Heave Ho

por Caio Vicentini

Mãos amigas

Heave Ho é um jogo que, apenas de olhar para seus visuais, já percebemos ser publicado pela Devolver, uma publisher com a fama justificável de ser aquela que abre espaço para pequenas desenvolvedoras lançarem alguns dos títulos mais interessantes e diferentes do ano. Depois de jogos como Katana Zero e My Friend Pedro, chegou a vez de Heave Ho, um party game desenvolvido pela Le Cartel Studios.

É um jogo que grita diversão descompromissada logo no seu menu inicial e proporcionou, provavelmente, a experiência cooperativa mais divertida do ano. Ele consiste em você, sozinho ou em um grupo de amigos, chegar a um ponto específico do mapa, contando apenas com o movimento desajeitado nas mãos e a cooperação dos colegas. É necessário trabalhar em equipe para fazer uma miríade de manobras, desde uma ponte humana até arremessar seu colega ao outro lado e torcer que ele consiga se agarrar a algo.

As primeiras fases servem como um tutorial das mecânicas básicas, mas rapidamente são inseridos obstáculos e mecânicas novas para se aprender. O maior conselho que eu posso dar nessa análise é: certifique-se que você tenha pelo menos mais uma pessoa para te acompanhar na epopeia que é o jogo, pois a grande diversão está em tentar encontrar uma forma de todos os envolvidos passarem pelos obstáculos de cada fase. O modo cooperativo é a grande estrela, com fases feitas para desafiar a capacidade motora e, principalmente, a paciência dos jogadores uns com os outros.

Tive a chance de jogar com duas pessoas diferentes em jogatinas distintas, mas indo desde o início com cada uma delas, e era surpreendente como éramos capazes de, em alguns níveis, encontrar soluções diferentes para superar obstáculos específicos. Enquanto com uma pessoa, o caminho por baixo das plataformas era o mais fácil, com outra companheira de equipe conseguíamos, com pouca dificuldade, passar pelo caminho superior, uma demonstração de como o level design dá espaço para a criatividade de seus usuários, que podem resolver os desafios como bem entenderem.

Cada nível introduz de maneira orgânica os novos obstáculos, sendo quase sempre natural a curva de aprendizado para solucionar os problemas. É possível afirmar que, após a confusão inicial, enquanto os jogadores se habituavam aos comandos, solucionar o quebra cabeça que era cada fase se tornou muito intuitivo. A sinergia era tanta que, às vezes, nem era necessário falar o que precisava ser feito, pois o jogo já ensinou fase após fase como o manejo com as plataformas e a física funcionam.

Ainda assim, é preciso pontuar que, em meio a esse crescente de dificuldade em cada nível, as fases finais acabam sendo longas demais, deixando de serem um teste de raciocínio para se tornarem de resistência em segurar os botões dos joycons por tanto tempo. A boa notícia é que essas fases continham checkpoints que poupavam a frustração de perder quase 10 minutos de progresso, o que é um tempo considerável para um jogo em que algumas fases podem ser solucionadas em menos de 60 segundos.

Os estágios são tão curtos que, em alguns momentos, caso os jogadores demorem demais para solucionar, algumas barras de auxílio começam a ser reveladas e ajudam aqueles com mais dificuldade a passar para a próxima fase, o que pode ferir um pouco o orgulho de alguns. É interessante ver a preocupação de desenvolvedora em tornar Heave Ho uma experiência acessível.

Como uma pessoa que busca constantemente games cooperativos para jogar com amigos e namorada, Heave Ho aparece como uma das melhores opções em um mercado que já está inundado de bons títulos como Overcooked e a série Jackbox Party. Passar pelas fases era recompensador e cair das plataformas e explodir ao som de trompetes desafinadas era engraçado. Ainda que o modo singleplayer funcione e entretenha, é infinitamente mais divertido com amigos para partilhar risadas e frustrações.

O jogo foi testado no Switch, em cópia cedida pela Devolver Digital.