Por muito tempo, foi consenso que a forma mais econômica de comprar jogos era criando contas em lojas internacionais. Por mais que Sony, Microsoft e Nintendo oferecessem versões nacionais de seus serviços, boa parte dos jogadores sempre optou por acessar o conteúdo dos Estados Unidos ou mesmo Canadá para economizar alguns trocados.
Afinal, mesmo a variação do dólar e os impostos envolvidos nas compras lá fora, o custo-benefício desse tipo de transação sempre valeu a pena, principalmente com lançamentos.
No entanto, desde que a moeda americana decidiu dar uma galopada nas alturas, essa “verdade” foi posta em xeque. Com o dólar beirando os R$ 2,70, o mesmo jogo de US$ 60 que saía cerca de R$ 130 passou a custar quase R$ 170, deixando as coisas um pouco mais complicadas.
Com isso, aquela conta brasileira que muitos tinham só por desencargo de consciência passa a se tornar cada vez mais um opção viável e as lojas, quem diria, se transformaram na principal alternativa para quem quer pagar pouco.
Entendendo os números
Para ver o que está realmente valendo a pena no fim das contas, vamos apelar um pouco para a matemática. No momento em que este texto está sendo escrito, na tarde do dia 14 de janeiro de 2015, o dólar está sendo cotado a R$ 2,62 e vai ser esse o valor que vamos usar como base para os cálculos a seguir.
Além disso, uma coisa muita gente se esquece de colocar na ponta do lápis é o valor do Imposto sobre Operações financeiras, o famoso IOF. Ele quase nunca é lembrado exatamente por não aparecer em nenhum momento durante a compra, dando as caras discretamente apenas na sua fatura.
No entanto, apesar de negligenciado, o IOF faz muita diferença quando colocamos as lojas nacionais e internacionais na balança. Isso porque, quando fazemos compras em lojas lá de fora, a alíquota cobrada é de 6,38% do valor total contra míseros 0,38% que incidem em transações nacionais.
Vamos às contas
Para deixar as coisas mais claras, vamos a exemplos práticos, a começar pelo vindouro The Order: 1886. O novo jogo da Ready at Dawn chega ao PlayStation 4 em fevereiro e muita gente já está tão empolgada com o título que pretende adquiri-lo na pré-venda da PSN. No entanto, vale a pena fazer isso na loja americana ou na brasileira?
Lá fora, The Order está à venda pelos tradicionais US$ 59,99, enquanto aqui ele sai por R$ 179,99. A princípio, parece uma conta fácil de resolver, mas o resultado final mostra que não há tanta diferença entre um ou outro.
De acordo com a cotação atual, o valor cobrado pela PSN gringa sai em torno dos R$ 157. Se adicionarmos os 6,38% do IOF — cerca de R$ 10 —, esse valor sobe para R$ 167.
Já o jogo nacional só recebe o acréscimo de R$ 0,68 fruto do IOF reduzido para transações locais, o que faz com que seu preço final seja de basicamente R$ 180.
Assim, no fim das contas, ainda vale mais a pena pegar The Order: 1886 na PSN americana, embora a diferença seja bem pequena. Aí fica a seu critério definir se o transtorno de comprar cartões com créditos valem ou não R$ 13 — lembrando que alguns vendedores cobram um pouco a mais.
Paralelo a tudo isso, temos o retorno do jogo físico como uma alternativa viável. Como o dólar em alta tornou a disputa no meio digital mais acirrada, algumas lojas estão se aproveitando disso para fazer algumas promoções que ajudam a baratear um produto mesmo em seu lançamento.
Apenas para ter uma ideia, o mesmo The Order: 1886 pode ser comprado na Kabum por R$ 169,91 no pagamento à vista. O valor continua um pouco acima do cobrado na PSN, mas lembre-se de que você vai ter aquela caixinha deixando sua prateleira um pouco mais bonita.
Lidando com valores menores
E quando o assunto são jogos menores ou que são lançados apenas no formato digital, como fica essa conta? Afinal, todos sabemos que uma das razões para os games AAA serem um pouco mais caros é para evitar que as lojas digitais devorem o marcado tradicional, que conta com uma série de gastos não existentes na PSN, Live, eShop e Steam.
Vamos tomar como base o aguardado Resident Evil Revelations 2. Os fãs que quiserem pegar a temporada completa do novo game da Capcom terão de desembolsar US$ 24,99 — que, na cotação atual, fica em R$ 65,50. Adicionando o IOF de R$ 4,18, o retorno de Claire Redfield e Barry Burton fecha em quase R$ 70.
Só que nas lojas brasileiras, o game custa somente R$ 50,99 sem o adicional do imposto. Se levarmos em conta o tributo de 0,38%, o valor final vai para R$ 51. Em outras palavras, uma economia e tanto.
O mesmo acontece com a remasterização de Resident Evil Remake. Os US$ 19,99 da PSN americana viram R$ 55,50 no fim das contas. Na contraparte nacional, o título sai por R$ 41.
Renovando o serviço
Para fechar nossa aula de matemática e economia, aquela que por muito tempo foi a grande vantagem de utilizar as lojas estrangeiras: a PlayStation Plus. O serviço demorou a chegar por aqui e, mesmo com as flutuações do dólar, as vantagens de assiná-lo sempre fizeram com que o investimento valesse a pena.
No entanto, o aumento da moeda americana e a chegada do recurso ao Brasil mudaram bastante o cenário. Tanto que já está sendo mais vantajoso usar a nossa Plus do que se aventurar em outro país — uma diferença que pode resultar em uma economia de R$ 40 ao longo do ano.
O único adendo nesse sentido, porém, diz respeito às promoções. Enquanto a PSN americana traz ofertas bem tentadoras em muitos títulos, a loja nacional é um pouco comedida e ainda segue a política de proteger o varejo local, fazendo cortes de preços mais tímidos em cima de valores normalmente mais altos.
Apenas para comparar, o mesmo Mortal Kombat que está por US$ 8 (R$ 22,34, já com o IOF embutido) custa R$ 46 na versão brazuca da promoção de 20 anos do PlayStation.
Portanto, antes de decidir qual edição da Plus assinar, lembre-se de levar isso em consideração.
Onde comprar?
Isso já deve ser o suficiente para você entender o quanto a alta do dólar alterou o cenário econômico geral. Aquela sua conta estrangeira não parece mais ser tão atrativa quanto antes e seu perfil na rede brasileira já se revela uma opção bem mais vantajosa.
A verdade é que, se você quer realmente pagar menos, o ideal é pesquisar e não ter medo de fazer algumas contas. É claro que nem sempre estamos dispostos a pegar papel e caneta, mas o seu bolso agradece se você dedicar um tempinho para isso.
É claro que existem alguns macetes que podem ajudá-lo nessa tarefa. Em muitos jogos — sobretudo digitais e DLCs —, a PSN do Brasil ainda segue os valores de dois para um, ou seja, como se o dólar custasse ainda R$ 2. Não é preciso ser nenhum gênio para perceber o quanto isso torna as coisas vantajosas por aqui, não é mesmo?
Já em relação a lançamentos maiores, a coisa muda um pouco de figura exatamente por conta das medidas protecionistas que deixam tudo mais caro. Ainda assim, como foi possível ver no caso de The Order: 1886, a diferença não é tão grande e há até mesmo algumas lojas vendendo a cópia física a preços bem mais competitivos.
Assim, antes de comprar, dedique alguns minutos para pesquisar e fazer algumas contas. Isso pode ajudar (e muito) na hora de decidir em qual conta pegar seu game novo e, de quebra, economizar para um título futuro.