A Square Enix tem uma tarefa bastante complicada pela frente. Com Kingdom Hearts 3 cada vez mais próximo, o estúdio precisa encontrar um jeito de fechar todas as pontas soltas deixadas na série ao mesmo tempo em que dá sentido à enorme bagunça na qual ela transformou a franquia. Ao longo da última década, foram tantos títulos paralelos, histórias adicionais e prequels inseridos à trama que a história se tornou uma enorme colcha de retalhos na qual é impossível se encontrar. E ela insiste em colocar mais peças nesse caótico quebra-cabeça com Kingdom Hearts HD 2.8 Final Chapter Prologue.
Mais do que remasterizar Dream Drop Distance e Unchained χ, o novo game adiciona um trecho inédito à saga exatamente com a promessa de explicar todos esses pontos que estão em aberto, convergindo essas histórias apresentadas até aqui. Para isso, o chamado Kingdom Hearts 0.2: Birth by Sleep — A Fragmentary Passage funciona como uma expansão do game de PSP e se concentra em mostrar o que houve com Aqua durante o período em que ficou presa em Realm of Darkness. É, ao mesmo tempo, um epílogo de Birth by Sleep original e um prólogo para Kingdom Hearts 3.
Só por isso já é fácil perceber o nível da bagunça em termos narrativos e a demonstração disponível na E3 não entrega muita coisa sobre o enredo, ainda que dê algumas dicas. Como nos foi apresentado durante o último trailer, o mundo no qual a personagem se encontra é completamente distorcido e conta com uma relação bem particular entre tempo e memórias: à medida que o relógio avança, as recordações vão embora e isso afeta o próprio universo ao seu redor.
O interessante é que essa passagem do tempo não é natural e, mais importante, é possível revertê-la. É aí que a ação da demo realmente começa, com o jogador procurando peças pelo cenário na tentativa de reconstruir o caminho para uma saída daquele lugar. Como tudo em Kingdom Hearts, esse é um conceito que é mais fácil de compreender na prática do que na teoria.
Mão na massa
Se a demonstração não explica nada da história, a jogabilidade já nos revela muito muito mais. De modo geral, Kingdom Hearts 0.2: Birth by Sleep — A Fragmentary Passage parece um misto do próprio Birth by Sleep com várias mecânicas de Dream Drop Distance, o que significa um estilo de jogo bastante ágil, fluido e versátil.
O combate continua bastante frenético, como é característico da série. A câmera segue um pouco confusa, principalmente com o excesso de ataques aéreos e os exageros pirotécnicos a cada magia evocada pela heroína. Ainda assim, os efeitos estão ainda mais bonitos, com nova iluminação e resultados no próprio cenário. Ao usar Blizzard, por exemplo, Aqua congela partes do ambiente e pode desligar sobre o gelo para atacar seus inimigos.
A variedade dos Heartless ainda é pouca, mas o suficiente para que o jogador possa realizar ataques básicos e aéreos e diferentes estilos. Além disso, a inteligência artificial evoluiu, permitindo que esses inimigos se comportem de maneira diferente de acordo com o local onde eles estão, o que garante mais desafio e exige mais habilidade do jogador para dominar todas as habilidades da protagonista.
Exemplo disso é quando aqueles pequenos e quase inofensivos Heartless se unem para criar um inimigo muito maior, como aquele que apareceu no primeiro trailer de Kingdom Hearts 3. Por conta de seu tamanho, ele se torna um alvo fácil, mas acertá-lo não é tão simples, já que ele consegue atingi-lo com mais facilidade, além de causar um dano considerável. Para isso, é preciso explorar bem as magias que Aqua domina, além de outros elementos de jogabilidade.
O primeiro deles é o chamado Flowmotion, um recurso que já havia sido introduzido anteriormente em Dream Drop Distance e que retorna em A Fragmentary Passage. Trata-se de uma facilitação para os combos aéreos, permitindo que a personagem vá de um canto a outro da tela com muito mais velocidade, além de partir para cima de inimigos com mais potência. Em outras palavras, Aqua literalmente sai quicando pelo cenário e dando porrada no que estiver pela frente.
Outro retorno útil para esses confrontos mais complicados é o das Command Styles de Birth by Sleep. Aqua pode adicionar habilidades especiais à sua Keyblade e ganhar movimentos únicos ao usar determinados golpes. Durante a demonstração, por exemplo, a heroína conseguia uma Style que permitia que ela usasse um ataque giratório muito poderoso e útil contra esse mar de Heartless. Temporário, mas muito eficiente.
Uma ponte para o futuro
Como dito, a demonstração de Kingdom Hearts 0.2: Birth by Sleep — A Fragmentary Passage revela pouca coisa sobre a trama. Ao longo dos quase 15 minutos disponibilizados pela Square Enix, não há espaço para teorias ou especulação. Tudo é muito direto e as informações são escassas. No máximo, há a cena final em que Aqua reencontra Terra — como acontece no trailer —, apenas para descobrir que ele é uma memória que, como todas as demais, começa a sumir.
Ainda assim, mesmo coberto de muito mistério, esse pequeno fragmento já se revela a coisa mais interessante de Kingdom Hearts HD 2.8 Final Chapter Prologue. Não apenas por ser a promessa de finalmente estarmos a caminho da conclusão da saga, mas porque esse prólogo parece ser uma grande amostra do que está por vir. No fim das contas, A Fragmentary Passage soa muito como uma grande demonstração técnica de Kingdom Hearts 3.
Depois de tantas remasterizações, finalmente temos algo novo e que nos aponta o caminho tomado pela Square em relação às suas mecânicas. E ela se aproveita exatamente dos acertos dos títulos mais recentes para criar algo ainda mais ágil, dinâmico e divertido. É uma combinação que não tem como dar errado — ou assim esperamos.