Uma (digi)evolução necessária

Desde 2014 a Bandai vem comemorando o aniversário de 15 anos de Digimon, com lançamentos que vão de jogos mobile até um novo anime com o os personagens do primeiro desenho. Digimon Story: Cyber Sleuth é um dos melhores produtos dessa leva comemorativa, com um sistema viciante de coleta e evolução de personagens e uma história instigante, ainda que um pouco arrastada no início.

Detetive virtual

Digimon Story: Cyber Sleuth é o melhor jogo da franquia trazido para o Ocidente em muito tempo, mesmo com os tropeços de sua história e cenários não tão inventivos.

A série Digimon tem o costume de criar histórias contidas, sem relação com outras (as exceções são a saga Adventure dos desenhos e os jogos Re: Digitize). Isso torna a franquia acessível para qualquer um, sem a necessidade de anos de lore. No caso de Cyber Sleuth, o enredo se passa em uma Tóquio alternativa, onde grande parte da população é adepta ao EDEN, um programa de realidade virtual semelhante ao que vemos em obras de ficção científica como “Tron” e “Jogador Número Um”.

Seu personagem (o jogador pode escolher seu nome e gênero) é um adolescente que se vê envolvido numa conspiração onde os limites do virtual e real se misturam, e os Digimons, usados como armas por hackers, invadem as ruas da cidade. Cabe a você e seu grupo de amigos e aliados investigar e descobrir quem, ou o que, está por trás disso tudo. Essa premissa inicial é bem simples, mas não o suficiente para fazê-lo sentir-se tão investido em seguir logo com a história. Durante vários dias eu ignorava a campanha principal para treinar e evoluir minha equipe.

A história em si começa muito arrastada, perdendo tempo com missões que não levam a lugar nenhum, ou focando em personagens que não contribuem para o andamento da trama. Isso não quer dizer que o enredo não tem seus momentos emocionantes, pois a partir do décimo capítulo, as coisas começam a tomar um rumos interessantes, com viradas inesperadas. Também seria injusto ignorar os bons arcos de alguns personagens construídos ao longo do jogo, como Nokia, a melhor amiga do protagonista. Ela começa como uma garota mimada e com extrema aversão aos Digimons, mas que ao longo do game, amadurece e reconhece o valor dos monstrinhos, tornando-se mais independente e carismática. Uma cena em específico onde ela se põe a frente de seus companheiros é algo digno dos melhores episódios da série animada.

Juntos combatendo o mal

Muito semelhante ao que foi visto no recente Adventure para PSP, o combate é puro RPG de turnos, dando ao jogador todo o tempo do mundo para decidir seus próximos movimentos, algo muito necessário para as lutas finais do jogo. Podendo combater com uma equipe de até três Digimons, o ideal é formular um time variado que cubra as fraquezas uns dos outros. Dependendo do tipo dele (Vacina, Vírus ou Dado) e do seu elemento (Fogo, Água, Rocha), os ataques podem ser triplicados ou cortados pela metade.

Outro detalhe está no perfil de cada Digimon que você quer ter em sua equipe – alguns são mais desenvolvidos para causar o máximo de dano nos adversários, outros têm uma gama de habilidades especiais para curar seus aliados, e, finalmente, existem aqueles capazes de alterar a ordem de quem será o próximo a atacar na partida a seu favor, seja aumentando a agilidade dos aliados ou diminuindo a dos inimigos.

Para os fãs, o jogo engloba praticamente todos os Digimons dos três primeiros desenhos, e alguns de Data Squad, isso incluindo todas as evoluções especiais de armaduras e fusões. Como uma forma de incentivar o jogador a experimentar, cada criatura tem uma linha evolutiva que se expande em várias possibilidades, como um Koromon que pode se tornar um Agumon ou Guimon, e este último por sua vez pode tornar-se um Greymon ou um Growlmon.

Obviamente, essas evoluções não vêm sem um pouco de esforço prévio. Todas acompanham atributos específicos a serem atingidos, na maioria dos casos adquiridos naturalmente apenas lutando com sua equipe. Então, se você gosta de grinding, se sentirá em casa levando seus Digimons para treinar.

O sistema de combate e evolução de Digimon Story: Cyber Sleuth é profundo e viciante, e o jogador pode perder diversas horas apenas montando sua equipe dos sonhos.

Por falar em grinding, o jogo inseriu uma mecânica de “scan” de Digimons que torna essa tarefa bem menos maçante. Todo adversário tem uma porcentagem de escaneamento, que aumenta a cada novo encontro. Com uma taxa de 100%, é possível recrutar o bichinho para sua fazenda. Isso dá um novo propósito para lutar repetidamente com sua equipe em um cenário, além de simplesmente aumentar o nível deles.

Cyber Sleuth consegue fazer algo que imaginava impossível na franquia, que é fazer o mundo real ser mais interessante que o virtual. Durante o jogo, você irá intercalar sua jornada andando em bairros e edifícios de Tóquio e em vários confins de EDEN.

Enquanto os cenários do Japão contam com referências de locais de verdade para fazerem se destacar um do outro, inúmeras áreas dentro da realidade virtual parecem meras cópias de um mesmo cenário. Tudo é composto de blocos azuis brilhantes que são tão parecidos um com outro que perder-se não é uma tarefa difícil. Não apenas isso, mas para um programa virtual tão popular, EDEN parece ser vazio de vida, com apenas em algumas áreas sociais você pode encontrar algum tipo de movimentação de NPCs dentro do jogo.

Com uma história que demora para pegar no tranco, e alguns cenários não tão imaginativos, Digimon Story: Cyber Sleuth é o melhor jogo da franquia trazido para o Ocidente em muito tempo. Seu sistema de combate e evolução é profundo e viciante, podendo perder diversas horas apenas montando sua equipe dos sonhos. Agora com licença, minha equipe do Digimon Tamers não irá se montar sozinha.

O jogo foi testado em um Playstation 4, em cópia cedida pela Bandai Namco.