Dead Island pode ser considerada como uma série de verdadeiras surpresas e decepções. Após surgir pela primeira vez prometendo um sistema de desmembramentos mais realista – afinal, quem nunca quis destrinchar um zumbi? –, o game retornou com um dos melhores trailers já realizados para um jogo. Foi uma pena quando o jogo em si, e sua sequência, se provaram bastante repetitivos e cheios de problemas.
Apesar disso, os títulos apresentam bons resultados de vendas e são uma franquia interessante para a Deep Silver. Em vez de partir para um óbvio terceiro título, porém, a empresa decidiu mudar de ares e apostar em um novo gênero, o MOBA. E foi assim, em meio a olhares cínicos e surpresos quase que na mesma medida, que a empresa anunciou sua parceria com a desenvolvedora Stunlock Studios e a criação de Dead Island: Epidemic.
Gratuito e ainda sem data para ser lançado, o título exclusivo para PCs abre agora suas portas para um não tão seleto assim grupo de jogadores, que se inscreveram pelo Facebook. Nessa etapa Beta fechada, a ideia é não apenas testar a infraestrutura online e a aceitação dos modos de jogo, mas também mostrar ao mundo a ideia um pouco diferente de Epidemic, de forma a diferenciá-lo bastante do que normalmente é esperado do gênero.
Uma mistura que deu certo
Apesar de se intitular primordialmente como um MOBA, Dead Island: Epidemic mais se parece com uma grande salada. Assim como nos títulos principais da série, estão presentes aqui elementos de diversos gêneros, além de uma jogabilidade fundamentalmente diferente daquela vista em grandes bastiões do estilo, como League of Legends ou DotA 2.
Estão lá, por exemplo, o sistema de evolução de habilidades semelhante ao dos RPGs, lado a lado com a coleta de itens que é a tônica dos melhores games de aventura. Os cliques incessantes do mouse dão a tônica dos hack ‘n slashes, enquanto os inimigos que não param de atacar e a estratégia necessária entre todas as equipes envolvidas combinam ares de ação e dos MOBAs mais tradicionais.
E é assim, trazendo elementos de lá e de cá, que Dead Island: Epidemic se apresenta como um game para iniciantes no gênero – algo que chamou a atenção inclusive este que vos escreve, que nunca havia encostado em um jogo do tipo até agora. Os controles, por exemplo, deixam um pouco de lado as tradicionais hotkeys para confiar no bom e velho WASD, enquanto o mouse controla ataques e outras interações. Os atalhos do teclado estão presentes, claro, mas são usados para ações como trocar de arma e ativar habilidades especiais, em vez de ativarem comportamentos básicos do jogador.
Distanciando-se da tônica dos MOBAs tradicionais, também, Dead Island: Epidemic acaba deixando o combate entre jogadores em segundo plano. O grande foco aqui, apesar da ameaça humana ainda existir, é a obtenção de recursos ou a proteção de pontos-chave. Ou seja, a ideia é manter seus sobreviventes vivos e a vitória é concedida justamente a quem se sair melhor nessa tarefa. Matar os adversários ajuda, é claro, mas tais ações servem mais para dificultar a vida deles do que melhorar a própria.
É justamente por esse motivo que a Deep Silver chama Dead Island: Epidemic de um “MOBA para iniciantes”. Ao colocar os jogadores para lidar com o computador e não diretamente com outros jogadores, cria-se ares mais amigáveis para quem está começando. Mas não se engane: os apelões e viciadinhos já habitam esse mundo infectado e, mesmo durante os testes fechados, é melhor ficar de olho para não ser dilacerado por um humano mal intencionado.
O verdadeiro desafio, porém, está nos inimigos comuns, controlados pelo computador. Além dos zumbis convencionais, que aparecem em diferentes níveis e com alguns atributos diferentes, existem também os minibosses e chefes de fase, responsáveis por alguns dos momentos mais tensos das partidas.
Isso se deve não apenas à força e poder de destruição deles, mas também pelo fato de, em alguns modos, eles serem responsáveis pelo fim das rodadas e obtenção de vantagens especiais. Assim, na maioria das vezes, o combate assume facetas múltiplas: além de cuidar de si mesmo e de seus companheiros, o jogador deve ter atenção para atacar o inimigo e também os adversários humanos, que estão envolvidos com o mesmo objetivo.
Vale lembrar também os momentos em que um jogador fica lotado de recursos coletados e se torna mais lento, além de aparecer no mapa para todos os outros jogadores. É agora que, em vez de atacar, é hora de se defender a garantir que o usuário com os bolsos cheios chegue vivo até o final da partida. A jogabilidade, então, deixa de se focar nos inimigos e objetivos para voltar seu olhar ao próprio grupo e na forma como todos interagem entre si.
