Quem me conhece sabe que eu e FPS nunca nos demos muito bem. Já tentamos reatar aquela velha amizade dos tempos de GoldenEye 007, mas não teve jeito. Os jogos de tiro em primeira pessoa não são para mim. É algo com o qual já aprendi a viver — e tampouco sinto falta.
Ainda assim, tem vezes que bate aquela curiosidade. Não com um Call of Duty ou um Battlefield, que chegam todos os anos, mas com aqueles jogos cujos lançamentos são sempre pequenos eventos. E Halo 5: Guardians foi um desses casos. Apesar de nunca ter encostado um único dedo nos títulos anteriores, por alguma razão, quis dar alguma conferida no novo capítulo da série. Nova geração, novas perspectivas.
Para minha surpresa, a experiência que tinha tudo para ser desastrosa se revelou bem interessante. Não que pudesse ser diferente, já que a franquia-símbolo da Microsoft é conhecida pela sua qualidade e por ter sido a responsável por estabelecer muita coisa que temos nos FPS atuais. Mas isso é o suficiente para fazer com que eu me interesse de vez pelo gênero?
E a resposta é não. Embora tenha aproveitado muito as várias horas de Halo 5, ele serviu muito mais para que eu entendesse o porquê de meus problemas com o estilo do que ser a porta de entrada para os tiroteios. E a razão para isso é, como muitos fãs vão fazer questão de dizer, que eu “joguei do jeito errado”. Mas que problema há em se focar na campanha principal?
Desde o anúncio de Guardians, a Microsoft destaca o foco dado na tal caçada. Mesmo sem conhecer muito os jogos, sei que Master Chief é o grande herói de toda a saga e vê-lo sendo caçado por um novo personagem, o Agent Locke, é algo capaz de deixar qualquer um curioso com as razões para aquilo. E, à medida que os trailers e demais materiais de divulgação eram liberados, você ficava ainda mais ansioso para descobrir o que aconteceria quando esses protagonistas, enfim, se encontrassem. Até eu estava querendo ver o que ia sair daí.
Bem, e o resultado foi frustrante. A história de Halo 5: Guardians não é ruim, mas mal explorada. A 343 Industries se preocupou em contextualizar tudo para que até quem estivesse tendo seu primeiro contato com a série pudesse entender o que está acontecendo, mas não conseguiu desenvolver essa ideia de maneira que fizesse jus àquilo que nos foi prometido nos trailers.
A relação de Master Chief com Cortana é muito bem trabalhado, o que justifica suas ações e as motivações que o levam em uma jornada louca contra tudo e contra todos para tentar reencontrá-la. O debate sobre a evolução das inteligências artificiais e todos os desdobramentos que surge disso é algo muito interessante e que te faz querer ver mais sobre o assunto, assim como o conflito que nasce de toda essa bagunça. Então, qual o problema com o enredo de Halo 5?
Bem, ele responde pelo nome de Agent Locke. Ainda que a tentativa de expandir a série com outro herói seja compreensível e bastante promissora, o modo como isso é executado corta todo o embalo criado por Chief e o restante da Equipe Azul. E não apenas por uma questão de carisma, mas por uma simples falta de foco. Locke ocupa a grande maioria das missões do jogo, mas sua caçada ao Spartan 117 logo é ofuscada por outras questões menores que começam a aparecer. E, quando os dois finalmente se encontram, o resultado é bem decepcionante.
Não vou entrar em spoilers, principalmente em relação às cenas finais. No entanto, a impressão que fica é que o estúdio se aproveitou do fato de esse ser um capítulo intermediário dessa nova trilogia e apenas jogou fatos, sem se preocupar em dar conclusão para nenhuma delas. A história inicia vários arcos, mas não os fecha. Assim, quando os créditos sobem, você fica sem saber se a trama não respondeu nada ou se você é apenas burro e não entendeu o que houve — e, segundo a reação de muita gente, fico feliz em saber que foi mesmo a primeira opção.
É claro que sempre vão surgir aqueles dizendo que a campanha não importa e que o foco mesmo do jogo é o modo multiplayer. No entanto, se ele não fosse parte importante da experiência ele 1) não estaria disponível e Halo 5 seria lançado como Star Wars: Battlefront, Destiny ou Titanfall, ou seja, apenas com modos online; 2) a Microsoft não ia passar meses batendo na mesma tecla de um confronto cujo resultado é mais frustrante do que as vendas do Vita.
