O Brasil alcançou o auge dos podcasts e YouTube no meio da década passada com seus criadores de conteúdo nacionais originais que falavam de tudo, principalmente games, o maior mercado de entretenimento mundial. O 99 Vidas nasceu, justamente, desse tipo de ideia de conteúdo focado, a partir de influenciadores de renome e sites como Cinema Com Rapadura, em um programa que falava da relação dos apresentadores e convidados com o passado “gueimeiro” no país. Daí, surgiu também 99 Vidas: O Jogo.

O título é um clássico Beat’em Up com o elenco do podcast, no qual você precisa bater em figurinhas citadas e ambientes citados no programa, somados aos clássicos de games nesse estilo, como as ruas da quebrada, estação, em cima de um trem, prédio do chefão final, etc. Se formos falar de novidades, a resposta seria nenhuma, pois o jogo não inova em nada relevante, ao contrário, podemos citar de onde eles pegaram cada quesito do jogo, que bebe muito da fonte de Double Dragon Neon, desde as variações de combos com soco, chute e usar os pontos obtidos como dinheiro para comprar itens e melhorias de ataque. A única novidade gráfica são os cenários totalmente brasileiros.

A história é bem simples: o artefato 99 Vidas foi levado por um empresário que queria ser eternizado, usando os poderes elementais para fins de dominação. Os valentes guardiões vão entrar em ação para pegar de volta essa relíquia mágica, e para isso, precisam derrotar adversários repetidos e chefes que são paródias de causos contados dentro do podcast, ou seja, é uma grande piada interna para os ouvintes. Quem não for, pode admirar o nonsense com a intenção de fazer humor.

O que me deixou muito impressionado foi a Pixel Art, com personagens bem animados, cenários bem compostos e detalhes em todos os estágios, assim como música e efeitos sonoros que também são muito legais. As vozes, porém, são terríveis e parecem ter sido ripadas dos próprios podcasts e colocadas nos personagens, em vez de dubladas adequadamente. Nem dá para entender direito muitas delas, e tanto faz, já que você não vai se apegar aos personagens mesmo.

O jogo dispõe de vários personagens para jogar inicialmente, e ainda é possível desbloquear outros novos que não fazem diferença, pois são todos iguais! Até as personagens femininas são semelhantes aos homens, a ponto de terem os mesmos golpes elementais. Nos Beat’em Ups dos anos 1980, tínhamos ao menos três personagens, o “rápido”, o “fortão” e o “mediano”, o que foi totalmente abandonado aqui. Os desenvolvedores até tentaram forçar uma velocidade maior para os lutadores do tipo Trovão, mas no fim é a mesma coisa: combo com soco ou chute que termina com elemental e nenhuma variação de efeito no inimigo.

Todos os personagens tem os mesmos super golpes, só disfarçados pela aparência, mas na prática, a mesma coisa: dash com soco é o ataque que derruba e dash com chute… Também, mas fingindo ser um projétil. Os Hypers são magias que pegam a tela toda e não existe liberdade para juntar essas técnicas em um combo avassalador, como acontece com Sengoklu 3 ou Scott Pilgrim, claras referências gráficas de 99 Vidas: O Jogo.

Os adversários sofrem do mesmo mal, e por isso, você verá os mesmos inimigos sempre, só alterando as cores para mostrar que possuem mais HP. Apesar de tanta coisa previsível de começo, o jogo é difícil e o motivo é bem simples: 99 Vidas é desbalanceado como se fosse feito na década de 1980 por uma empresa desconhecida. Os arremessos te deixam exposto e alguns adversários muito próximos não são atingidos, te tornando uma presa fácil para os ataques incessantes e demorados dos adversários, quebráveis apenas pelo Super que gasta HP.

O jogo tem seis fases normais e duas extras, que seriam como um modo de prolongar o jogo, colocando os rascunhos de criação de fases e dentro de um computador. Elas não têm nada de novo e se tornam estágios maçantes em linha reta com inimigos repetidos e filtro gráfico aplicado. A única fase realmente criativa é a da rua, onde os carros mantêm o fluxo e você pode usar o atropelamento como recurso de jogo, mas para por aí. Os chefes não são livres para bater, com todos os combates no esqueminha de esperar a hora certa de os atingir livremente, como em um jogo de ação, enquanto as caixas só servem para serem destruídas e revelar itens, não como recurso de estratégia. Entre as armas, temos os clichês como cano, bastão e garrafa, que com Dash, gera um ataque de múltiplos hits.

O que falta em 99 Vidas: O Jogo é algo bem básico, mas que acaba sendo sobreposto pelos gráficos e necessidade de agradar aos criadores da marca, e não aos jogadores, que vão encarar o game como tal, pois é disso que se trata o produto, no fim das contas. Assim como n’A Lenda do Herói, falta o conceito de jogo bem definido e inovador, recursos de evolução de personagem e variação no gameplay.

Um simples lutador do fangame do Avengers: United Battle Force tem muito mais recursos que todos os personagens de 99 Vidas juntos, pois o título foi planejado, desenvolvido e trabalhado para esse resultado. No resumo, parece um Beat’em Up de 1980 com skins de podcasters em uma grande piada interna para os fãs… Como criador de games e fomentador da indústria e mercado nacional, espero que os criadores se interessem mais pelo título e reformulem o que eles já têm em mãos para gerar uma experiência e criar fator replay, pois se você jogar fazendo todas as fases, enjoará mesmo enquanto está ganhando.

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