É aí, então, que a estratégia assume seu posto como característica fundamental da experiência. Assim como tem todo MOBA, é bom montar uma equipe de jogadores conhecidos e trabalhar na sinergia entre eles, de forma que habilidades e estilos de jogo diferentes possam se unir em prol da vitória comum.
Terreno conhecido
Os fãs dos primeiros jogos da franquia – eles existem? – também não são alienados por Dead Island: Epidemic. Apesar de investir em um gênero completamente novo, as empresas responsáveis pelo jogo fizeram questão de garantir que eles também se sintam em casa com o uso de uma série de artifícios.
O primeiro deles, percebido assim que se joga o prólogo do game, é a história. Em vez de tomar o caminho fácil e aproveitar o status de spin-off para deixar a história de lado, a Stunlock faz exatamente o contrário e, inclusive, contribui para expandir o universo da franquia e fazer com que as ações dos jogadores realmente façam sentido.
A trama se passa em uma terceira ilha também tomada pelos mortos-vivos. Aqui, porém, os zumbis não são os únicos infectados e o jogador descobre que o vírus também é capaz de conferir poderes especiais a um seleto grupo de imunes. É assim que o game justifica as habilidades especiais de seus personagens e também o sistema de progressão, já que eles vão ficando mais fortes à medida em que a infecção se expande.
Esses personagens, porém, não são nada sem um bom conjunto de armas. Utilizando recursos coletados ao longo das partidas, os jogadores podem criar os equipamentos insanos que são bem conhecidos da série. As opções vão desde simples pedaços de pau com lâminas na ponta até bastões de choque e uma espingarda serra-elétrica que trará lembranças boas aos fãs de Gears of War.
A última característica conhecida aparece nos cenários, que trazem de volta o visual paradisíaco dos títulos anteriores. Com diversas arenas fechadas e abertas dos mais diferentes tamanhos, Dead Island: Epidemic traz a velha conhecida mistura entre destruição e relaxamento, com areias sujas de sangue e hotéis de luxo transformados em verdadeiros açougues onde os mortos-vivos são os únicos habitantes.
A personalização de personagens também tem fator importante e é possível escolhe-los não apenas de acordo com o gosto do jogador, mas também combinando com o tipo de infecção possuída. Assim, dá para diferenciar facilmente os membros de uma equipe uns dos outros e criar um time que não apenas funciona bem em conjunto, mas que sairia muito bem em uma foto enquanto luta pela sobrevivência.
Problemas no paraíso
Nem tudo são flores. Dead Island: Epidemic apresenta uma série de problemas capaz de minar a experiência para alguns. É o caso, por exemplo, de um intenso lag que toma conta dos controles durante os momentos de batalha mais intenso, quando a tela é tomada por pelo menos uma dúzia de personagens e inimigos todos se movimentando e interagindo ao mesmo tempo.
Pequenos problemas nos controles também podem acabar levando o jogador a realizar certas ações contra a própria vontade. É o caso, por exemplo, da ativação de habilidades especiais. Se feita sem querer, só é possível voltar aos ataques convencionais do personagem após utilizá-las ou, então, escolher o segundo ataque extra. Nada de muito complicado aqui, mas para quem gosta de economizar recursos ou guarda-los para o momento certo, pode constituir um problema.
Além disso, as filas de espera para encontrar uma partida são bem grandes e, muitas vezes, é preciso passar alguns minutos aguardando até que o jogo encontre um jogo adequado. Isso, provavelmente, se deve ao estado Closed Beta do game, que conta com poucos jogadores online e, sendo assim, precisa se desdobrar para dar conta de todo mundo.
O mesmo vale para todo o conjunto de problemas. A fase de testes fechados é justamente aquela onde erros e problemas podem (e devem) acontecer, para que sejam resolvidos antes do lançamento da versão final do jogo. Por isso, caso se sinta a vontade, não deixe de relatar os problemas encontrados para a Deep Silver. Se curtir o título, você estará contribuindo para que ele chegue à versão final da melhor maneira possível.
Primeiro passo (talvez não)
No final das contas, Dead Island: Epidemic provavelmente não será o jogo que te fará entrar de cabeça no mundo dos MOBAs. Mas, sem dúvida nenhuma, será um título que te dará pelo menos algumas horas de diversão enquanto todas as opções são exploradas e os modos de jogo conhecidos. A ação frenética e a jogabilidade simples, que reúne aspectos de diversos jogos, tornam tudo bastante curioso, para dizer o mínimo.
Mas o maior mérito de Epidemic, talvez, é apresentar uma experiência mais gratificante que seus irmãos maiores. Enquanto os títulos principais de Dead Island patinam na repetição e nos poucos atrativos, o MOBA que surgiu deles, pelo menos em seu Closed Beta, mostra que tem potencial para se tornar o melhor jogo da franquia. Não que esse seja um ideal muito difícil de se alcançar.