Quem me conhece sabe que nunca fui um grande fã de FPS. Embora o gênero tenha se tornado a menina dos olhos da indústria nos últimos anos, ver o mundo em primeira pessoa nunca me atraiu — apesar das diversas tentativas. E foi exatamente por não ser um apaixonado por tiros que decidi me aventurar pelo mundo de Destiny.
É claro que soa estranho ver alguém que não tem a mínima familiaridade com o gênero explorar o game que vem exatamente como uma resposta ao mais do mesmo em que os first person shooters se encontram. Desde o início, a Bungie fez muitas promessas para este projeto e é inegável que todas elas despertaram meu interesse e curiosidade sobre o que estava por vir. Se o jogo fosse realmente tudo aquilo que o estúdio fazia parecer ser, talvez Destiny pudesse ser o primeiro FPS que realmente me conquistaria.
E, apesar de ainda ser meio cedo para dizer se o título conseguiu ou não esta proeza, a Beta disponibilizada nesta última semana ajudou, e muito, a quebrar algumas das minhas resistências com o estilo e a entender por que vocês gostam tanto de dar alguns tiros.
Você nunca está sozinho
Apesar de a Bungie ter feito uma enorme propaganda sobre o quanto Destiny era único, a verdade é que ele agrupa vários elementos já existentes em outros jogos. Ele é uma grande amálgama que reúne aquilo que há de melhor em outras séries para criar algo próprio.
Não é à toa que você vai identificar muito de Halo e Borderlands por ali, principalmente na parte estética. No entanto, essa familiaridade está longe de ser ruim. Por mais que não tenhamos nada de realmente novo nesses aspectos, essa mistura toda funciona muito bem, principalmente por conta do dinamismo oferecido e da tão comentada parte “social”.
E foi exatamente o fato de eu nunca estar sozinho que fez com que Destiny ficasse tão interessante. Por mais que eu pudesse fazer todas as missões no single player, a verdadeira graça estava em explorar o que restou da Terra ao lado de alguns amigos. Não é à toa que os códigos de acesso eram liberados em trios.
É claro que essa jogatina cooperativa não é nenhuma novidade e há uma lista enorme de outros títulos que fazem algo assim. A diferença é que esse trabalho em equipe é mais do que valorizado aqui, ficando em primeiro plano em diversos momentos. Tanto que não era raro eu simplesmente ignorar a trama e seguir cumprindo os objetivos enquanto discutia estratégias com meus amigos ou simplesmente conversava sobre qualquer outra coisa.
Isso significa que a trama do jogo é ruim? Muito pelo contrário: o pouco que a Beta apresenta é interessante e te faz querer saber mais sobre o que é o Viajante, por que há os Guardiões e o que diabos aconteceu ali, mas nada supera o dinamismo de fazer isso ao lado de conhecidos, por mais que isso desvirtue um pouco o foco principal.
Esse apelo é tão grande que me vi entrando na PSN várias vezes apenas para saber se algum dos meus amigos estava online para que eu pudesse criar uma partida rápida. E, como é muito fácil entrar no jogo alheio ou convidar os outros para uma partida, esse entra e sai fica bastante natural e simples — apesar dos constantes problemas de conexão neste estágio da Beta.
Além disso, Destiny tem um quê de MMO muito grande, o que justifica um pouco do entusiasmo do pessoal da Bungie em relação a essa parte social. Seja nas missões ou na Torre — uma cidade que fica na órbita da Terra e que serve de QG dos Guardiões —, vários outros jogadores vão cruzar seu caminho, seja em meio a uma quest ou simplesmente matando tempo.
E se dançar ou acenar para desconhecidos vai fazê-lo sentir saudades do tempo de World of Warcraft, interagir com eles e convidá-los para embarcar em uma missão apenas fortalece o caráter social e cooperativo de todo o jogo. Assim, você só vai ficar sozinho se realmente quiser — o que dificilmente vai acontecer.
Uma Beta para todo mundo
Se o conceito por trás de Destiny conseguiu quebrar algumas das minhas barreiras com FPS, o que dizer da jogabilidade? Afinal, boa parte do pessoal que se empolgou com o título já conhecia o estúdio de Halo ou se interessava pelo gênero. Mas como um completo novato no mundo dos tirinhos sobreviveu a tudo isso?
Incrivelmente bem, apesar da minha falta de habilidade com uma arma. O game é bastante acessível tanto para veteranos quanto para novatos, o que faz com que a exploração e os combates sejam bastante gratificantes. A mistura de exploração de um cenário vasto — e muito bonito — com combates intensos empolga, embora sem grandes inovações.
O que me chamou muito a atenção foi o flerte da Bungie com RPGs, trazendo todo um sistema de equipamentos, classes e habilidades que ajuda a dar uma bela variada na jogabilidade geral. Novamente, trata-se de algo que já vimos em outros jogos, mas que continua funcionando muito bem por aqui.
Destiny conta com três classes: Titã, Arcano e Caçador. Cada um desses personagens conta com um algumas características bem específicas, sobretudo em suas habilidades, que ajuda a trazer uma variedade aos combates. Na Beta isso ainda é um pouco discreto, já que o limite de nível não permite que exploremos mais as skills únicas de cada personagem. Ainda assim, o pouco que é mostrado já deixa claro que ter um de cada herói em seu grupo é mais do que recomendado.
Por outro lado, novatos como eu não vão se sentir acuados em relação a isso. Por mais que você não tenha noção da diferença que há entre um Titã e um Arcano, por exemplo, você ainda consegue se divertir na mesma medida, uma vez que a base de todas as classes é a mesma. Ao contrário de muitos MMOs em que a decisão de qual profissão escolher vai alterar a jogabilidade geral do título, Destiny traz essa especificação a um nível um pouco mais avançado, tornando as coisas mais acessíveis.
A salvação da lavoura?
Pelo que a Beta mostrou, talvez Destiny ainda esteja longe de ser aquela coisa diferente que muitos esperavam. A Bungie criou uma excelente colcha de retalhos, misturando aquilo que há de melhor em uma infinidade de títulos e gêneros. Não há nada realmente novo, mas isso também não quer dizer que se trata de algo ruim. O jogo é ágil, dinâmico e extremamente divertido, principalmente quando você está ao lado de seus amigos.
Ainda é cedo para dizer se o jogo vai ser tudo aquilo que a produtora e a Activision esperam, mas os primeiros testes serviram para mostrar não apenas que ele está seguindo pelo caminho certo como ainda pode ser a porta entrada de muita gente que não é fã de FPS neste mundo dos tirinhos.