De um lado, temos um cenário de jogos de luta que tem evoluído e conquistado novos adeptos ano a ano, com vários campeonatos surgindo e ganhando relevância mundo afora. Do outro, está uma das franquias de mangá e anime mais famosas e rentáveis da história, com seus mais de 30 anos de eventos, personagens, lugares e acontecimentos que fizeram – e ainda fazem – parte da vida de ao menos três gerações de fãs.
Juntos, esses dois elementos são trabalhados magistralmente sob a tutela de uma desenvolvedora bastante respeitada, com a acertada visão de que “o futuro é agora”, nos presenteando com um jogo de luta para profissionais e novatos, mas, principalmente, para nós, fãs. Bem-vindos a Dragon Ball FighterZ!
Clones dos mais fortes guerreiros do mundo surgem, causando caos e destruição, ao mesmo que Goku, Vegeta, Piccolo e os demais sentem seus poderes e habilidades de combate sendo drenadas e diminuídas ao ponto da exaustão.
Dragon Ball FighterZ é a obra máxima da série, com gráficos que representam com perfeição a animação e uma jogabilidade fácil e, ao mesmo tempo, desafiadora.
Quando o protagonista desperta, aparentemente sem memória, no quintal da casa de Bulma, surge alegando estar à procura dele o Android 16, morto no passado pelo vilão Cell. Ele diz que precisa averiguar se o lutador tem capacidade de enfrentar o poderoso inimigo que se aproxima, e com isso, o desafia para uma luta naquele exato momento.
Esta é uma breve descrição da introdução, bem como do tutorial que abre o modo história do game. Na sequência, vemos algumas interações dos personagens entre si e com o próprio jogador, que se faz presente dentro da trama de forma interessante, quebrando a “quarta parede”. Infelizmente, isso não se sustenta ao longo da trama.
O modo campanha se desenrola em um tabuleiro, em que cada casa representa um inimigo. Em algumas, devemos resgatar aliados enfrentando clones dos personagens, enquanto, em outras, enfrentamos batalhas que servem para avançar a trama. Ao derrotar os oponentes, o jogador ganha pontos de experiencia e atributos que podem ser equipados, dando certas vantagens durante as lutas, como, por exemplo, melhorias de vida, força ou magia.
Se a descrição parece pouco interessante, na prática a coisa só piora. Deslocar-se entre as casas do tabuleiro faz diminuir um contador de movimentos, enquanto sair vitorioso de cada batalha faz esse número aumentar. Chegar a zero, porém, causa game over, um conceito que nunca chega a ser um problema já que a quantidade de lutas repetidas é enorme. Depois de enfrentar os mesmos personagens mais de 20 vezes, tudo perde a graça.
A trama se passa depois dos eventos da série Dragon Ball Z e também considera alguns eventos do inicio de Super. Alguns personagens e vilões que nunca se encontraram por já estarem fora da série (mortos ou não), aqui, passam a interagir, o que proporciona diálogos bastante curiosos e hilários, principalmente para aqueles que acompanham a saga desde sempre.
Um ponto negativo ficou por conta das legendas em português. No passado, a Bandai Namco já falhou nesse aspecto ao lançar localizações para jogos da série Naruto com abreviações do tipo “vc”, “pq” ou “tbm”. Aqui, não sei se de forma proposital ou por falta de revisão, palavras como “miguxo” ou frases como “muita areia para o seu caminhãozinho” são bem comuns, ditas por personagens como Piccolo ou Tenshinhan, destoando em muito do material original e da personalidade deles.
Não é de hoje que jogos, principalmente os baseados em animes ou algum outro estilo de animação, fazem bom uso da tecnologia de renderização conhecida como cel shading para simular o visual 2D das animações em um ambiente 3D. Entre exemplos bem conhecidos estão os jogos da série The Legend of Zelda, como The Wind Waker e Breath of the Wild. Desde Jet Set Radio, no finado Dreamcast, passando por Okami, Fear Effect e Sly Cooper, até os visuais impressionantes dos mais recentes títulos da franquia Naruto Ultimate Ninja Storm.