Ele pode não ter muito peso para os fãs que vão passar uma boa fração de suas vidas dentro dos servidores da 343, mas esse não é o meu caso. Assim, embora tenha apresentado uma jogabilidade bastante divertida, focada na velocidade e no dinamismo dos tiroteios, esse simples descuido com a trama me afastou. Eu realmente estava gostando do arco do Master Chief, então por que não me entregaram mais de coisas naquele nível?
Por outro lado, Halo 5: Guardians serviu para que eu entendesse o porquê de tanta gente idolatrar a série. Mesmo o FPS não sendo minha praia, o jogo é muito divertido. Deixando de lado a trama — o que não é difícil, já que o jogo acaba fazendo por você —, a experiência geral é bastante positiva por conta da jogabilidade rápida e fácil de ser dominada. Você não precisa ser um grande conhecedor do gênero e nem mesmo alguém muito habilidoso para sobreviver. É claro que isso ajuda a não ficar morrendo a cada cinco minutos, mas até mesmo esses desastres são facilmente contornados graças ao trabalho em equipe.
O que me chamou a atenção grande por aqui foi o dinamismo da mecânica. A troca constante de armas, os saltos que a armadura oferece e o próprio combate corpo a corpo fazem com que Halo 5 tenha um ar bem mais variado do que outros FPS nos quais me aventurei. Esses elementos podem não ser completamente originais, mas a forma como são usados incentivam você sempre explorar uma nova forma de partir para cima de seus inimigos — sobretudo graças ao design das fases, que aproveitam muito bem essa variedade toda.
E isso serve tudo para dar mais corpo à parte online do game. Todo esse dinamismo que encontrei na campanha fica ainda mais evidente no multiplayer, principalmente graças aos modos que valorizam essa agilidade. Tanto que não demorou mais do que alguns minutos para que eu estivesse pulando e atirando ou me preparando para dar um enorme soco no chão. E, mesmo com minha péssima mira, consegui evitar de ficar em último lugar algumas boas vezes.
E um dos grandes responsáveis por ter me ajudado a gostar um pouco mais desse tiroteiro online foi o Zona de Guerra, modo inédito de Halo 5: Guardians em que duas equipes de 12 jogadores se enfrentam em um mapa enorme ao mesmo tempo em que precisavam enfrentar outros tipos de inimigos. Para alguém com pouca experiência em FPS, a novidade é o elo que liga a campanha com aquilo que já é comum de um multiplayer.
É claro que é impossível você se isolar em um canto do cenário apenas para matar alguns Covenant — afinal, são 24 pessoas atirando e pulando em um só lugar —, mas o novo modo consegue fazer essa transição de um modo bem interessante ao mesmo modo em que, em pouco tempo, já deixa as coisas bem frenéticas. O único problema é que, pelo menos durante a análise, o matchmaking ainda deixava a desejar e era bem difícil conseguir encontrar o número mínimo de pessoas para fecha
É engraçado ver como a 343 Industries conseguiu acertar em tantos pontos e, ainda assim, cometer alguns deslizes que me afastam do gênero. Tecnicamente, ele é impecável. O visual é incrível, a trilha sonora é muito boa e a jogabilidade é refinada e funciona até mesmo para quem não é muito fã do estilo.
Só que a trama de um jogo é a sua alma. E Halo 5: Guardians renega isso por puro descaso. Ele tinha tudo para me conquistar, sendo ótimo tanto em seu enredo quanto em suas mecânicas. Porém, a 343 se perde no meio do caminho. Ela deixa de lado as boas ideias para tentar encontrar justificativas para mais tirinhos e acaba sendo genérico. Foi quando eu vi que, no fim das contas, ele ainda era um FPS.
Os fãs da série podem me odiar e dizer que não é nada disso. E talvez não seja mesmo. Afinal, quem acompanha a série já está habituado aos argumentos rasos que servem apenas de prerrogativa para tiros e mais tiros. Não há nada de errado com isso se você acha divertido, só que isso não é pra mim. A história importa, sim, e é uma pena que não tenha sido dessa vez que eu tenha feito as pazes com o gênero.
No fim das contas, Halo continua não sendo um jogo para mim.
O game foi testado em cópia cedida pela Microsoft.