Code Vein

Code Vein

por Ana Cruz

Bom, mas não o bastante

Mais uma vez os jogos da From Software vêm fazendo escola. Nos últimos anos, qualquer título com dificuldade elevada era visto como o Dark Souls “no estilo tal”; inclusive, algumas desenvolvedoras resolveram pegar o estilo de jogabilidade e inserir em seus títulos. Da união da vasta experiência da Bandai Namco com games ao estilo anime, e talvez de uma vontade de atrair essa parcela de público, nasceu Code Vein.

A história começa quando uma voz te chama, pedindo para que se lembre do seu nome e aparência, momento para você customizar seu personagem. Logo em seguida, um grupo desconhecido “te salva”, mas te obriga a buscar Cristais de Sangue para garantir a proteção deles.

Todo o cenário é pós-apocalíptico. O jogador vai descobrindo, por cima, o que aconteceu através de conversas com outros personagens, mas nada disso é levado muito em consideração. O que realmente importa é que nosso personagem é alguém especial, com habilidades que ninguém mais tem. É aquele exagero que tem em todo anime, se você gosta ou já assistiu algum, sabe do que estou falando.

O enredo tenta ser interessante, mas cai no clichê e acaba fazendo com que o jogador não se importe com o personagem que criou.

Assim como na série Souls, em Code Vein, você vai caminhar por vários lugares, seja no subterrâneo ou superfície, cenários que lembram muito os de Darksiders, como cidades destruídas cheias de inimigos prontos para te destruir. O jogador deverá tomar cuidado com as Aparições, pessoas que deixaram a sede por sangue tomar conta de si e se transformaram em monstros.

Cada boss destruído dá acesso a memórias, que permitem ter uma noção do que aconteceu com aquela pessoa. Conforme vamos avançando, os inimigos ficam mais fortes, mas o usuário também poderá contar com a ajuda de NPCs ou jogadores online.

Já entendi que o personagem é especial

O enredo tenta ser interessante, mas cai no clichê, com a história do Escolhido que é essencial para a missão e/ou salvação da humanidade. Como sempre, somos designados a fazer diversas missões e seremos admirados por isso, no melhor ou pior estilo Mary Sue ou Gary Stu, dependendo do gênero que você escolher.

Não quero falar mal de clichês, pois quando bem aplicados, o jogo te prende e deixa curioso sobre o que vai acontecer com o protagonista na jornada. Já vimos isso em Horizon: Zero Dawn, que usa a fórmula da pessoa que é excluída da sociedade por ter uma ligação com pessoas que foram responsáveis por um acontecimento ruim ou a velha história de vingança, como em God of War.

A diferença é que nestes jogos, o clichê foi bem usado, com altíssimo carisma dos personagens centrais e de apoio. Eu quis saber o que aconteceu, como eles iriam superar os obstáculos e, mesmo sem concordar, as motivações eram convincentes. E isso não acontece em Code Vein.

“Você é incrível”, “essa missão não seria concluída sem você”, “você é especial mesmo” são frases que se repetem tanto durante o jogo que nos deixam entediados. Mais do que isso, faz com que a gente deixe de me importar com o personagem, pois fica chato, algo que é um problema, já que ele foi criado do zero pelo jogador.

Apesar dos gráficos que deixam a desejar, da sexualização exagerada e da história que não empolga, não há nada de negativo a falar da jogabilidade.

As legendas são colocadas no lado esquerdo da tela e aparecem na cor branca, com fonte pequena. Dependendo do cenário, isso faz com que o jogador perca algum fato da história, que já é fraca, ou uma dica importante para batalhas.

Sou uma pessoa que assistiu a muito anime, lê histórias e escreve. Quer mostrar que um personagem é importante? Faça isso no enredo, com as consequências das ações que tomamos durante a jornada. Depois das batalhas com bosses, você é elogiado, vê uma coisa ou outra, mas o que e vem à mente é: “é isso? Então tá!”

Prioridades, né?

Qual a prioridade para uma desenvolvedora para fazer um jogo bom? Gráficos? Jogabilidade? Enredo?  Para a Bandai, parece que foi deixar os seios das personagens femininas balançando com qualquer ventinho. Parece coisa boba, mas no momento em que se nota falta de sincronia na fala dos personagens e ambientes que parecem de jogos de PS3 ou Xbox 360, há algo de errado.

Existem coisas bacanas em Code Vein. Os personagens foram bem produzidos e a arte é bonita, se você assiste a algum anime com essa mesma qualidade nos traços, poderá ficar bem satisfeito. Os cabelos quase não se mexem, mas, novamente, os seios das personagens parecem ter vida própria no pior estilo hentai.

Boa parte do investimento foi para as customizações. Você poderá escolher entre o padrão ou definir todos os detalhes de seu personagem, com a opção de mudar cabelos e roupas do seu bonequinho também ficando disponível quando entramos pra turma de sobreviventes.

O cenário, principalmente na cidade, parece repetitivo, não importando o local que se vá. As mesmas paletas de cores e objetos são jogados de qualquer maneira para que pareçam coisa nova, enquanto a vegetação parece de plástico. A iluminação também é a mesma em todas as fases, com só uma variada quando o ambiente é mais escuro, mas nada convincente.

A trilha sonora é muito boa, principalmente contra os chefões, lembrando os animes da TV Manchete, que tinham essa música orquestral. A dublagem, tanto em inglês e japonês, é boa, mesmo com a falta de sincronia nas falas dos personagens. Mas o nosso personagem é mudo, então, estou falando do resto.

Prepare-se para o desafio

Apesar dos gráficos que deixam a desejar, não há nada o que falar da jogabilidade. Os controles respondem bem, pois têm uma pegada hack and slash. Sabemos que uma arma boa poderá ajudar nas lutas, mas a estratégia é fundamental, assim como em Dark Souls e Bloodborne. Mesmo apertando o quadrado toda hora, não pode bobear e atacar de qualquer jeito.

Sabemos que muita coisa em Code Vein teve inspiração nos jogos da From Software, mas não só nas estratégias e dificuldade, mas os pontos de save também são bem longes um do outro. Ao morrer depois de horas, você perde tudo o que coletou e volta para o último checkpoint. A dificuldade é altíssima, e quanto mais se avança, indiferente do seu nível, as lutas que poderão durar um bom tempo. Este é um jogo que exige boas horas do jogador, e para quem gosta do estilo, pode garantir diversão; para os mais casuais, entretanto, essa soma pode se tornar complicada.

Caso você goste de desafios e anime, sem ver problema na sexualização de personagens femininas e problemas de sincronia labial ou legendas pequenas, poderá se divertir. Code Vein, por outro lado, não encanta com uma boa história ou detalhes gráficos. Para a junção de tudo isso, existem opções melhores.

O jogo foi testado no PS4, em cópia cedida pela Bandai Namco.