Durante a GDC 2015, a produtora promoveu um excelente painel explicando como uma técnica relativamente antiga pode ser trabalhada com as ferramentas atuais, por profissionais visionários, afim de recriar artisticamente as impressões que somente animações 2D são capazes de transmitir. O resultado já foi assombroso na época, mas, em Dragon Ball FighterZ, representa o anime em sua mais perfeita reprodução, completamente interativo.
O vídeo acima exemplifica bem o nível de cuidado aos detalhes e referências que podem ser encontrados nos movimentos de cada um dos 24 personagens disponíveis. Pequenas mudanças também ocorrem no comportamento e atitude deles, dependendo da situação em que se encontram na luta.
Por exemplo, no ataque especial da Android 18, seu irmão, Android 17, se junta a ela para realizar um grande golpe devastador. Porém, se Kuririn estiver no seu time (que é composto por três guerreiros), é ele quem assume o lugar durante o especial, devido ao fato de serem casados.
Outro fator recorrente na maioria dos games da franquia Dragon Ball é a possibilidade de reproduzir momentos icônicos do mangá e anime, e com isso, conseguir ativar segredos e easter eggs. Aqui, isso aparece na forma de cenas animadas que surgem ao se derrotar um inimigo, os chamadas “Dramatic Finishes”
As lutas se dão em um único round entre dois times de três personagens cada, que podem ser alternados durante os combates. De início, soam como batalhas rápidas e sem nenhuma estratégia, mas, depois de algumas partidas, é possível assimilar o básico dos comandos, o que torna as lutas principalmente, nos modos contra outro jogador, muito mais dinâmicas, interessantes e duradouras.
Um ponto negativo fica por conta das legendas em português, com expressões que destoam muito do material original e da personalidade de alguns protagonistas.
Combos são facilmente executados ao se pressionar uma sequência de ataques fracos, assim como uma de golpes médios, que terminam em um especial automático e visualmente empolgante, mas que têm de provocarem dano consideravelmente menor do que os mais complexos, com sequências de golpes alternados, seguidos de especiais que podem custar mais da metade da barra de vida de um personagem.
Destes, existem dois tipos – os que consomem uma barra de Ki (que podem ser estocadas em até sete) e os que gastam três, sendo, claro, muito mais poderosos e cinematográficos. Alguns podem causar até mesmo a destruição completa do cenário, tudo muito bem animado para imitar com perfeição as cenas e movimentos do anime.
Ainda, é possível combinar os ataques especiais em sequência com auxíilio dos demais membros do time. Essa máxima é básica para todos os personagens, permitindo que se possa jogar rapidamente com qualquer um deles sem grandes dificuldades.
O “menu” onde acessamos os vários modos de jogo como Arcade, Versus (local e online), Treino e Campanha é representado em um pequeno mundo aberto, com reproduções de cenários icônicos, onde encarnamos um avatar em SD de algum personagem à nossa escolha. Novos bonecos e cores alternativas podem ser comprados na loja, em um sistema de loot boxes.
Porém, ao contrário das recentes polêmicas envolvendo essa dinâmica, aqui usamos somente a moeda corrente do jogo e não dinheiro real, o que torna a busca por novos personagens e a exploração de possibilidades de interação dentro das lutas muito mais satisfatória e menos frustrante.
Com gráficos em 3D que representam com perfeição a animação 2D, com até a taxa de quadros sendo reduzida propositalmente de 60 FPS para 30, uma jogabilidade fácil para se divertir e desafiadora o suficiente para atrair jogadores profissionais do mundo dos jogos de luta, Dragon Ball FighterZ é a obra máxima da série.
DLCs são previstos para os próximos meses, com oito novos lutadores e também a trilha sonora original, corrigindo o que, para mim, é um dos poucos defeitos do game. O universo de Dragon Ball é tão vasto que é bem possível que mais adicionais surjam nos próximos anos, seja com personagens ou até mesmo novas sagas para o modo história (que deixa a desejar).
Mesmo com seus defeitos, Dragon Ball FighterZ se torna mais do que recomendado para todos os amantes de jogos de luta. Para os fás da série, então, é um game imperdível.
O game foi analisado no PS4, em cópia cedida pela Bandai Namco.