Quando joguei For Honor pela primeira vez, na E3 2015, ele já parecia algo interessante, mas pouco apelativo. Era uma mistura de Dark Souls com algum musou da Tecmo Koei totalmente focado no multiplayer. Ele chamava a atenção exatamente pelo seu sistema de combate focado na observação e nos detalhes, mas pecava em entregar algo realmente divertido.
No entanto, o game evoluiu muito durante esse último ano. A Ubisoft parece ter se empolgado com a boa recepção e viu o potencial existente naquela nova franquia, ampliando o conceito para algo maior do que um Dynasty Warrior melhorado. E se ele já parecia promissor antes, essa nova abordagem o deixou ainda mais interessante.
O principal ponto de mudança está no modo campanha, que finalmente vem para explicar por que diabos vikings, cavaleiros e samurais estão se enfrentando. Até então, a impressão que tínhamos era de que For Honor nada mais era do que um jogo nascido em uma mesa de bar enquanto pessoas imaginavam confrontos improváveis, mas agora há uma justificativa por trás disso tudo e, mais do que isso, um reflexo desse contexto na jogabilidade.
Entendendo cada guerreiro
Ainda que as mecânicas sejam exatamente as mesmas da demonstração de 2015, a versão apresentada na E3 deste ano deu ordem ao caos de For Honor. Não se trata mais apenas de ação desenfreada, mas de algo muito mais lógico e com um propósito. E isso muda toda a dinâmica da coisa.
A começar pelo próprio sistema de combate. Embora pareça ser um enorme esmagar de botões, For Honor é muito tático e valoriza a percepção e os bons reflexos do jogador. Ao entrar em um confronto, é preciso levantar a guarda e usar o analógico direito para posicionar sua arma de modo a barrar o movimento inimigo. A ideia é que o oponente não tenha por onde alcançá-lo e, ao mesmo tempo, fazer com que você encontre brechas na defesa inimiga. É algo que exige raciocínio rápido e uma boa leitura de comportamento.
Ao dominar esse complexo sistema, você passa a entender as particularidades de cada guerreiro. A Ubisoft conseguiu fazer com que cada tipo de personagem tivesse características bem distintas, seja no tipo de ataque ou nos demais movimentos envolvidos. Um cavaleiro, por exemplo, não só tem um alcance muito maior que um viking como ainda consegue usar o peso de sua armadura para quebrar defesas e iniciar uma nova sequência de golpes. Já os guerreiros nórdicos, por sua vez, são muito mais brutais e violentos.
Essa nova camada já difere o game bastante daquilo que foi mostrado no ano passado. For Honor evoluiu e se tornou muito mais variado — e tem tudo para ficar ainda maior até seu lançamento. Embora não confirme nada, a Ubisoft deu sinais de que teremos mais variações de guerreiros entre as três etnias disponíveis, o que também deve influenciar a jogabilidade como um todo.
Ainda assim, os quase 40 minutos de lutas de que participamos foram o suficiente para mostrar como o game consegue se sustentar muito bem. Controlando cavaleiros e vikings, foi possível perceber o quão diferente eles são entre si e até experimentar algumas de suas habilidades exclusivas. Dominar o sistema de combate é um pouco demorado, mas a curva de aprendizagem é bem boa e permite que você se acostume aos controles antes de entrar no sistema de combos. Seja contra inimigos menores e que, aos poucos, vão se tornando mais complicados, o jogo oferece oportunidades para que você experimente combinações e aprenda o que cada classe tem de único.
Cada um com sua razão
A história de For Honor ainda é um mistério. O último trailer mostrou que uma espécie de deusa vai colocar esses três povos para se enfrentar, mas não há qualquer explicação além dessa até o momento. Ainda assim, o pouco que foi apresentado nos permitiu ver como cada personagem tem sua própria motivação para entrar nessa guerra, ainda que não fique claro ao certo a profundidade dessas razões.
Tanto que o ponto alto desse embate está exatamente o confronto entre o viking controlado pelo jogador e um velho samurai. Eles discutem brevemente em uma cutscene curta, indicando que há uma rixa maior ali do que apenas a intervenção divina, o que faz com que eles acabem se enfrentando.
O interessante aqui é ver como o sistema de combate evolui dentro da própria campanha. Este último samurai é muito mais complexo do que qualquer ouro guerreiro, se aproveitando de habilidades que seus subalternos não possuem. Ele se aproveita muito mais de suas falhas, possui uma guarda muito mais fechada e abusa do sistema de Revange, que torna seus ataques mais poderosos à medida que bloqueia os ataques do jogador.
É o tipo de desenvolvimento gradual que muitos jogos já oferecem, mas que se encaixa muito bem da proposta de For Honor. Ele apenas oferece o tempo para que você se adapte aos comandos antes de colocá-lo de fato na linha de frente do combate. E a imensidão dos confrontos, aliada à beleza técnica do game, faz com que tudo isso seja realmente impactante.
A Ubisoft pode ter virado motivo de piada nos últimos anos, mas não há como negar que a empresa é uma das poucas com coragem para se arriscar tanto em novas franquias e novos conceitos. Alguns realmente não funcionam como o esperado, mas outras se revelam verdadeiros achados. E For Honor parece se encaixar nessa última categoria.
É claro que ainda há o fantasma da repetição sobrevoando o jogo, mas a comparação entre as demos de 2015 e 2016 mostram como o estúdio está ciente das opiniões e preocupações dos jogadores para fazer com que o título seja capaz de alcançar as expectativas criadas. E, se isso acontecer, teremos algo incrível nas mãos.