De começo, já peço perdão aos mais sensíveis caso sintam algum traço de revolta nesta matéria sobre Falke, nova personagem de Street Fighter V, que chegou como DLC neste 24 de abril. Não é que ela seja ruim ou tenha um background fraco, pelo contrário, esses novos personagens da equipe de Ed são bem promissores e trazem novos ares pra franquia que já caminha para seus 31 anos de existência.

Dito isto, direciono minha indignação para a “Dona Capcom”, que parece ter desaprendido a fazer jogos de luta balanceados.

Falando primeiro sobre a causa do desgosto, Falke nasce sob a luz do vacilo de mais um patch de balanceamento de personagens. Isso virou uma tradição desde Street Fighter IV Arcade Edition, no qual, mais de uma vez por ano, é preciso reaprender a jogar com os mesmos personagens, já que o pretexto é torná-los menos desiguais. Com isso, muitos jogadores acabam prejudicados e poucos são favorecidos, em mudanças com motivos bizarros, que iam além do limite físico dos lutadores, e que nunca resultam em justiça.

Como se já não fosse sofrimento em demasia ter sido elaborada em uma má fase criativa da Capcom, Falke é uma das crianças raptadas pela Shadaloo para servirem como novo hospedeiro para M. Bison. Ela passou toda sua infância e adolescência presa em um quarto, tendo pesadelos com o líder da organização, por influência do Psycho Power que lhe foi introduzido.

Ela manipula essa força de forma curiosa. Assim como no mangá e anime “Hunter X Hunter”, Falke consegue impregnar a energia em um objeto e torná-lo mais rígido ou leve, sem falar que pode disparar projéteis como se fosse uma sniper ou liberar um grande fluxo de poder. O uso combinado dessas habilidades é o caminho pra vitória, que não será fácil dadas suas particularidades e vacilos da Capcom.

Começando pela parte boa, Falke é uma personagem de domínio médio para difícil por exigir mentalidade multitarefa do jogador. Ela não possui combos grande e fáceis, mas tem alto potencial de tirar dano e criar novas possibilidades de virar o jogo a partir de um ataque bem aplicado. Sua V-Skill funciona como um Super Golpe e o bastão tem alcance longo.

Já o tiro carregado tem três variações, nas quais só a versão aérea não serve para criar um combo, mas sim, salvar o jogador de cair em uma armadilha, já que Falke fica parada no ar enquanto dispara. Esse golpe é o único original, enquanto os outros são referências.

Caso tenha se perguntado, a resposta é sim, Falke é como a versão feminina de Ed, mas usando um bastão! Os ataques são similares e os comandos, iguais, dadas suas individualidades. Usando dois socos, ela dá um golpe para cima, a mesma técnica de Kilik em Soul Calibur. Dois chutes geram um movimento de chute com impulso, como Billy Kane, das séries Fatal Fury e The King of Fighters. Já seu V-Skill é um rodopiar da arma igual ao do personagem Venom, de Guilty Gear, só faltaram as bolas de sinuca.

Não que ter referências seja algo ruim, pois Falke está seguindo o padrão do “Ed Squad”. Apesar disso, o sistema de combate dos dois é muito diferente.

V-Skill: Psycho Trombe

Com seu bastão cheio de Psycho Power, Falke rodopia no ar e acerta o oponente muitas vezes, causando dano mediano e enchendo sua barra de V-Trigger pouco a pouco. Uma das V-Skills mais úteis do jogo, sendo cancelada em ataques normais como os outros Super Golpes, e serve de ligação para o acionamento dos dois V-Triggers. Depois disso, serve como ligação para o acerto deles, com combos que podem ser ampliados na sequência, Por fim, a paulada do V-Trigger II causa um dano muito alto, com baixo alcance para ser punido. Um dos melhores V-Skills de todo o jogo.

