Doom VFR

por Leonardo Afonso

Vá para o inferno! É mó legal

Na crescente lista de games para as plataformas VR, se nota que a maioria esmagadora são jogos feitos por produtoras menores ou independentes. Por isso, é sempre animador quando vemos empresas de renome mostrando interesse na tecnologia, como foi o caso da Capcom, com Resident Evil 7. Imaginem o quão empolgado fiquei quando, na E3 deste ano, a Bethesda abriu sua conferencia mostrando trailers de Fallout 4 e Doom em realidade virtual, e, mais tarde, na conferencia da Sony, anunciou The Elder Scrolls V: Skyrim VR.

Mas cá estamos para falar de Doom VFR, isso mesmo, com um “F”, que quem é fã da serie sabe muito bem o significado. Lançado no primeiro dia de dezembro de 2017, o jogo conta a história de Dr. Peters, o último sobrevivente da invasão demoníaca às instalações de pesquisa da UAC em Marte. Na condição de humano, cabe a você fazer o que qualquer outro faria numa situação dessas: ser dilacerado pelo primeiro demônio que cruzar seu caminho.

Doom VFR

A partir daí, um protocolo secreto de contingência operacional da UAC é ativado e sua consciência é transferida para uma matriz cerebral artificial, o que permite controlar veículos e corpos cibernéticos, na missão de evitar uma catástrofe maior, como se uma invasão demoníaca já não fosse o bastante.

Mas que inferno!

Agora que sabemos o plot de Doom VFR, vamos para sua jogabilidade. É aqui que podemos apurar o esmero com que a Bethesda vem se dedicando aos seus títulos em realidade virtual. É notória a questão do Motion Sickness, aquele enjoo que algumas pessoas sentem ao jogar games em VR, e pensando nisso, as produtoras optam por controles que visam reduzir esse efeito, fazendo com que os movimentos contínuos tenham suas animações cortadas.

Doom VFR

Por exemplo, uma virada em 180 graus passa a ser apenas um piscar, pois é essa sensação de se mover, mas estando parado, que causa a confusão em nosso cérebro e o mal estar. Por outro lado, sabendo que esse mal aflige pessoas em intensidades diferentes, e nem existe em alguns casos, a Bethesda oferece diferentes formas de jogar, unindo também todas as possibilidade de controle com o PlayStation VR.

Temos, por exemplo, a movimentação por teletransporte, pela qual miramos para onde queremos nos dirigir e, com um sinal verde confirmando, basta soltar o gatilho para sermos levados para lá. Ou, então, o Full Locomotion, onde a coisa funciona como nos jogos comuns, com toda a liberdade de movimento para qualquer direção. Dentro dessas possibilidades, você ainda pode selecionar a forma como seu personagem vai rotacionar, de forma suave ou girando uma determinada quantidade de graus por vez.

Por último, temos também várias opções como o DualShock 4, que torna a coisa similar aos jogos comuns, com a mira feita pela cabeça (então não se esqueça do alongamento); o Move, com cada controle representando uma das mãos do personagem – por um lado, a imersão é aprimorada, mas a movimentação limita-se ao teletransporte e o giro cadenciado; ou o Air Controller, que no formato de arma, permite a união das duas opções anteriores, além de ser possível mirar como uma metralhadora real.

Na minha opinião, a última é a forma mais divertida de se jogar Doom VFR. Com os joysticks de movimento, ainda, existem os empecilhos de movimentação, o que levou à criação de uma petição para implementação de sticks analogicos no PS Move, uma ideia que, pessoalmente, acho fantástica.

Mais do que uma opção de controle…

O sistema de movimentação por teletransporte não é somente um subterfúgio visando a questão do motion sickness, ele se integra muito bem ao já dinâmico gameplay de Doom. A opção agrega muito na estratégia para derrotar as hordas de demônios. O personagem é frequentemente encurralado pelos inimigos, e agora, ficou mais fácil sair do aperto, alem de o estilo favorecer o ataque pelas costas.

Além disso, a Bethesda acrescentou à verticalidade dos ambientes, dando um ar de plataforma a alguns seguimentos, e, por fim, facilitou a coleta de itens e as Glory Kills, que, infelizmente, perderam as violentíssimas animações, e já não são tão gloriosas, mais ainda a principal fonte de recursos.

Doom VFR

Outro fator importante para a jogabilidade é que quando pressionamos o gatilho para ativar o teletransporte, o tempo é distorcido, ficando a ação do jogo em câmera lenta. Dessa maneira, podemos traçar melhores estratégias e posicionamentos, além de prever a trajetória e desviar de projeteis, um atributo que pode ser melhorado quando encontramos pontos de upgrade nos estágios.

E os gráficos?!

Essa é uma discussão que ainda paira entre nós. Já sabemos que as resoluções são inferiores, afinal, o hardware tem que processar duas imagens simultâneas, mantê-las constantemente em 60 fps, alem de todo o rastreamento e bla bla bla… Se você APENAS assistir a um gameplay, você vai, APENAS, ver um jogo bonito por sua direção de arte, mas é na hora que você veste o óculos e encara os demônios de perto que se nota as texturas, os detalhes do ambientes, tudo rodando de forma muito competente.

É o velho clichê de “gráfico x diversão”? É, mas cada um sabe o que lhe agrada mais. Para os padrões VR, temos um dos visuais mais belos até o momento.

Mas já acabou?!

É isso que você vai se perguntar depois de mais ou menos quatro horas. Os outros títulos, como Skyrim e Fallout 4, receberam conversões diretas, enquanto Doom ganhou uma história paralela, o que acabou resultando em uma campanha curta. Para estender um pouco mais a vida do game, existem os níveis de dificuldade e os segredos escondidos pelas fases.

Agora, o mais legal é que alguns destes extras são nada mais, nada menos, que mapas clássicos, reproduções fidedignas de fases icônicas da série, completos com a aparência antiga, chaves, switchs e passagens secretas. Infelizmente, os inimigos e armas têm o visual atual, mas seria muito legal se tivessem skins clássicas. Outra coisa que certamente agregaria valor e mais horas de jogo seria um modo multiplayer, uma vez que Doom foi o precursor das jogatinas em rede. Um Deathmath seria uma adição bem interessante, mesmo que básica, apenas para honrar sua história.

Doom VFR é, sem dúvida, uma grande adição à biblioteca do PlayStation VR. Diferente de outros jogos que tentam trazer algo novo, diferente, ele acerta em simplesmente trazer para o mundo da realidade virtual o que já era bom em 1993, atualizado de forma magistral em 2016. A Bethesda parece ter acertado a forma de abordar a tecnologia em suas propriedades, com isso, é fácil esperar que títulos como Wolfenstein e Dishonored também deem o ar da graça nesse mundo.

O jogo foi testado no PlayStation 4.