Quando falamos que os indies estão se espalhando pelo mundo, não é apenas estatisticamente, e sim, comprovadamente. No exemplo maravilhoso que veremos em seguida, o estúdio Mojiken nos traz uma pérola da distante Indonésia para o mundo a cada jogo lançado, e desta vez, criou algo muito cativante, que se assemelha a outros projetos já lançados por um russo e um brasileiro, pelo visual e abordagem fofinha, tentando suavizar um assunto pesado e necessário: relacionamentos familiares, ansiedade, autocobrança, depressão e metáforas interativas que ajudam as pessoas a compreenderem e eliminarem o preconceito contra as doenças psicológicas.

A Space for the Unbound não é uma ameaça de gatilho, e sim, um modo sensível e assertivo de mostrar que você não está sozinho, e que todo mundo sofre… Às vezes.

Você é o garoto Atma, que vive em uma cidade pequena na Indonésia dos anos 1990 e tem uma rotina tradicional de pré-adolescente, exceto por ser co-autor de um livro que sua amiga pequena está produzindo dentro de um vagão abandonado, perto do rio. A garota vive em um ambiente conturbado e precisa fugir para poder escrever suas histórias que cativaram o sensível protagonista, a ponto de ele chegar a invadir a casa dela para pegar um brinquedo e, assim, conhecer mais sobre porque a misteriosa Mirlala é relutante em voltar, por que sua mãe é triste enquanto seu pai acha que está sendo bom.

É muito importante entender que a narrativa tem muita influência no gameplay, e se for para definir um gênero de jogo, eu escolheria RPG de Percepção, pois exige que o jogador preste atenção na situação e como a interação de itens e vontades das pessoas pode gerar os problemas psicológicos que elas nem sabem ter. Esse nem é o maior dos problemas, pois a interação tóxica entre todos faz o maior mal e gera os bloqueios que nosso herói vai desfazer, com sensibilidade e a ajuda do Livro Vermelho de Feitiços, que desperta a percepção da flor dourada, uma metáfora para o conhecimento de psicanálise, por meio da história fictícia da pequena Mirlala

Em resumo, a história fictícia mostra uma pequena Princesa Estelar, que estava morrendo por ter gastado sua energia vital fazendo milagres para pessoas ingratas. Como não foi retroalimentada pela gratidão, ela acaba agonizando e seu amigo gato era o único ao seu lado. Por isso, ela gastou sua última energia para criar um milagre de gratidão garantida para seu amigo felino, mesmo que insuficiente para que sobreviva, só pelo amor da amizade – essa era a flor dourada da percepção psicológica, que permite a Atma entrar na mente das pessoas e resolver as questões que os travam na vida real.

Os comandos são bem simples e envolvem unicamente andar, correr e confirmar coisas. Notamos que nesta demo, chamada de Prólogo, existem muitas opções de interação com as pessoas, pois a cada uma delas, surge um menu com várias opções, sendo a principal a de conversar. Se a pessoa tem algo a lhe dizer, ela dirá; se é um animal, você pode acariciar, com objetos, a ideia é investigar e combinar. Cabe ao jogador prestar atenção no que está ocorrendo. Não existe nenhum combate ou conflito para interagir ou vencer nesta amostra, apenas puzzles na vida real e no mundo psicológico, envolvendo entender as analogias e relações dos diálogos e os pesares sentimentais dos personagens.

Os gráficos são magníficos e o pixel art é grande e com espaço para detalhes, que inundam a tela em uma composição muito leve e sem poluição visual. Os cenários variam muito, mesmo com os personagens se movendo pouco em uma cidade em que você adoraria passar as férias para relaxar, até encontrar uma menina paranormal pedindo para você ler o livro dela. O design dos personagens é do estilo anime e tem animações fluentes e muitas expressões. A música e efeitos sonoros dão aquele clima de tranquilidade e os NPCs dão uma impressão de credibilidade, sendo até bem familiares para quem é brasileiro, como o tiozinho que vende comida na rua, o profeta de calçada e a arquitetura de telhas e casas grudadas com muros e grades de lanças.

Seguindo a tendência indie de se aprofundar e discutir assuntos relevantes da sociedade, que já atinge jogos de grandes estúdios, A Space for the Unbound segue a mesma tendência de Lenin – The Lion e não se trata de um novel que você só fala com as pessoas e segue a leitura. Aqui, temos uma simulação de como um amigo pode ajudar o outro, ou um desconhecido pode auxiliar os demais a perceberem seus pesares mentais e como solucioná-los, com os recursos disponíveis, utilizando da empatia e consideração, mesmo se arriscando. No final, acaba dando um significado poético para o compromisso entre os laços afetivos. Por isso o nome, eu acho…

Claro que o jogo não é uma terapia nem um tratamento, nem foi feito para estudantes ou profissionais de psicologia; é um conto sobre as pessoas que sofrem pelos motivos mais comuns em nossa sociedade e como todos passam pelas mesmas coisas, com origens similares. Em outras palavras, é uma história sobre empatia, amizade, laços afetivos, vencer o preconceito contra pessoas depressivas e que essas doenças psicológicas têm causas e soluções.

Sem data marcada para sua versão completa, mas prometendo fortes emoções, A Space for the Unbound vai chegar ao PS4, Xbox One e Steam, com sorte, ainda este ano. Assim, todos os mistérios serão desvendados, saberemos quem é aquela menina que persegue Atma, se Mirlala é realmente um ser mágico e se tudo aquilo foi realmente um sonho. Jogando a demo, você vai entender porque este indie está afligindo corações ao redor do mundo.

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