A ideia de um cartel mexicano invadir a Bolívia para transformar o país em uma enorme fábrica de cocaína é o tipo de coisa que parece ter sido retirada de um filme ruim dos anos 80, daqueles protagonizados por Steven Seagal ou Dolph Lundgren e que volta e meia passam de madrugada na TV para tapar algum buraco na programação. Porém, ao contrário do cinema, essa proposta absurda se encaixa perfeitamente naquilo que a Ubisoft pretende com Ghost Recon: Wildlands.
O novo game da série inspirada na obra de Tom Clancy se aproveita desses exageros para entregar algo que o estúdio definiu como diretriz em seus jogos nesta nova geração: tamanho, conectividade e liberdade. E, ao colocar o jogador para lutar contra um gigantesco esquema de crime organizado e tráfico de drogas no meio dos Andes, Wildlands une todos esses elementos muito bem.
E, assim como fez com The Division e Rainbow Six: Siege, a Ubisoft quer que o novo Ghost Recon seja focado nessa experiência multiplayer. Desde o seu anúncio, na E3 2015, vimos como o trabalho em equipe dentro do game é algo fundamental e, na edição deste ano da feira, colocamos nossas mãos no jogo para ver o quanto essa cooperação é importante.
Esquadrão fantasma
Isso significa que a comunicação entre os membros da equipe é essencial para o sucesso das missões. Durante a demonstração disponível na E3 deste ano — curiosamente a mesma apresentada em 2015, embora fosse jogável desta vez —, a comunicação entre os participantes serviu como nunca para traçar estratégias, definir abordagens e maneiras de reagir ao que estava acontecendo.
No caso, os quatro participantes tinham uma tarefa teoricamente simples: invadir um posto de produção de drogas e raptar um dos chefes do cartel. O líder do nosso grupo, um dos desenvolvedores da Ubisoft, logo definiu as tarefas, apontando que ele e outro jogador iriam dar a volta no local para eliminar os pontos de patrulha, enquanto a outra dupla invadiria de maneira silenciosa o posto inimigo.
É aqui que essa organização mostra sua real utilidade, pois determina exatamente quem faz o quê. Logo nos primeiros minutos da demo, por exemplo, o líder pede para o grupo inteiro utilize seus rifles para eliminar soldados inimigos a partir de uma ação sincronizada. É algo realmente muito interessante de ser feito, mas é o tipo de coisa que você sabe que nunca vai acontecer na prática. Na vida real, os tiros vão correr soltos e ninguém vai ser tão organizado assim.
Prova disso é que todo o plano de ser stealth proposto pelo líder logo é desfeito quando a outra dupla decide bancar o Rambo e entrar no campo inimigo atirando para todos os lados. Um grande tiroteio tem início e isso nos permite ver que Ghost Recon: Wildlands ainda é um bom shooter. Sua mecânicas simples e sem grandes adições se mostram bastante competentes, principalmente ao deixar a ação bastante frenética, mesmo com os inimigos tombando com muita facilidade.
Assim, no fim das contas, a primeira parte da demo serviu para mostrar como, na prática, essa proposta da Ubisoft de fazer com que os jogadores desenvolvam suas próprias estratégias nem de perto se aproxima daquilo que ela nos mostra nos trailers. Tudo é muito caótico e desorganizado. Tão bagunçado que alguém matou nosso alvo sem nem se importar em perceber que havia uma alerta enorme na tela dizendo que devíamos capturá-lo com vida.
É apenas mais um dia na Bolívia.
Confie no seu parceiro
Diante do fracasso da primeira missão, a demonstração nos leva para outra tarefa. Desta vez, o objetivo é invadir outro ponto de controle do cartel para roubar algumas informações de um computador.
A primeira coisa que chama a atenção nessa segunda metade é a distância que temos que percorrer. Ao abrir o mapa, é possível ver como o mundo de Ghost Recon: Wildlands é enorme, o que significa que os jogadores terão muito o que explorar por aqui. De acordo com a Ubisoft, é possível visitar qualquer lugar visível do mapa — uma promessa que ela já havia feito antes, com Far Cry 4.
Assim, para chegar à próxima missão, o líder do grupo conduz os outros jogadores até um helicóptero para que cheguemos até o próximo ponto. E esse é um dos pontos mais divertidos de Wildlands: os veículos. Não apenas o helicóptero, mas automóveis e motos podem ser compartilhados por mais de um jogador, criando uma experiência realmente integrada nessa ideia de trabalho em equipe.
É claro que não se trata de nenhuma novidade dentro dos jogos. É algo bem semelhante ao que GTA Online já faz, mas a ideia de colocar um jogador para pilotar o helicóptero enquanto outro assume a metralhadora e os demais ficam no apoio se encaixa muito bem dentro da proposta deste Ghost Recon. Atuar em conjunto é a regra por aqui, queira você ou não.
Tanto que você não é obrigado a estar ao lado de um parceiro. O líder definiu que o grupo se dividisse em duas duplas, mas nada impedia que cada jogador agisse de maneira isolada ou como uma única célula de atuação. As possibilidades são muitas e tudo vai depender de como os participantes interagem.
E este é o grande charme do game — e também seu principal problema. Assim como em The Division e Rainbow Six: Siege, o desafio está em fazer com que os jogadores abracem a ideia de que o time deve trabalhar como tal e não sejam um bando de malucos correndo pelos Andes. É muito mais interessante juntar todo mundo no helicóptero para que todos saltem na hora certa ou preparar uma fuga com um carro do que ver o veículo indo embora sozinho enquanto os demais tentam alcançá-lo a pé.
O ponto é que esse não é um problema do jogo. Ghost Recon: Wildlands oferece todas as ferramentas para ser essa experiência incrível que a Ubisoft propõe. O problema é fazer com que essa lógica funcione quando você estiver jogando online, principalmente com desconhecidos. E, com os lançamentos anteriores que se focaram nessa integração mostraram, essa desorganização pode comprometer bastante o envolvimento dos jogadores.
Ainda assim, trata-se de um jogo bastante promissor. Mesmo com as dúvidas sobre o modo como as pessoas vão encarar as missões e até o visual ainda abaixo do esperado, a Ubisoft conseguiu chamar a atenção de todos com essa proposta. O novo Ghost Recon continua com aquela cara de filme ruim — e isso está longe de ser um problema.