Assim como praticamente todos os outros estilos de jogos, o gênero de corrida evoluiu bastante desde os primórdios. Saímos de provas simples e carros com poucos comandos para reproduções completas, que transformam os motoristas virtuais em habilidosos do volante e mostram com todo o realismo os veículos mais badalados das pistas. O ato de correr se tornou mais técnico, muito arrojado e ganhou um visual de encher os olhos.
Levando tudo isso em conta, é no mínimo inusitado notar que um título à moda antiga, mas nos dias de hoje, possa agradar tanto e, acima de tudo, ter tanto charme. É exatamente isso que Horizon Chase, jogo dos brasileiros da Aquiris, nos apresenta. Apesar de ser uma clara volta ao passado e ter sua essência completamente motivada por títulos de outrora, o game se sustenta por si só. E é aqui que está a sua grande força.
A Aquiris não faz questão de esconder a sua maior influência para a criação do game – Top Gear. Esse aspecto se estende a praticamente todas as características do título, desde sua estrutura até a jogabilidade, passando pelo visual e também pelo estilo do desafio. Ainda assim, a sensação não é de se estar jogando um clone, como tantos games “inspirados” em outros, mas sim, um título que chega para somar à antiga fórmula.
E essa disposição de ser novo, mesmo que antigo, chega acima de tudo pelo conjunto gráfico. Ao fugir do já batido estilo pixel art, a Aquiris conseguiu entregar um resultado fresco e, ainda assim, plenamente reconhecível. Dá para perceber as influências do passado ali, mas ao mesmo tempo, se tem a sensação de descoberta de um mundo todo novo.
A jogabilidade simula os velhos controles com poucos botões, utilizando toques apenas para virar o carro, acelerar e ativar o nitro.
Pontos turísticos conhecidos dos países se misturam com carros também reconhecíveis. Ao contrário dos veículos genéricos que vemos em games desse tipo, temos máquinas como DeLoreans, Vipers e outros, todos passíveis de desbloqueio e utilização, cada um com suas características e gerando uma evolução necessária caso o usuário queira continuar em primeiro lugar.
Mesmo nas telas maiores dos tablets, Horizon Chase tem um desempenho muito bom. Não existem serrilhados ou falhas gráficas, mesmo nos momentos de largada ou grande ação, com muitos veículos correndo ao mesmo tempo. O visual como um todo se modifica não apenas a cada novo país liberado, mas também entre as fases e, muitas vezes, dentro de uma mesma pista, e tudo funciona de forma harmoniosa, não apenas dentro do conjunto do título, mas também do ponto de vista técnico.
Esse conjunto todo ganha toques ainda mais carismáticos quando se escuta a trilha sonora, sempre instigante é adequada para os momentos de tensão que ocorrem a cada corrida. Não, você não está enganado – as músicas não só têm forte influência de Top Gear como foram compostas pelo mesmo autor dos clássicos, Barry Leitch. Como em uma alegoria do próprio Horizon Chase, ele apresenta reimaginações de seus clássicos, agora para uma nova audiência.
Apesar de apresentar um conjunto visual e sonoro belíssimo, Horizon Chase não dá muito tempo para o jogador ficar ouvindo música e apreciando paisagens. Com exceção das primeiras pistas, nas quais ainda estamos nos acostumando com tudo, temos um game bem desafiador diante de nós.
Assim como nas melhores partidas de Mario Kart, é bem comum perdermos corridas nas últimas curvas por causa de erros próprios. Os rivais não contam com cascas de tartaruga para te atacar, mas fazem isso usando seus próprios veículos e não têm o menor medo de arranharem a lataria.
Apesar de ser uma clara volta ao passado e ter sua essência completamente motivada por títulos de outrora, o game se sustenta por si só.
Esse aspecto, aliado a um design de pistas que, muitas vezes, traz curvas sinuosas e que te jogam para fora, elevam o desafio do game. Por estar nos dispositivos móveis, é claro que Horizon Chase pode ser considerado um game casual, mas bastam algumas partidas para se perceber o nível de habilidade envolvido. As pistas mais avançadas não serão tarefa fácil, e chegar ao fim do game será um feito nada simples.
Para compensar um pouco as coisas, a Aquiris aposta em controles simples e confiáveis. Opções bizarras disponíveis em games de corrida para celular, como o uso do próprio aparelho como volante, estão disponíveis, mas não são o padrão. A jogabilidade simula os velhos controles com poucos botões, utilizando toques apenas para virar o carro, acelerar e utilizar o nitro. Não existe freio e parar bruscamente nem seria uma boa, a não ser que o jogador deseje se transformar em uma bola de pinball enquanto é ultrapassado pelos oponentes.
Na mistura entre desafio e visual, vale uma crítica. A Aquiris optou por uma câmera que mostra o veículo bem de perto, o que dificulta a noção exata da aproximação de uma curva. Nos circuitos mais sinuosos e apertados, são poucos os milésimos de segundo disponíveis para reflexo, e quando é preciso não apenas virar, mas também desviar dos rivais, essa soma acaba se tornando um tanto punitiva.
Horizon Chase acaba ficando um patamar interessante para os títulos independentes. Por mais que as saudades do passado sejam grandes, é muito importante ir além disso, já que toda uma nova audiência existe hoje, principalmente quando se fala em jogos mobile. Saber pesar a nostalgia e a inovação é o grande desafio aqui, um que a Aquiris parece ter tirado de letra.
São horas de diversão disponíveis aqui, e ao final, um alerta – “vá viajar de verdade”. Ter uma noção da realidade, do que está acontecendo agora, ali do outro lado da janela. Uma ideia que, provavelmente, reflete o ponto de vista dos próprios desenvolvedores e que transformou Horizon Chase em uma experiência que pode acabar sendo maior que ela mesma.
O game foi testado no iOS, em cópia cedida pela Aquiris.