O anúncio de Resident Evil 7, na E3 deste ano, continua causando comoção. Foi uma surpresa, apesar de boatos indicarem sua vinda, e também uma boa notícia, principalmente para quem, como eu, é fã de longa data da série: o horror está de volta.
Sobre isso, até cabe a discussão de sempre, sobre mudanças, alterações e influências (que podem até serem abordadas em outro artigo por aqui), mas uma coisa é indiscutível. Nós estamos prestes a ficarmos assustados novamente por um jogo da saga da Capcom, como há muito não acontecia.
Por coincidência, outro terror antigo também está retornando – “A Bruxa de Blair”, com um novo filme anunciado durante a San Diego Comic-Con 2016 – na verdade, revelado, pois ele já era conhecido desde o começo do ano, mas com o título “The Woods”. Também por um acaso, ambos estes horrores convergiram em Begining Hour, a demo jogável lançada horas depois do anúncio de Resident Evil 7 na conferência da Sony. A referencia é imediata, e quem assistiu ao longa de 1999, sabe muito bem do que estou falando.
No filme, um dos precursores do estilo “mockumentary” (no qual as cenas são disfarçadas como imagens reais e apresentadas como em um documentário), um grupo de jovens estudantes de cinema segue para a floresta atrás da verdade sobre a lenda da Bruxa de Blair, que assombraria uma floresta na proximidade da cidade de Burkittsville.
São diversos os relatos que levam a equipe a acampar na mata em busca da verdade, registrando tudo o que acontece com câmeras e microfones. As histórias vão desde homens mortos em rituais satânicos até um assassino de sete crianças, que ao se entregar para a polícia, afirmava que a Bruxa o havia ordenado a fazer tudo aquilo. Só assim, dizia ele, ela o deixaria em paz. E é claro que o terror logo se instala também entre os protagonistas.
É um estilo como o que vemos em “Sewer Gators”, o programa gravado em uma fita na casa macabra de Begining Hour. Temos, inclusive, o mesmo estilo de apresentação – a tentativa de gravação de um documentário que não existe de verdade, e cujas imagens, agora, aparecem como um registro macabro do destino de um grupo de pessoas.
Em Resident Evil 7, a fita serve para mostrar ao jogador os horrores do local onde ele está. E em “A Bruxa de Blair”, aparece como as últimas imagens de um grupo de jovens que desapareceram na floresta, e ilustra o que aconteceu com eles. A máquina de marketing funcionou com primor aqui, com direito a um documentário sobre a lenda e os desaparecimentos. A ideia era de que as cenas vistas na telona eram todas reais, apenas editadas para fazerem sentido como um filme.
Se essa farsa, hoje, parece impossível de colar, é importante lembrar que estamos falando de uma época em que a internet ainda era incipiente, com nada perto do alcance de hoje em dia. Era um tempo em que muita gente ainda não estava conectada, assistir a vídeos online era um parto e o compartilhamento de informações, extremamente restrito.
Muitas vezes, não se sabia que um longa efetivamente ia estrear até que ele, efetivamente, chegasse às salas. Informações sobre produções, trailers e notícias ainda eram passadas, majoritariamente, pela televisão ou revistas especializadas. A história macabra caiu como uma luva nesse cenário. O resultado foi o que, até hoje, é considerado um dos filmes independentes mais bem sucedidos de todos os tempos, com quase US$ 250 milhões em bilheteria.
Aqui, inclusive, vale uma historinha. Eu fui um destes que realmente acreditou que as imagens de “A Bruxa de Blair” eram reais, e fiquei embasbacado com a ideia de assistir às últimas imagens de um grupo de pessoas, e sobre o horror de termos isso transformado em um filme. A presença de atores desconhecidos e as imagens propositalmente de baixa qualidade ajudaram muito nisso, e o final do longa me deixou bastante impressionado.
Isso durou por algumas semanas, acredito eu, até a cerimônia do MTV Movie Awards daquele ano, na qual “o elenco de ‘A Bruxa de Blair’” foi chamado ao palco. Minha cabeça explodiu, até efetivamente descobrir a farsa. O impacto, entretanto, já estava feito.
Não temos aqui um filme que envelheceu tão bem, e o conhecimento de que absolutamente tudo ali é falso (ao contrário de mockumentaries mais recentes como “Borat”, por exemplo) torna o filme, nos dias de hoje, menos impactante do que na época. Ainda assim, trata-se de uma boa escolha para quem quer assistir a um clássico e tomar alguns sustinhos, quem sabe.
https://www.youtube.com/watch?v=IHZ_WyVCSCc
Ignore todas as sequências e assista apenas ao original, que traz os ainda desconhecidos Heather Donahue, Joshua Leonard e Michael Williams no elenco, sob a direção e produção de Eduardo Sánchez e Daniel Myrick. Por um tempo, o longa fazia parte do catálogo do Netflix, mas infelizmente, não está disponível. O novo capítulo tem lançamento marcado para o ano que vem e vai contar a história do irmão da protagonista original, que parte em sua procura.