Firewatch

Firewatch

por Fernando Scaff Moura

Seja um sentinela!

Em Firewatch, você é um vigilante, não um guarda ambiental com armas e responsabilidades pela segurança e justiça. Só um sentinela, que deve alertar as pessoas do fogo, impedir que o parque fique sujo e verificar no seu perímetro se está tudo bem. Desta forma, pelo que o jogo apresenta, um dos pré-requisitos para ser um sentinela é querer fugir do seu passado para o isolamento de uma torre de vigia.

O jogo começa com você construindo esse passado, respondendo objetivamente a perguntas que não são preto no branco e já mostram as consequências doloridas de cada escolha. Ao final, se tornar um vigia de parque se torna, de fato, a melhor opção possível. Lá, você poderá terminar de escrever seu livro, refletir sobre a vida e reaprender sobre si mesmo.

A arte é absurdamente bem feita e agradável, é possível se deixar observar as montanhas ao fundo, o labirinto de árvores e a natureza em um esplendor virtualmente construído. Mesmo dentro do jogo, às vezes, o personagem Henry elogia as imagens majestosas em paisagens, pequenas criaturas, entre outros. Algo que chega a dar um tom de humor ao game.

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Na urgência de solucionar o mistério, você deve explorar o parque, pegar trilhas, escalar, fazer rapel e caminhar longas distâncias. Tudo isso com um mapa e uma bússola, algo genial!

Mesmo tendo momentos divertidos, o jogo é totalmente introspectivo, não existem outras pessoas, somente conversas de radio, vultos negros ao longe e mensagens deixadas por bilhetes. Essa solidão intensa é o grande segredo para construir o clima de mistério e terror . Algo está acontecendo, que não se consegue explicar, e o isolamento, aquele que tanto queria, acaba se virando contra você.

Quando pede por uma arma, recebe como resposta “Não é uma boa ideia deixar pessoas amarguradas sozinhas por muito tempo ao lado de uma”. Detalhes que criam o clima amargurado de um passado triste.

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Contudo, em meio a todo esse amargor, solidão e isolamento, existe uma voz no rádio que te guia, sua chefe, Delilah. Uma voz madura, divertida e, por vezes, sensual. Ela é sua superior, a quem você deve reportar suas ações e quem passa os seus objetivos. É agradável como o jogo consegue construir a intimidade entre os dois pelo jeito de ela falar e suas respostas divertidas.

Suas conversas com Delilah guiam o jogo e, quando tudo começa a dar errado, é ela que tenta te ajudar a resolver os problemas, orientando pontos e rotas que podem ajudar a chegar no seu destino. O medo dela acaba se tornando seu medo, e o fato dela estar envolvida acaba gerando a urgência de resolver tudo logo.

Nessa urgência de solucionar o mistério, você deve explorar o parque, pegar trilhas, escalar, fazer rapel e caminhar longas distâncias. Tudo isso com um mapa e uma bússola, algo genial! Eu sou escoteiro e me ver diante de um mapa topográfico e uma bússola me encheu de nostalgia.

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O papel mostra sua posição, mas não tem uma flecha indicando para onde você esta olhando, então, resta pegar pontos de referência para se orientar e pegar o caminho certo para chegar nos lugares. Simplesmente genial, é o tipo de game design que apela para a forma como é feito na vida real e acaba casando perfeitamente bem com o gameplay do jogo.

A trama traz o medo e o mistério de um ótimo filme de terror, mas também mantém o clima triste de solidão e isolamento. Firewatch é um jogo introspectivo e bonito, desses que fazem você lembrar dos personagens e da história.

E o level design do jogo? Brilhante! Estamos em um mundo semi-aberto, porém, com apelos com o mundo real. Ou seja, não existem tantas trilhas diversas, tudo é meio pré-estabelecido. Quem já subiu uma montanha ou fez uma trilha ecológica sabe do que estou falando, se for hoje ou daqui a 10 anos, provavelmente será a mesma trilha. Contudo, em Firewatch brilhantemente eles colocaram a mudança que acontece no mundo real, com as alterações das horas do dia mudando a trilha.

A sombra da manhã não é a mesma da tarde, muito cedo existe uma neblina natural do vapor da floresta, quando começam queimadas na floresta a fumaça e o vento atrapalham toda a orientação. Então, muitas vezes ir e voltar na mesma rota é bem diferente. É muito fácil se perder no jogo. Mesmo olhando o mapa, às vezes você tem certeza que já passou por um lugar ou outro.

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Acaba virando para esquerda sendo que era para direita e, quando consulta o mapa novamente (sim, você tem que clicar no mapa, ele fica na sua mão e você deve usar o mouse para olhar de fato o mapa e a bussola) está em um lugar longe, sendo que você tinha certeza que estava indo para o lugar certo.

Esse labirinto de árvores e arbustos foi construído de uma maneira interessante e tudo é meio parecido. Certas áreas te fazem ficar tentando confirmar onde está ou ficar correndo pensando “onde está a porra do canyon”, “tenho certeza que o lago é por aqui”, enquanto escuta no radio Delilah falando “Henry, estou com medo” e você sente a urgência de encontrar logo o caralho da trilha.

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A trama do jogo traz o medo e o mistério de um ótimo filme de terror, mas também mantém o clima triste de solidão e isolamento. Firewatch é um game introspectivo, bonito, desses que fazem você lembrar dos personagens, da história e até da vontade de pegar uma maquina de escrever e se isolar por 80 dias em um parque ambiental.

Por isso, o fato de ele ser curto, com cerca de 4 horas de duração, é algo chato. O jogo é tão bom e agradável que da vontade de explorar e viver um pouco mais no meio dessa linda solidão.

Firewatch foi analisado no PC.