foi bem diferente. A indústria de filmes já existe há mais tempo e é muito difícil entrar nela. Existe muita burocracia envolvida e você meio que tem que esperar a sua vez para fazer o que você faz de melhor. Eu trabalhei na DreamWorks por um curto período de tempo, e eu precisava voltar a trabalhar em meus projetos pessoais como, por exemplo, o meu livro “Sleepwalker”. Digamos que eu nunca me adaptei muito lá. Eu não fiquei tempo suficiente então não me aloquei por lá. Eu era o único designer de personagem na empresa, daí tudo caía sobre meus ombros, na medida do que me dizia respeito. Eu tinha muitas responsabilidades, tinha que fazer muitas coisas e não tinha uma voz ativa. Eu nem consigo falar muito sobre animação porque eu não fiz isso por muito tempo.

NGP: Todos os personagens em Guitar Hero representam algum gênero musical, como o glam, punk rock, etc. Vocês fizeram pesquisas enquanto criavam os personagens ou foi um processo natural?

Cameron Scott Davis: Sim, muita pesquisa! Muita, muita pesquisa! Eu passei uns 3 anos sempre pesquisando: lendo livros, indo a apresentações, assistindo performances, nos fins de semana eu ia a shows e em lojas observar a última moda… Sempre pesquisando. Escutando as músicas, me familiarizando com tudo, tudo que era possível. Era bem divertido! Eu mesmo toco guitarra e eu gosto de rock. Eu naturalmente sempre escutei rock, já que cresci em Portland, Oregon – uma região do Pacifico Nordeste. E quando eu era jovem, tipo com 10 anos, nessa época o Nirvana, Pearl Jam e todas as bandas de Seattle eram realmente importantes. A minha área era praticamente o centro da indústria da música naquela época. Então eu cresci já inserido nisso.

NGP: Então não houve nenhuma preocupação em criar todos aqueles estilos de música? Tudo partiu de criações de conceitos originais ou foi tudo baseado em algo que já existia?

Cameron Scott Davis: Bom… Praticamente tudo, possui um pouco do núcleo que seja; retirado de algo que já existe. Nós estilizamos tudo no mundo de Guitar Hero, mas basicamente tudo é baseado em algo que já existe. Estou tentando pensar em algo que partiu de um conceito de criação original… Hmn. Eu acho que o chefe final do Guitar Hero 3 [Lou Devil] é um bom exemplo. A história dele é baseada no conceito de Robert Johnson viajando ao crossroads e vendendo sua alma ao demônio para poder tocar guitarra. Mas o design dele [Lou Devil] veio de diversos rascunhos randômicos, e aí decidimos agregar a ele um estilo rockabilly dos anos 50, apenas porque era legal (risos).

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NGP: Como foi a recepção do público baseada nesses conceitos de estilos musicais, ambos os existentes e os originais? Eles reclamaram muito sobre?

Cameron Scott Davis: Honestamente, eu não sei! E eu não me importo! Eu não vou em fóruns e não procuro saber sobre isso, eu não sei. Eu não posso mais fazer as mudanças, não é mais da minha conta. Então… Tanto faz. Não dá pra agradar a todo mundo! (risos)

NGP: E você está certo! Baseado nisso, eu sei que muitos artistas, como designers, pintores, e relacionados; são muito preocupados com seus trabalhos. Eu digo por mim, já que eu desenho, eu nunca estou satisfeita com o que produzo. Você se sente assim também, quando vê o resultado final? Você olha o resultado e fica pensando: “eu poderia mudar isso” ou “eu poderia ter mexido melhor naquilo”?

Cameron Scott Davis: Todo o tempo! Por que assim que você termina o trabalho, você já é melhor do que no momento em que começou. E sim, eu sempre posso melhorar! Na verdade, durante a produção do Guitar Hero eu estava trabalhando tanto que eu estava ficando cada vez melhor, muito rápido. Então para mim foi divertido, pois eu cresci como artista muito cedo. Havia coisas que eu aprendi a fazer que não conseguia produzir uma semana antes. Mas aí, dois meses depois você fica “Oh, isto está horrível!” (risos). Você sabe que comete erros. Daí olha pra trás e mesmo assim nunca está satisfeito.

