É normal as pessoas assimilarem cultura grega e jogos àquele título antigo lançado na era PS2, daquele espartano com distúrbio de controle de raiva ceifando todos que ousassem ficar ao seu alcance, fossem minotauros, cidadãos, deuses ou vasos. Mas com este indie, seus conceitos sobre Grécia Antiga e games serão enriquecidos e aprofundados: Apotheon conta a história de Nikandreos, um cidadão qualquer que sobrevive a um ataque inimigo e é escolhido por Hera para trazer de volta a benção divina que Zeus retirou dos homens, condenando o mundo a extinção.

Apesar de ser classificado como um Metroidvania, Apotheon vai muito além de um simples jogo de exploração de câmaras e combates contra inimigos de AI genérica e personagens míticos. A estratégia e a aparência são os grandes diferenciais deste meu novo vício diário que não me permite enjoar, pois sempre tem algo novo para se descobrir. E mesmo as partes de backtracking não são maçantes – onde é preciso voltar para abrir portas ou passagens as quais não era possível antes de adquirir certa chave. O jogo está sempre indicando novas opções de tarefas a serem cumpridas, e caso você queira, pode também só ficar vagando pelo Olimpo criando confusão e enfrentando os guardas ao estilo GTA.

A primeira coisa a saltar às vistas é o visual “vaso grego arcaico” do jogo, o que me fez bater palmas ao time de criação da Alien Trap, uma vez que deve ter sido complicado usar uma paleta de cores tão limitada para ambientar tantos lugares diferentes, conceituar efeitos e elementos naturais que não estão representados em todo acervo de arte grega antiga.

Há também a magnífica trilha sonora (que aí sim lembra God of War), e juntos estes dois aspectos dão o toque perfeito para você emergir nesta guerra de um homem só, que vai comer o pão que o Hades amassou para convencer Zeus a tornar o mundo fértil e pacífico de novo, usando apenas armas tradicionais daquela época.

Sobre as armas, ainda, abro um espaço especial só para o sistema de combate e uso delas, que não são poucas, mas desgastam-se rapidamente. Você começa com seus punhos e vai conseguindo se armar ao enfrentar inimigos ou invadir lugares que escondem equipamentos, e cada mão sua tem uma função específica: uma segura as armas e a outra um escudo ou tocha.

No primeiro quesito, temos as de combate próximo e as disparadoras de projeteis – lembrando que é possível arremessar qualquer coisa contra os adversários e ir buscar depois caso não tenha se deteriorado. Sim, os equipamentos quebram com o uso e por isso, caso consiga uma ótima arma, já saiba que ela não vai durar muito, então leve em conta que alegria de grego pobre dura pouco…

Além das armas, nós temos à disposição a evolução da armadura grega passando por vários modelitos, desde o pelado ateniense até o pesado espartano, e apesar de as armaduras não desgastarem, os escudos têm limite de resistência. Todavia, não se desespere, pois existem meios de reparar este item indispensável, o qual pode arrebentar nos momentos de “crise econômica” do jogo.

Explicando melhor, estes momentos são quando os recursos para fazer craft de novos kits de reparo ficam escassos e seu estilo de luta retrancado terá que mudar para o de agilidade, abusando da esquiva e do território para se salvar das ameaças até conseguir comprar, roubar ou catar de um defunto solidário. O fator combate é muito divertido e fascinante, já que ele permite que cada jogador encare os adversários dependendo da personalidade do jogador, e não ser refém do comportamento da AI, o que torna cada inimigo um desafio mediano.

Outro ponto importante a ser comentado é que se você for sensível à violência ou nudez, já se prepare, pois, apesar de não haver nenhuma insinuação explícita, o visual do jogo é fiel à época e você verá muita nudez à mostra e muita violência fria, tal como era na época. Você mesmo pode ser um assassino frio e matar transeuntes por trocados, pessoas dormindo ou Faunos te convidando para tomar vinho, e até mesmo animais; e é normal ver pessoas “mal assassinadas” agonizarem e espirrando sangue, com direito a som de agonizo e tudo. Em suma, só os mercadores não são assassináveis, o resto pode ser vitimado pela sua decisão e até é possível assassinar fatalmente por trás quem acabou de te ajudar. Eram tempos difíceis…

Certamente o jogo tem seus defeitos. Um bom exemplo é como a animação as vezes ficar esquisita, travando na subida de certas plataformas irregulares, sem contas os itens que ficam inalcançáveis, a deficiência na configuração dos controles, e como às vezes é difícil grudar numa escada ou teto escalável. Ainda assim, nada disso atrapalha que atrapalhe as reações nos períodos mais críticos do jogo.Apotheon é a odisseia de se jogar sem perder muito tempo em mapas e cutscenes demoradas ou partes enjoativas ou chatas que muitos Games AAA te obrigam a passar, e como é ricamente ornado e cheio de recursos, torna-se uma experiência indispensável para quem quer sair da mesmice. O game está disponível para PC (também com versões Linux e Mac) e PS4.

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