Com todos os seus problemas e polêmicas, era óbvio que Mighty No. 9 traria um efeito muito danoso à imagem dos jogos financiados via Kickstarter. Se um dos projetos mais lucrativos de financiamento colaborativo saiu como saiu, é natural que todo que outras propostas semelhantes também passem a ser vistas com desconfiança. No entanto, pelo menos no caso de Bloodstained: A Ritual of the Night, essa não é uma preocupação.

Como um sucessor espiritual de Castlevania, o game mantém todo o espírito da série original e, acima de tudo, sua qualidade. É claro que ainda é muito cedo para dizer qualquer coisa mais aprofundada sobre o jogo como um todo, mas o pouco que foi mostrado durante a E3 2016 indica que, neste caso, os fãs têm razões de sobra para comemorar.

Presença familiar

Embora esteja sendo produzido pela mesma Inti Creates que nos trouxe Mighty No. 9, a qualidade de Bloodstained é aparente. A demo traz algo muito próximo daquilo que nos foi mostrado nas artes conceituais do projeto e descarta a possibilidade de termos sido enganados nesse aspecto. Tudo é muito bonito, detalhado e colorido — mas sem abrir mão do clima sombrio que percorre a temática.

Mais do que isso, a equipe de Koji Igarashi se preocupou em manter o mesmo estilo que foi eternizada anos atrás em Castlevania. O level design segue a mesma lógica dos castelos de Drácula, por mais que estejamos no meio de um navio abandonado. Os monstros também lembram muito aqueles que já cruzaram o caminho da família Belmont, embora tragam uma identidade bastante própria. Até mesmo a heroína Miriam lembra muito os protagonistas do passado, seja no seu estilo quanto em seja própria movimentação e ataques.

Isso tudo faz com que Bloodstained: Ritual of the Night seja aquela novidade com um gostinho bastante familiar. E isso está longe de ser um problema, já que é a assinatura de Koji Igarashi que todo mundo queria e que motivou mais de 64,8 mil pessoas a apoiarem o projeto, fazendo com que ele arrecadasse seus US$ 5,55 milhões.

Identidade própria

Porém, mesmo com tudo isso, o jogo não se resume apenas a uma emulação de Castlevania e conta com sua própria identidade — e a ambientação é um desses pontos.

Bloodstained: Ritual of the Night

É claro que o clima sombrio é praticamente o mesmo, mas o simples fato de levar o jogador para outros cenários e de explorar essa estrutura Metroidvania em outros ambientes já faz com que Bloodstained seja algo diferente. O estilo é bastante versátil e aqui vemos como é possível fazer experimentações para levar essa pegada mística para outras frentes além de vampiros e lobisomens.

Sabemos que esses elementos vão estar presentes no jogo completo, mas foi uma sacada muito inteligente da Inti Creates trazer algo de novo nessa demonstração, criando uma ótima primeira impressão.

Direto à ação

Na jogabilidade, porém, não há como evitar as comparações — e isso é ótimo.  Bloodstained: A Ritual of the Night traz tudo aquilo que há de melhor em Castlevania, incluindo seus detalhes. Do sistema de progressão e habilidades à possibilidade de destruir o cenário para coletar moedas, itens e alguns outros segredos, tudo está ali.

Bloodstained: Ritual of the Night

Tanto que toda a exploração é bastante familiar. Caminhos secretos se escondem atrás de paredes e outros só podem ser acessados após conquistar determinada habilidade, trazendo de volta o bom e velho backtracking dos Metroidvanias da vida. Por isso, mais do que apenas avançar e derrotar inimigos, ficar de olho no mapa é fundamental por aqui.

Esse level design clássico é um dos grandes charmes do game, pois força o jogador a se habituar ao ambiente e a reconhecer possibilidades e soluções. E o mais importante é que esse desenho do cenário não é feito de maneira preguiçosa, trazendo vários elementos e ferramentas que ajudam a direcionar o jogador pelo caminho certo sem ser didático demais. No nosso caso, quando a coisa apertou um pouco, tínhamos a sorte de ter o próprio Igarashi ao nosso lado para mostrar para onde ir.

Por outro lado, o sistema de combate ainda precisa de alguns ajustes, principalmente por conta do tempo de resposta da personagem. Durante a demonstração, havia um pequeno atraso nos comandos que ficava evidente durante os confrontos. Era como a heroína Miriam tivesse uma dificuldade enorme em executar os golpes, o que era sempre um incômodo.

Bloodstained: Ritual of the Night

Outro ponto é a própria física do jogo. Os saltos da protagonista são lentos e arrastados, quase como se a gravidade fosse diferente, o que atrapalha na hora de alcançar uma plataforma ou mesmo de atacar um inimigo no ar. Combinada com a lentidão nos controles, essa investida aérea se revela bastante problemática.

O terror dos mares

Ainda assim, nada disso compromete o jogo. Tanto que foi possível avançar e completar a demonstração sem grandes dificuldades, incluindo a batalha com o chefe da área. Um gigantesco monstro em forma de mulher logo surge, com tentáculos à mostra e uma enorme bocarra em sua barriga prontos para derrubar Miriam — e é aí que você precisa pôr à prova todas as mecânicas apresentadas até aqui.

Bloodstained: Ritual of the Night

Logo de início, o que chama a atenção é o design da criatura. Igarashi sempre trouxe uma estranha sexualização aos seus monstros e aqui isso fica bastante evidente, ainda mais quando é preciso acertar os seios da criatura para lhe causar dano. Não chega a ser nada agressivo, mas continua questionável e, no mínimo, curioso.

Deixado esse detalhe de lado, vemos como Bloodstained consegue fazer com que a ação seja um ponto muito interessante de sua jogabilidade, mas sem cair no erro de tornar tudo frenético. A combinação de ataques (mesmo com o problema da lentidão) com o sistema de habilidades funciona muito bem como força ofensiva ao mesmo tempo em que os golpes do monstro forçam o jogador a estar sempre atento aos seus padrões para saber a hora de atacar e de sair de perto. É uma lógica simples, mas que ainda segue bastante funcional.

Bloodstained: Ritual of the Night

Findado o combate, a demo logo chega ao fim e deixa aquela sensação de que você poderia seguir naquele ritmo por mais algumas horas. Mesmo não sendo nada inovador, ele se revela um game muito competente e fiel àquilo que se propôs desde o início. A sequência espiritual de Castlevania traz tudo aquilo que os fãs da famosa franquia esperavam ver e pontua com elementos próprios para mostrar que ainda é algo novo e diferente.

E, o mais importante de tudo, Bloodstained: A Ritual of the Night deixa claro que tudo aquilo que foi proposto em sua campanha está sendo cumprido. Do visual às mecânicas, Koji Igarashi está aplicando muito bem o seu dinheiro.

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