Pouco mais de um ano após o lançamento de Monster Hunter World, God Eater 3 chegou ao Ocidente para dar um novo fôlego para o gênero de hunting games, originalmente popularizado pela franquia da Capcom. E o simples fato de um novo God Eater ter sido lançado para a atual geração de consoles e para computadores é um passo grandioso para a série.
Isso porque os dois primeiros títulos da série foram lançados originalmente para PlayStation Portable (PSP) e somente depois de muito tempo foram portados para outras plataformas. Ainda assim, isso não foi o suficiente para que a franquia se tornasse um grande marco para o gênero, com uma crítica dividida e muito pouco marketing.
Há também um anime de 13 episódios que adapta a história do primeiro jogo e foi exibido entre 2015 e 2016 que fez pouco estrondo. E agora, anos depois de tantos ports e tentativas de conquistar seu próprio lugar ao sol, God Eater 3 é lançado diretamente para PlayStation 4 e PCs e traz, sem sombras de dúvidas, a melhor jogabilidade da franquia, até então.
Começar a jogar God Eater pelo terceiro game numerado da série pode parecer uma aposta arriscada, mas basta saber o básico: você criará e irá personalizar seu próprio boneco no início da aventura e ele será um caçador de Aragamis. Estes, por sua vez, são as criaturas que você enfrentará ao longo de todo o game, de várias cores, tamanhos e formas.
É importante também ressaltar que God Eater é ambientado em um mundo pós-apocalíptico povoado por estas criaturas monstruosas e, para se livrar delas, a organização Fenrir usa as God Arcs, poderosas e grandiosas armas feitas de um material orgânico especial e que formam um híbrido entre lâminas e armas de fogo. Aqueles que as empunham são chamados de God Eaters.
Em God Eater 3, que se passa 10 anos após o segundo título da série, a Fenrir foi “devorada” pela ameaça conhecida como Ashlands, uma espécie de tempestade de cinzas extremamente prejudicial aos humanos. Nesse processo, novos Aragamis acabaram surgindo, os Ash Aragami; e do outro lado do espectro, os God Eaters também evoluíram para combater esse novo perigo.
O protagonista e seu melhor amigo de infância, Hugo Pennywort, são Adaptive God Eaters (AGE), uma forma mais poderosa dos caçadores de Aragamis comuns, mas que para chegar neste nível usam de métodos não-ortodoxos – há uma jogada inteligente por trás da criação das God Arcs e do porque é perigoso ser um AGE, mas fique tranquilo: aqui não soltaremos spoilers!
E se você experimentou Monster Hunter World (ou qualquer outro game da franquia MonHun) e gostou do que provou, em God Eater 3 a caçada é ainda melhor. Na realidade, as comparações entre o hunting game da Capcom e a franquia God Eater são pequenas, mas é necessária para se ter uma noção do que o mais novo título da série oferece.
E quando comparado aos outros dois games então, God Eater 3 pode ser facilmente coroado como o melhor dentre todos de sua saga. Há inúmeras novidades na jogabilidade e mecânicas que tornam os combates contra os Aragamis nos mais divertidos de toda a franquia. Isso porque os bonecos possuem dois novos tipos de armas: a Raygun para ataques à distância e a Bitting Edge para lutas corpo-a-corpo; e há ainda as novas habilidades Dive e Burst Arts.
Como já comentado por aqui, as God Arcs são armas híbridas e podem ser usadas ou como lâminas ou como armas de fogo. O arsenal oferece mais de dez tipos de armamentos corpo-a-corpo (e também escudos) e algumas armas de fogo diferentes também. A maioria é empunhada com as duas mãos pelos bonecos, exceto a Bitting Edge, que é praticamente a estrela do jogo.
Por ser uma lâmina dupla, cada qual erguida em um dos punhos do personagem, os ataques e técnicas recebem todo um novo leque de opções, e, em God Eater 3, você usa basicamente o triângulo e o quadrado para atacar (no PlayStation 4), embora estes dois botões possam ser combinados com outros para executar outras habilidades. As God Arcs antigas, por sua vez, também estão de volta, mas infelizmente, não receberam melhorias melhorias.