V-Trigger I: Staerken

O V-Trigger preferido para quem está começando com Falke a faz ativar seu rifle-bastão, com três tiros que acertam o oponente. É usado como o Super Golpe do disparo, mas sem precisar carregar o botão de soco. Além disso, um projétil pode ser cancelado e outro, no chão e no ar, pode ser acionado após acertar o oponente no solo com o Soco forte, abrindo possibilidade para combos devastadores. Quando errado, vai quicar e subir, mantendo o oponente imóvel para apanhar mais pelo tempo dos três acertos. Quando usado após o V-Skill e a versão EX do Super Golpe com chute, causa muito dano e surpreende os apelões mais desatentos, e claro, os desacostumados.

V-Trigger II: Psycho Angriff

É parecido com o V-Trigger II de Ed, Psycho Snatcher, pois permite ao personagem continuar o combo após um Super Golpe com seu ataque característico de bastão, abrindo para mais combos onde se usa o golpe mais de uma vez no mesmo combo. A versão 1 do ataque faz Falke dar uma paulada pra frente, enquanto a 2 a faz pular sobre o oponente, servindo tanto como iniciador de combo quanto finalizador. Ambos os ataques podem ser cancelados em seu Critical Art, esse V-Trigger parece ser melhor que o outro, não fosse sua ativação durante um combo, que permite jogar o oponente para o ar. Fora de uma sequência, vira um prato cheio para o contra-ataque adversário. De quebra, ainda rebate magias.

Critical Art: Psycho Fluegel

Juntando toda sua energia no bastão, Falke dá uma tacada de golfe com um alcance para cima gigantesco, que chega a acertar quem estiver tentando uma voadora nas costas e qualquer ataque ao alcance. Mandando o adversário para bem alto, ela o persegue como num salto com vara e o acerta mais duas vezes, com o oponente caindo ao solo como um raio de energia maligna. Com dano considerável, é um bom Critical Art para ser usado em combos com V-Skill, V-Triggers e Super Cancel, ou para sair da pressão nos cantos da tela. Não tem a aparência mais criativa ou devastadora, mas cumpre seu papel de ataque mais poderoso da personagem.

Agora, chegamos à parte mais indigesta da personagem. Não sei se a configuração dos ataques de Falke foi solicitada às 17h38 de uma sexta ou se os programadores estavam há dias sem dormir, mas a personagem tem a cara do descaso da Capcom com Marvel V. Capcom Infinite: falta polimento!

A lutadora possui ataques com um alcance incomum sobre todos os personagens, indiferente à proporção física deles, como um chute forte em pé que não acerta Abigail abaixado, o soco forte aéreo que se anula no meio do pulo ou o bastão pra cima que não acerta em toda a extensão física da arma. No pior de tudo, o bastão pode ser atingido como parte do corpo da personagem.

Alguns reclamam de animações duras e falta de graça na protagonista, eu critico a falta de imaginação no estilo de luta e ausência de golpes que fariam jus a seu nome, que significa falcão, em alemão, sem falar em sua introdução e comemoração. Falke tem potencial de voo ou esquiva, pulando com a ajuda do bastão, que não é usado dentro do jogo, diferente dos personagens a quem ela faz referência.

Como já devem ter percebido, tanto Falke quanto Ed possuem o mesmo padrão de vestimenta, com cabelo e ataques fazendo clara alusão ao nazismo. Ela fala alemão, mas diferente dessa referência macabra, o plano desses personagens é acabar com a Shadaloo e viverem em paz, como é mostrado no final de ambos os corpos reservas de Bison.

No caso da nova protagonista, as menções ao militarismo chegam ao extremo de ela usar o bastão como arma de fogo em um jogo de luta onde isso é bastante limitado. Agora temos uma atiradora de elite fazendo forte alusão à nova era de personagens no Street Fighter em geral, mas com um quê de má vontade da Capcom.

Será que o pioneirismo e tradição não são motivos suficientes para manter a qualidade do maior nome dos E-sports para jogos de luta? Mesmo que outras franquias deem mais retorno financeiro, Street Fighter é o ícone definitivo e deixar esse título escoar pelos dedos será o maior vacilo corporativo que alguém poderia cometer, consigo e com os fãs.

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