NGP: Você se identifica com algum personagem que tenha criado? Existe alguma característica sua em seus personagens?

Cameron Scott Davis: Um pouco com todos eles. Um diretor de arte com quem trabalhei uma vez mencionou quando eu perguntei: “qual deles é você?!”, e ele respondeu: “todos”. Então eu faço da resposta dele a minha. Eu tento fazer os personagens bem verossímeis, ou baseados em alguém que já existe, ou com trejeitos e características de pessoas que eu conheço. Eu tento fazê-lo personagens acreditáveis, reais. Mas eu acho que um pouco de mim sempre reside em todas as criações que já fiz… Para o bem ou para o mal! (risos)

NGP: E em Tony Hawk’s… A criação artística foi mais limitada? Digo isso porque você estava lidando com pessoas de verdade. Como foi o processo?

Cameron Scott Davis: Eu trabalhei em dois jogos de Tony Hawk’s. O primeiro era chamado Project 8. A direção de arte do game foi bem cartunesca, foi divertida. Um pouco mais livre e divertido de trabalhar. No Tony Hawk’s 9: Proving Grounds, a direção de arte tinha que fazer do trabalho o mais realístico possível.  Então neste ponto eles já não precisavam tanto assim de mim. Sabe? Por que você precisa de um artista conceitual para trabalhar com algo que já existia? Já não foi tão divertido trabalhar neste e eu não fui tão necessário assim na produção.

NGP: Hoje o mercado possui jogos de esporte e jogos de música bem diferentes do que tínhamos há duas gerações de consoles. Hoje, por exemplo, vemos mais Kinect Sports e Just Dance na indústria. Considerando isso, você acha que ainda há espaço para Guitar Hero ou Tony Hawk’s brilharem?

Cameron Scott Davis: Eu acho que eles ainda vão voltar. Eu acho que eles serão ressurgentes, sabe? Se você parar pra notar, isso acontece com os filmes, com a moda e com a música. Assim que as crianças que cresceram jogando Guitar Hero ou Tony Hawk’s virarem pais, eles vão passar tudo para os filhos e aí tudo vai voltar. Sempre acontece! É o ciclo dos 20 anos! O ciclo dos 20 anos sempre atinge o entretenimento! Então vão voltar. Podem não voltar do mesmo exato jeito, com a guitarra de plástico, por exemplo; mas eu acho que de alguma forma vai voltar sim, porque afinal, a base, a idéia [do jogo] é brilhante. São ótimas idéias que todo mundo pode experimentar, onde todos podem sentir como é se ser um astro do rock, ou ser um skatista, ou ser um jogador de futebol…

NGP: Você ainda joga ambos os títulos?

Cameron Scott Davis: Não conte pra ninguém! (risos) Eu nem tenho um console! Eu não jogo videogames… Porque eu gosto demais e quando eu jogo, eu jogo pra valer! Eu fico viciado, são como drogas! Eu jogo por horas! Eu não vou ao banheiro, eu não como, meus olhos doem… Eu me esqueço de comer! É algo que faz mal pra mim… E sabe? Eu saí do meu trabalho para trabalhar no meu projeto pessoal. Se eu não fizer isso eu sinto que estarei perdendo dinheiro, e vou começar a me sentir culpado. Então… Sem chance, não posso jogar.

NGP: Mas mesmo assim você tem alguma franquia favorita? Quais jogos você curte?

Cameron Scott Davis: Como eu disse… Eu não jogo muitos videogames. Mas eu amo Tony Hawk’s! Eu joguei absurdamente os três primeiros! Gosto muito dos três primeiros Guitar Hero também, eles são divertidos pra caramba! Quando era criança também gostava muito de RPGs como Zelda, Secret of Mana e outras aventuras épicas, Super Mario World, Street Fighter. E quando eu fico muito bom num jogo eu me torno muito competitivo! Então eu preciso me deter um pouco! (risos)

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