Football Manager é uma das franquias de jogos com público mais fiel. Faça chuva ou faça sol, todo ano temos uma nova versão do jogo, e os aficionados estão sempre indo atrás dela, bem como de patches de atualização, updates e afins. Eu me encaixo nesse padráo, já que ela é, de longe, a franquia de jogos que eu mais tenho horas acumuladas desde a minha infância. Afinal, já são mais de 10 anos que eu acompanho-a, e antes, já seguia outras duas séries semelhantes: Championship Manager e Elifoot, um grande hit no Brasil do final da década de 1990.
FM15 chegou com a ingrata tarefa de suceder a versão 2014 do jogo, tecnicamente uma das melhores e mais “redondas”. E, na maioria dos aspectos, conseguiu ultrapassar seu predecessor implementando melhorias visuais, de navegação, além de trazer novidades táticas, de treino, de gerenciamento de equipe, finanças e staff que tornam a experiência de se conduzir uma equipe da vida real, seja rumo à glória ou ao fracasso.
Essa é uma das grandes e boas novidades em relação às versões anteriores. Na construção do seu perfil, antes mesmo de assumir seu time, você deve escolher se será um treinador ao estilo Muricy Ramalho, que usa agasalho do clube e boné, comandando as atividades de dentro do campo, ou se será um treinador ao estilo Pep Guardiola, o famoso “professô” que gerencia tudo de sua área técnica com direito a terno italiano na beira do gramado.
Mais do que uma escolha pessoal, ela influenciará na forma como seu time reagirá aos seus comandos e treinamentos. Escolhendo um perfil mais “Muricy”, você tem vantagens na hora de treinar a equipe, podendo inclusive ficar a cargo de treinar algum dos fundamentos (defensivo, ofensivo, técnica ou físico). Já um treinador ao estilo “Guardiola” tem grandes melhorias em aspectos táticos e vê sua equipe responder melhor às mudanças e instruções passadas antes e durante os jogos.
Football Manager 2015 chegou com a ingrata tarefa de suceder a versão anterior, tecnicamente uma das melhores e mais “redondas”. Na maioria dos aspectos, ele conseguiu ultrapassar seu predecessor implementando melhorias de interface e de gerenciamento geral da equipe.
Agora, com uma escolha mais detalhada, muitas características do treinador já começam definidas, permitindo que o jogador pratique desde o início sua forma preferida de gerir o clube, sem precisar acumular pontos para pedir à direção uma mudança de filosofia de contratações ou investimentos na categoria de base, por exemplo. Se engana quem pensa que, dessa forma as coisas ficam mais fáceis, é justamente o contrário. A diretoria tende a cobrar mais concisão tática de treinadores no estilo “terno”, ou evolução das categorias de base dos treinadores estilo “agasalho”. É uma faca de dois gumes e pode ajudar você a ter sucesso ou ir ao fundo do poço de uma forma muito mais rápida.
Tudo parece meio complicado, com muitas opções, mas o jogo é bastante intuitivo, mesmo para quem não manja muito de futebol. Claro que, quem já conhece esse mundo tem mais facilidade e vai saber por onde seguir de forma mais fácil.
FM é uma franquia cheia de opções, comandos, menus, sub-menus, interações prá lá e prá cá, e a cada ano, novas funcionalidades e opções são incluídas, o que acabou resultando com que a versão 14 do jogo fosse um enorme amontoado intermináveis, com três, quatro, cinco e até seis sub-níveis de navegação. O novo game melhorou muito isso, trazendo atalhos mais facilmente configuráveis e itens na barra lateral que ajudam a chegar onde você quer. O resultado disso é um sistema de jogo mais dinâmico, prático e fácil de se compreender, algo fundamental, principalmente pela quantidade de novos recursos que este título traz em relação ao seu predecessor.
Para quem está acostumado com as versões anteriores, estranha-se um pouco essa nova navegação, mas isso apenas nas primeiras horas de jogo. Com pouco tempo, dá para se habituar aos novos menus e se sentir muito mais confortável “cortando caminho” por eles. Essa nova interface também é mais bonita que a anterior, algo que também é válido para a visualização do jogo, que traz campo, torcida, jogadores e até estádio muito mais detalhados do que antes.
