Desenvolvido pela Gearbox e lançado pela Take-Two, Battleborn foi anunciado como o game mais ambicioso da história da desenvolvedora e seu primeiro título original desde Borderlands, de 2009, a proposta surgiu como uma novidade: trazer a ideia de heróis e combates estratégicos, com jogadores de diferentes papeis, dos MOBAs para o mundo dos games de tiro.
Foi uma ideia que chamou a atenção, mas por pouco tempo. Foram apenas alguns meses de destaque até que a Blizzard, muito mais conceituada e com uma base de fãs fanática, viesse com um rolo compressor: Overwatch. O jogo, hoje, é um gigantesco candidato para criar toda uma categoria nova de e-sports e apresenta uma qualidade extrema. Ali, nascia uma sombra que acompanharia Battleborn durante todo o seu caminho, desde seu desenvolvimento até o lançamento, em maio deste ano.
Mais do que um caso de concorrência ferrenha entre dois games semelhantes, aos moldes da guerra entre Call of Duty X Battlefield, por exemplo, a história de Battleborn é um exemplo de falta de planejamento. Por mais que tenha uma reputação conquistada com alguns títulos de renome – e desconstruída por outros – a Gearbox não tem cacife para bater de frente com a Blizzard, por mais que confiasse em seu produto. E não é preciso ser nenhum especialista para saber disso.
É uma falta de perspectiva que, agora, é colocada à prova. Enquanto Overwatch permanece crescendo, mesmo meses depois de seu lançamento, Battleborn vê o vazio já percebido em seu lançamento se tornando cada vez maior. Para analistas, a perspectiva é de prejuízo, com uma única possibilidade de reversão: uma mudança nos planos e a transformação do shooter em free-to-play.
A força para uma mudança
É uma conclusão que apareceu nesta sexta-feira (29) em um relatório publicado pela Super Data Research, uma consultoria especializada no mercado digital. Mensalmente, ela publica um ranking dos games mais jogados em todas as plataformas, e no relatório de junho, elogiou a transformação de Evolve em uma proposta gratuita, com microtransações.
O título sofreu de um problema semelhante em seu lançamento, a falta de jogadores, mas por motivos diferentes. Aqui, os culpados foram as críticas negativas, que taxaram o game como pouco divertido e mal realizado, e a falta de conteúdo, com um game vendido a preço cheio, mas que vinha incompleto e tentava obter mais alguns dólares pela venda de DLCs. Não há mérito – Evolve é criação dos mesmos responsáveis por Left 4 Dead – que alivie esse tipo de gosto amargo.
A solução da Take-Two para lidar com a falta de jogadores em um título essencialmente online foi relançar Evolve como um jogo free-to-play. E o resultado foi a transformação de um game que ninguém jogava em um dos 25 mais populares do Steam, à frente de grandes e mais recentes nomes como Call of Duty: Black Ops III, Dark Souls III e o jogo do ano de 2015, The Witcher 3: Wild Hunt.
A perspectiva da Super Data Research é que esse novo movimento deve tornar Evolve não apenas jogado novamente, mas também lucrativo, uma vez que as microtransações forem ativadas no título. A virada, se manter seu ritmo, pode acabar representando o sucesso que Evolve nunca teve de verdade, apesar dos dois milhões de unidades vendidas.
E por compartilharem distribuidoras e situações negativas, a consultoria sugere que Battleborn pode ser o próximo a receber esse tratamento. A perspectiva da Super Data Research é de que o anúncio da transformação do shooter em free-to-play aconteça nos próximos meses, como forma de fazer frente ao sucesso de Overwatch.
Batendo o pé
Por mais que Evolve e Battleborn sofram do mesmo mal, um fator diferencia os dois. Enquanto o primeiro se tornou um F2P mais de um ano depois de sua chegada às lojas, o segundo se transformaria em tal apenas alguns meses após o lançamento, uma alternativa que seria uma grande admissão de fracasso. Algo que a Gearbox não está exatamente acostumada a fazer.
