Uma das coisas que mais chama atenção em Crossing Souls, logo que se bate o olho no game é, certamente, a proposta retrô. O jogo destila ares dos anos 1980, o que pode ser um apelo interessante para o momento em que vivemos, já que muito conteúdo é repleto de homenagens e referências a clássicos desta década. Por outro lado, esse pode ser só um artifício que cansa rapidamente, devido ao exagero desta característica ao longo do título.
Todavia, não é só de nostalgia oitentista que Crossing Souls vive, já que traz mecânicas e uma jogabilidade deveras interessante, gráficos lindíssimos e repletos de vida em Pixel Art e uma história clichê com temáticas um tanto quanto pesadas, porém, repleta de personagens únicos embasados em estereótipos batidos. Isso sem falar da trilha sonora propícia, mas enjoativa.
No game, temos cinco personagens principais, que são jogáveis: Chris, uma espécie de líder para o grupo; Matt, o franzino gênio da equipe; o forte e resistente Big Joe; a destemida e ágil Charlie; e o caçulinha e arteiro Kevin. O time é, como já comentado, embasado em arquétipos de personagens que já cansamos de ver em inúmeras obras, sejam dos anos 1980 ou não. Todavia, cada um deles se destaca pelas suas ações, trejeitos e animações.
Os gráficos de Crossing Souls são exuberantes, um colírio para os olhos de qualquer entusiasta da Pixel Art. Mas mesmo quem não gosta muito do conceito vai conseguir reconhecer e se apegar ao estilo visual do game, pois além de belíssimo, ele é colorido, vivo e detalhista. Além disso, o jogo possui cutscenes a lá desenho animado, que simulam até mesmo o aspecto de interferência de transmissão de vídeo – se você nasceu há pelo menos 25 anos, deve se lembrar das linhas que apareciam na televisão quando o sinal não estava bom, ou quando a fita VHS estava suja demais…
Crossing Souls é um prato cheio para quem curte nostalgia oitentista e um deleite para os fãs da Pixel Art, apesar de a chuva de referências em todos os seus aspectos tornar a experiência um tanto cansativa.
Mas não é só no conceito que Crossing Souls homenageia a década de 1980. O game também traz muitas referências na jogabilidade e isso torna até um pouco difícil definir em que gênero ele sumariamente se encaixa, já que apresenta mecânicas diferentes para o jogador. Pessoalmente, adoro esse experimentalismo, já que o flerte com diferentes tipos de gameplay traz dinamismo à jogatina, deixando tudo mais interessante.
Dentre os diferentes tipos de gameplay que o jogo aborda estão o adventure, beat ‘em up, o shoot ‘em up e até mesmo minigames de corrida e obstáculo. Há momentos, por exemplo, que o jogador experimentará um trecho muito parecido com Streets of Rage, e em outros, sentirá que está jogando Sonic Wings. O combate, porém, permanece inalterado, com os mesmos comandos para todos os personagens. Nas lutas, o que muda é apenas a estratégia que deverá ser adotada para cada chefe de capítulo, mas nada além disso.
Como já foi citado por aqui, o título também está recheado de referências à cultura pop e nerd, algumas até escancaradas demais. Até a trilha sonora pode ser considerada uma homenagem, já que é bastante semelhante a outras composições de obras dos anos 1980, como “Blade Runner” e até “A Coisa” – no melhor estilo synthwave e rock ‘n roll, o que é uma delícia, mas apenas no começo, já que as músicas se tornam desgastantes.
Esse constante lembrete de que o jogo é ambientado nos anos 1980 e todas as citações à outras obras que ocorrem aqui e acolá, são jogados na cara do jogador a todo momento, o que pode tornar a experiência neste aspecto um tanto quanto cansativa. Todavia, quem gosta desse tipo de coisa vai amar cada segundo de Crossing Souls.
Na trama de Crossing Souls, você irá desvendar uma jornada incomum do grupo de garotos. Tudo começa quando Kevin encontra um artefato miraculoso que é capaz de romper o tecido da realidade, permitindo assim uma interação mais direta com aqueles que já partiram. A história parece simples a princípio, mas se desdobra com temáticas muito pouco exploradas em games que possuem protagonistas teens, tornando tudo bastante sombrio e complexo conforme se avança nos nove capítulos da aventura, o que deve tomar cerca de 10 horas.
A relíquia, afinal, pode transformar o mundo, e, obviamente, existem pessoas com interesses meticulosos sobre este poderoso objeto. Não vou comentar por aqui o que lhe aguarda, obviamente, para evitar estragar as surpresas, mas é muito interessante a forma como o game aborda o conceito da vida e da morte, de maneira séria e ao mesmo tempo descontraída.
O game ainda possui alguns bugs aqui e ali, mas no geral, a experiência foi extremamente positiva. Apesar dos problemas citados, o game possui qualidades que o tornam único e é uma experiência que vale a pena, ainda mais se você curte as temáticas abordadas. Crossing Souls foi desenvolvido pela Fourattic, distribuído pela Devolver Digital e está totalmente em português, 100% legendado em nosso idioma, mas não possui dublagem. É possível joga-lo no PlayStation 4, Vita e PC.
O jogo foi testado no PlayStation 4, em cópia cedida pela Devolver.