Como o título dessa análise já diz, Football Manager 2015 é um verdadeiro estágio ou teste para ser um verdadeiro gerente de um time. Você controla tudo, desde contratações e vendas, treinos, esquemas táticos, relação com imprensa e com a diretoria do clube, amizade e relação com técnicos de outros times, empresários e também com os jogadores, não só do seu time, mas também atletas que por ventura você deseja contratar ou criar uma relação de amizade e respeito visando justamente uma futura investida.
Tudo isso parece meio complicado falando assim, são muitas interações e opções, mas tudo bastante intuitivo, mesmo para quem não manja muito de jogos manager e até de futebol. Claro que, quem já conhece esse mundo tem mais facilidade e vai saber por onde e como reagir a uma derrota acachapante, a uma exibição pífia do time no primeiro tempo de um jogo ou ainda a uma vitória suada em cima do seu maior rival.
Cada escolha feita impacta na forma como a equipe joga, desde a escolha de filosofias de condução do clube, contratação de staffs, de jogadores badalados, discursos à equipe, entre diversas outras coisas. Os jogadores do seu time são muito mais ativos e vêm com frequência falar com você, reclamando do treino a que estão sendo submetidos, falar sobre o desempenho geral da equipe, posicionamento tático que você vem utilizando para determinado atleta, pedir novos contratos, reclamar de um colega de time, entre muitas outras coisas. E para todas as interações com os atletas, há uma figura de suma importância, que pode ajudar muito ou fazer tudo se perder de vez: o capitão.
>Mas é claro que nem tudo está perfeito. Como sempre, Football Manager 2015 tem alguns problemas relacionados aos jogos de campeonato: um número absurdo de lesões.
Qualquer interação sua com a equipe pode e deve passar antes por ele. Escolher um atleta com altos índices de liderança e identificação com o clube é fundamental, já que ele pode apaziguar uma briga entre colegas de equipe, acalmar atletas insatisfeitos com o desempenho geral, apresentar atletas recém-contratados ao restante do time e liderar a equipe em momentos difíceis.
Ou seja: mais do que dar a braçadeira de capitão por preferência ou por gostar mais de determinado atleta, essa escolha afeta diretamente a forma como o jogador conduz o time, e escolher o capitão errado, pode atrapalhar muito, bem como ficar trocando de capitão a todo momento pode levar o time a um colapso por não ter uma referência de liderança.
A contratação de jogadores tornou-se ainda mais complexa e real. Os relatórios dos olheiros podem te colocar numa furada, e aquele jogador de 17 anos com potencial pra ser o novo Messi acaba, no fim das contas, se tornando apenas um Valdívia mal-acabado. Mas, apesar disso, os relatórios estão muito mais completos, e além de informar capacidade atual e potencial, salários e algumas características positivas e negativas-chave, ele também informa se o jogador é adequado ao perfil do seu plantel, o que ele pode agregar de novo, entre diversas outras características que se tornaram importantes em um game em que cada característica tem de ser levada em conta antes de tentar uma contratação. Um exemplo disso é que jogadores que são considerados egoístas pelo seu analista, ao chegarem no seu time, podem acabar com a harmonia do plantel e desencadearem uma série de insatisfações.
As vendas também tem de ser muito bem pensadas: vender jogadores que são considerados importantes ou estrelas em potencial pelos colegas de time pode gerar diversas reclamações dos próprios jogadores, algo que se não for gerido corretamente acarreta em uma insatisfação geral que toma conta de todo mundo. Aquela velha história da única laranja podre no saco e que acaba apodrecendo as outras… Isso, aliás, serve de referência para outra coisa bacana: jogadores que são considerados dessa maneira por seus colegas, quando vendidos, geram um alívio nos demais, que chegam a te agradecer por ter se livrado do atleta encrenqueiro.