Ainda assim, a jogabilidade é tão gostosa, intuitiva e criativa que, depois de algumas horas em missões é difícil não se pegar pensando em outras combinações de armas, habilidades e links (mecânicas em que seu personagem compartilha técnicas com os demais membros da party, permitindo que um auxilie o outro, seja em combate ou curando e afins).
Há ainda os Dives, que são mais ou menos como deslizamentos só que executados em solo ou no ar e quebram um baita galho, seja na exploração ou durante os combates contra Aragamis maiores e mais fortes; e as poderosas Burst Arts que podem ser usadas de diferentes formas também (no chão ou no ar, por exemplo), além de serem customizáveis.
E por falar em personalização, praticamente tudo neste jogo pode ser gerenciado, o que é uma boa pedida para quem gosta de recursos infinitos, mas ao mesmo tempo, isto pode sobrecarregar os jogadores de informações. De toda forma, vale explorar e recolher o máximo de itens, sempre que possível. Inclusive, em God Eater 3, as missões também possuem Ranks e, quanto maior ele for, mais difícil será completa-la. Contudo, isso também significa que haverá loots ainda melhores e valiosos lhe esperando nas fases.
God Eater 3 pode parecer mais um jogo que irá consumir cerca de 60 horas valiosas da sua rotina, mas na verdade, não é bem assim – a menos que você se empenhe em platinar o game. Ainda que haja loadings longos, a campanha principal tem mais ou menos 30 horas e as missões são segmentadas em História e Opcional, cujos títulos são bem autoexplicativos.
Além disso, os combates contra os diversos Aragamis espalhados pelos corredores são frenéticos – e os monstros têm, por sinal, visuais incríveis. Este é o título com melhor design de criaturas da franquia. E dependendo do Rank da missão, os inimigos não apenas ganham uma repaginada, como também mudam seu comportamento, exigindo táticas diferentes do jogador. Talvez isto seja para compensar os cenários, que não oferecem muita variedade – apesar que este nunca foi o forte dos games da série.
Se você experimentou Monster Hunter World e gostou, saiba que God Eater 3 é ainda melhor, se saindo como um dos melhores games de seu gênero.
Por outro lado, os personagens são cheios de vigor. Talvez esta seja a melhor palavra para definir a experiência com God Eater 3: um anime jogável. Uma vez que vamos progredindo e nos tornando incansavelmente mais poderosos, enfrentandp criaturas colossais; a sensação é a de estar guiando um protagonista de uma série animada japonesa em sua jornada cheia de perigos e reviravoltas.
Contudo, ainda que os gráficos sejam muito bonitos, eles podem deixar um pouco a desejar – mas talvez seja porque os padrões estão muitos altos, devidos os recentes lançamentos do mercado (um beijo, Kingdom Hearts III, Resident Evil 2 e Devil May Cry V!). Os NPCs do game também são bem carismáticos também, mas caso você tenha problemas com dublagens japonesas, é recomendado que opte pela americana. Ambos os trabalhos estão fantásticos, mas os diálogos “animescos” podem irritar alguns jogadores.
Quanto à trilha sonora, ela está impecável em God Eater 3. Go Shiina é o responsável por esta que é uma das melhores composições deste ano (ou do ano passado, se você considerar o lançamento original japonês). Para quem não o conhece, ele tem um currículo repleto de jogos queridos e conhecidos, tais como Ace Combat, Tekken, Tales of, Idolmaster, dentre outros.
Vale ainda apontar que God Eater 3 possui modo multiplayer para até quatro jogadores se aventurarem em cooperativo, o que torna a experiência ainda melhor – ainda mais se todos trabalharem juntos como equipe, pois o game recompensa muito bem os jogadores; e há também raids para até oito pessoas em um único mapa, com missões de cinco minutos ou menos.
God Eater 3 é, sem dúvida, um anime jogável: tem personagens poderosíssimos e carismáticos enfrentando criaturas com visuais ousados em uma jornada extremamente perigosa repleta de sacrifícios, esquemas políticos e traições; e ainda oferece mecânicas criativas que tornam toda a jogabilidade em um verdadeiro vício, tudo isso embalado em uma trilha sonora deliciosa e com belos gráficos. Certamente merece mais amor e atenção.
O jogo foi testado no PlayStation 4, em cópia cedida pela Bandai Namco. Esta análise foi publicada primeiro no Canaltech.