Grid

Grid

por Felipe Demartini

A essência da velocidade

O conceito de reboot é comum na indústria de jogos, com incontáveis exemplos de títulos que trazem de volta franquias do passado com uma nova pegada ou transformam completamente um estilo que se consagrou como clássico. Entretanto, ainda é estranho ouvir essa palavra associada a um jogo de corrida, já que ela normalmente acompanha uma renovação de enredo ou, no mínimo, mecânicas.

O novo Grid, apenas o quarto título de uma série com meros 11 anos de existência, se você não contar sua história pregressa, justifica essa alcunha com um motivo simples. Não é como se a franquia tivesse se perdido pelo caminho ou desaparecido, apesar de spin-offs a terem levado para novos ares. Aqui, a desenvolvedora Codemasters sentiu a necessidade de voltar às raízes não apenas de sua própria marca, mas também do que representa correr em um jogo de vídeo game.

O resultado disso é um título que pode soar como simples, até porque realmente é. Mas isso não é nada ruim, afinal de contas, estamos falando de uma das principais desenvolvedoras do mundo dos jogos de velocidade, que olha, agora, para dentro de si mesma. O resultado é um título incrivelmente objetivo, que varia nas opções de carros e circuitos, mas não adiciona firulas ao automobilismo.

Com exceção do conjunto visual belíssimo e da física apurada, Grid é exatamente como um game de 11 anos atrás. E no mercado atual, isso pode parecer pouco para alguns jogadores.

Prova disso é que mesmo em seu como carreira, se é que podemos chamar assim, o jogador é livre para escolher por onde começar. Existem níveis, pontos de experiência e dinheiro, mas eles servem mais como uma métrica de progresso pessoal do que como um fator de desbloqueio. Quem quiser se especializar em uma modalidade, apenas, pode fazer isso; aqueles que preferirem se transformar em um virtuoso do volante também serão bem vindos.

Tudo acontece por meio de um sistema de eventos que abrange desde veículos de passeio ou carros clássicos até competições com monopostos ou, o aspecto que ganha mais destaque desde os primórdios da série, os veículos de turismo. Você pode escolher um, disputar uma prova e, na sequência, seguir para outro, sempre tendo o necessário para seguir adiante em todos eles.

Grid

Aos poucos, é claro, mais opções vão se abrindo, mas esse leque é colocado totalmente nas mãos do jogador. Você pode investir em uma garagem recheada ou mirar nas alturas, focando na liberação de veículos memoráveis como a Renault R26, pilotada por Fernando Alonso na temporada 2006 da Fórmula 1, onde ele conquistou seu primeiro título.

O piloto espanhol, inclusive, é o consultor técnico do novo Grid, algo que, por si só, já confere ao game credenciais das quais ele nem mesmo precisaria. Uma versão virtual dele pode ser enfrentada ao final de uma série que carrega seu nome, com Alonso dando a chancela para um game que se preocupa com pouco mais do que, efetivamente, o ato de correr.

Grid

E esse acaba sendo o maior dos trunfos do título da Codemasters, uma empresa com tradição no segmento e que, também, dispensa apresentações. Ao trazer de volta todos os aspectos da franquia que a alçou ao estrelado, a produtora acerta em cheio, mas mais do que isso, deixa de lado eventuais distrações que foram sendo adicionadas em outros de seus jogos, como os da série F1. São os benefícios de não precisar realizar lançamentos anuais que precisam ser justificados além da atualização de temporada.

Saltam aos olhos, então, os elementos sempre presentes nos jogos da empresa, como os níveis de dificuldade profundamente customizáveis, dando total controle ao jogador sobre o tamanho do desafio. Isso se traduz em auxílios de direção e frenagem, a exibição ou não de linhas de traçado ou a agressividade dos oponentes controlados pela inteligência artificial.

Existem também alguns elementos diferenciados, como um controle de companheiros de equipe em termos de abordagem nas pistas ou um sistema de rivais para quando você for bravo demais para cima de alguém nas pistas. Mas a verdade é que tais elementos seriam, na realidade, as únicas firulas encontradas em um título que vai direto ao ponto, e você nem mesmo vai precisar se incomodar muito com elas.

Grid

Com tudo isso posto, é importante deixar claro que Grid não é um simulador e, apesar de apresentar elementos que remetem a esse estilo, puxa mais para o lado dos arcades. Quem colocar as opções de dificuldade no máximo encontrará desafios que tornam o game mais do que uma simples corridinha, mas da mesma forma, quem procura uma dirigibilidade avançada pode acabar se frustrando, se é que chegaria ao título esperando por isso.

Fernando Alonso é o consultor técnico do novo Grid, algo que, por si só, já confere ao game credenciais das quais ele nem mesmo precisaria.

Esse foco também aparece em certas trocas que são feitas pela Codemasters em prol da variação. Existem pistas licenciadas e reproduções do mundo real, sim, mas elas aparecem tanto quanto os traçados de rua baseados em países do mundo, mas sem, necessariamente, remeterem a provas reais. Você irá de Cuba à Europa em Grid, a bordo dos mais diferentes veículos, mas sem a sensação de estar no grande circo do automobilismo.

É nesse sentido que a ausência de opções de progressão ou um modo mais instigante para desenvolvimento do jogador é sentida com mais gravidade. Grid é daqueles títulos que podem ser explorados em sua integridade em poucas horas, com os modos extras envolvendo corridas online, provas contra o tempo ou amistosos simples, sem fugir do básico do básico que encontrávamos nos jogos de corrida do passado.

Grid

Aqui aparece mais uma faceta desse retorno ao passado, já que, com exceção do conjunto visual belíssimo e da física apurada, Grid é exatamente como um game de 11 anos atrás. É sempre bom ver o cerne do que representa correr aparecendo em um título, e aqui temos um grande exemplo disso. Por outro lado, quando se olha no quadro maior, pode parecer pouco.

No que a Codemasters se propôs a fazer, há pouco que desabone o trabalho feito em Grid. E quando falamos de uma empresa acostumada a chegar muito cedo em bases sólidas que são aprimoradas game a game, a franquia de velocidade recomeça em grande estilo, com um som encantador de lataria raspando, motores potentes e uma dirigibilidade que atende desde novatos até veteranos.

Em uma geração que carece de grandes nomes da velocidade, principalmente nos consoles de mesa, temos aqui mais um grande expoente, mas com uma tração um tanto quanto prejudicada. Como sempre, aguardamos o que a Codemasters vai fazer a seguir, não apenas pela qualidade do que recebemos mas pelo que mais está por vir. Esse, porém, é como aquele prato saboroso, no tamanho adequado para matar a fome, mas que deixa querendo mais, justamente, por ser tão gostoso.

O game foi analisado no PS4, em cópia cedida pela Codemasters.