Mas é claro que nem tudo está perfeito. Assim como as versões 2013 e 2014, Football Manager 2015 tem alguns problemas relacionados aos jogos de campeonato: um número absurdo de lesões. Chega a ser surreal ver três ou quatro jogadores do seu time saindo contundidos de um jogo, ou você recebendo a notícia disso após as partidas. Aqui, essa falha é menos grave do que nas versões anteriores, mas ainda assim pode causar problemas e colocar a perder uma temporada inteira, principalmente quando você tem em seu elenco muitos jogadores acima dos 30 anos, ou então times mais enxutos, sem tantas opções para rotatividade, ou ainda em ligas como a brasileira ou a ucraniana, onde o rigor dos árbitros é menor e a pancadaria rola mais solta.
O modo online é o mais complexo, já que além de trazer todas as funcionalidades normais, traz a imprevisibilidade de se lidar com outros jogadores espalhados pelo mundo.
Lidar com essas lesões é um desafio, com o qual os técnicos tem de lidar em seu dia-a-dia nos clubes. O bom gerenciamento do elenco, fazendo jogadores descansar em alguns jogos e tendo preparadores físicos de qualidade, ajudam a minimizar o problema. Ainda assim, tudo isso está um pouco exagerado em relação ao que ocorre na vida real.
A falha deve ser resolvida, ou ao menos melhorada, em breve, com o lançamento de um patch, como já aconteceu com os antecessores. Mas até lá, lidar com esse tipo de coisa pode prejudicar um pouco a diversão. Ao menos, os gols anulados aparecem em um número mais “real”, e não na proporção de um para cada quatro ou cinco como era no FM14.
Já se tornando tradicional, o modo de desafios oferece sete cenários e traz mais algumas boas horas de diversão. Com objetivos de salvar um time do rebaixamento, enfrentar uma enorme crise de lesões, vencer um campeonato de forma invicta, fazer uma fornada de jovens talentos brilhar, entre outros, eles testam a capacidade do jogador em cumprir os pré-requisitos estabelecidos. O nível de dificuldade é variável, de acordo com o desafio escolhido, e assim como no modo de jogo normal, analisar e planejar são fundamentais para o bom desempenho. Além disso, é possível criar seus próprios desafios e até mesmo obter novos através do Steam Workshop.
Para quem não quer essa complexidade toda, há também o Football Manager Classic, um modo de jogo mais direto, com menos opções e que coloca o jogador para exercer três funções básicas: contratar jogadores (sem ter de lidar com agentes), montar esquemas táticos de forma simplificada e colocar o time em campo para brigar pelos títulos. Esse modo lembra os jogos mais antigos da franquia, que contavam com menos opções do que as que existem atualmente. É basicamente um estilol mais arcade, voltado para quem quer apenas se divertir de forma mais descompromissada, sem ter de se preocupar com planejamento e afins.
O modo online pode colocar você para competir diretamente com um ou mais amigos, ou então entrar em ligas e disputar com jogadores aleatórios do mundo todo. Com um forte componente social e interação com Facebook e Twitter, esse estilo é o mais complexo do jogo, já que além de trazer todas as funcionalidades normais, traz ainda a imprevisibilidade de se lidar com outros jogadores humanos espalhados pelo mundo, que podem competir com você de forma direta, na mesma liga, ou então indiretamente, controlando times de outras ligas e que só cruzam com o seu em competições continentais ou mundiais.
A possibilidade de tentar desestabilizar o time adversário, colocando atletas do time dos outros jogadores como alvo de transferência, e dar declarações públicas de interesse e elogios, pode desencadear o ódio do outro lado do monitor, mas ao mesmo tempo é fundamental saber usar desses artifícios para tentar desmontar os grandes times montados pelos demais jogadores. E é claro que o mesmo pode ser feito com você, e as investidas adversárias são sempre perigosas e podem desestabilizar o clima no “vestiário” do seu time.
No fim das contas, mesmo com seus problemas, Football Manager se mostra como um dos melhores da franquia, indi adiante em quase tudo o que os jogos anteriores apresentavam. Mais do que isso, é a prova de que, mesmo sem fazer grandes revoluções, é possível implementar melhorias que tornam um game mais agradável e completo.