Um dos casos mais notórios desse tipo de atitude aconteceu com Alien: Colonial Marines, com a empresa chegando a ser acusada pela SEGA de receber financiamento como se estivesse desenvolvendo o game, enquanto desviava recursos e pessoal da produção para o desenvolvimento de Borderlands. A empresa também foi acusada judicialmente de enganar jogadores ao apresentar, em feiras e eventos, demonstrações que não condiziam com o produto final.
Randy Pitchford, fundador e CEO da Gearbox
Durante todo o tempo, a desenvolvedora não admitiu seus erros e o diretor do estúdio, Randy Pitchford, chegou a afirmar que as críticas e demonstrações de insatisfação eram a forma de alguns jogadores expressarem suas emoções. Além disso, assim como no caso de Duke Nukem Forever, o executivo também apontou o dedo para parceiros de desenvolvimento, numa tentativa de mitigar a responsabilidade por jogos essencialmente ruins.
A última cartada
Levando em conta esse tipo de atitude de seu CEO, parece improvável que a Gearbox venha a público afirmar a derrota de Battleborn. O comportamento de criança chorona, também, pode acabar minando o que, no momento, pode acabar sendo a última esperança de sucesso para o jogo.
Outra improbabilidade vem da falta de planejamento que citei no começo do texto, à qual retorno aqui. Durante toda a sua existência, Battleborn viveu sob a sombra de Overwatch, tanto em termos de divulgação quanto em hype, uma vez que, simplesmente, parece impossível vencer a máquina destruidora chamada Blizzard.
Não houve nenhuma mudança de planos e zero alterações no rumo do desenvolvimento diante de um rival gigantesco. Se tivesse sido lançado antes, Battleborn poderia até mesmo ser citado por muita gente como um precursor. Do jeito que saiu, ele se tornou apenas um “Overwatch sem carisma”.
Eu senti, pessoalmente, esse efeito enquanto analisava o game da Gearbox. Ao experimentá-lo nas primeiras horas, ele me soou como um shooter interessante, com suas falhas, mas que transpunha bem os fundamentos de um MOBA para o mundo dos FPSs. Paralelamente, entretanto, joguei a Beta aberta (e gratuita) de Overwatch, que só fez com que os erros do jogo da Take-Two parecessem mais evidentes.
Todos os cuidados que a Gearbox não havia tomado foram atendidos pela Blizzard. Mais do que isso, Overwatch soava como uma proposta muito mais dinâmica e fluida do que Battleborn, e estava a apenas 20 dias de distância. A escolha entre dois títulos semelhantes, com preço de lançamento, parecia óbvia, e se concretizou. O game da Blizzard, no momento, já ultrapassa as 7 milhões de cópias vendidas, enquanto o da Gearbox amarga abaixo do primeiro milhão.
Enquanto isso, a transformação de Battleborn em um game free-to-play poderia servir para não apenas incentivar quem já comprou a retornar e abraçar novos jogadores, mas também, servir como porta de entrada para o mundo dos shooters competitivos de seu gênero. A presença de um modo cooperativo, mais uma vez, pode ajudar muito os “noobs”, pois enfrentar a IA sempre é mais fácil do que jogadores de verdade, por mais acertado que seja o sistema de matchmaking.
Decisões do mercado nem sempre fazem sentido, e o futuro, nesse tipo de análise, é sempre incerto. Entretanto, a pressão de jogadores e analistas é clara, e para uma empresa que deve satisfações a acionistas, deve pesar bastante, assim como a perspectiva de lucro diante de um fracasso retumbante, este sim, já confirmado.
Sendo assim, pode-se aplicar a política do “o que temos a perder aqui?” Se continuar como está, Battleborn não chegará a lugar algum, uma vez que nem mesmo sua inclusão em um Humble Bundle recente aumentou de forma significativa sua população online. No final das contas, o caminho parece mesmo ser a gratuidade, mesmo que tenha que ser aplicada contra os desejos – e até mesmo à revelia – da Gearbox. Caso contrário, é hora de lacrar esse caixão.