Depois de um ano saturado de Metroidvanias, começamos 2020 com uma grande obra de arte nascida das montanhas da Colômbia, que se apresenta como “uma carta de amor aos clássicos J-RPG”. Jogando, se percebe que é uma grande homenagem que extrapola os games, chegando aos animes e desenhos animados, mas sem deixar de ser um ótimo jogo original que reverencia com muito esmero todos esses autores que alimentaram a imaginação da desenvolvedora Dreams Uncorporated, junto do Estúdio SYCK. Uma pérola indie cuja demo já garantiu muita empolgação e alguns prêmios.

Crisbell é uma menina orfã que mora no orfanato da Madre Superiora, uma mulher jovem, elegante e preocupada com suas meninas, que estão sempre atarefadas e raramente têm tempo para algo além de estudar, trabalhar e ir à igreja. Por isso, os arredores do local são um tanto desconhecidos, mas na vila onde residem, todos são conhecidos, e é quando algo atípico ocorre.

Um sapo falante de cartola faz nossa história acontecer. Parece que a pequena Cris é uma maga do tempo, mas diferente dos habituais, pois consegue manter as três dimensões temporais abertas ao mesmo tempo. Essa descoberta vem em boa hora, pois sua vila é atacada logo em seguida e ela precisa ajudar de alguma forma, pois a intenção do inimigo é a extinção do local com seus moradores.

Seria muito óbvio e simples se o jogo fosse somente mais uma situação de evoluir personagens para bater nos outros, e é aí que Cris Tales tem seu primeiro destaque. A travessia de dimensão temporal faz passado, presente e futuro existirem ao mesmo tempo, na tela, dividida triangularmente, onde usamos o sapinho Matias para nos ajudar a resolver problemas, salvar pessoas, descobrir mistérios e nos decepcionar com quem confiávamos. Como o sistema temporal que o jogo traz é muito sólido, é possível prever ou antever coisas apenas caminhando para que o reflexo do cristal temporal nos mostre como era alguém jovem, como será quando velha e se vai morrer cedo.

Com um sistema de interação temporal muito divertido e interessante, as tarefas para avançar no jogo não são previsíveis e tediosas como na maioria dos J-RPGs, e ver os resultados no presente dos atos realizados no passado, estilo “De Volta Para o Futuro”, é bem gratificante. Isso também abre a imaginação para várias formas de se usar esse poder para entender procedimentos de funcionamento social da vila, tirar vantagem dos inimigos e ajudar as pessoas, mesmo que elas não saibam. Para o sistema de batalha, temos os clássicos menus de ataque, item e técnicas, com a opção de usar o efeito temporal ou não, pois é possível favorecer os adversários caso esse aspecto não seja aplicado sabiamente.

No combate, pode-se usar os ataques elementais, mas sempre atentos ao status do adversário, técnicas de espada e a vez do personagem aparecendo na tela. Até aí nada de novo, mas e se pudéssemos molhar o escudo do oponente, acelerar o tempo e enferrujá-lo? E se pegarmos o jovem Orc e acelerar o tempo dele para o fazer ficar velho? Talvez ele se torne mais fraco, mas também mais sábio, será que vale a pena esta troca?

Quando se joga Cris Tales, essas estratégias são mostradas como exemplo para o jogador, mas existem diferentes possibilidades que nem mesmo estão na demo, para que a gente passe vontade até a versão definitiva, e deu certo. Com tantas variações de ações, até mesmo enfrentar os mesmos adversários tem seu fator replay.

A arte em Cris Tales é o primeiro assombro. De uma qualidade impecável em HD e um estilo de contos de fadas com animação ao estilo Dragon Bones, com articulações independentes de cada membro, além de animação tradicional nas cutscenes, tudo isso coloca jogadores de todas as idades em um fantástico mundo com todos os tons de azuis que são possíveis. As cores são usadas de forma muito bem composta, contrastando com o vermelho dos cabelos e o amarelo do sapo. As músicas e efeitos sonoros são ótimos e ajudam a criar aquela ambientação necessária para imergir nesta aventura e os NPCs têm carisma, que faz você pensar no futuro deles, que só depende de você, mesmo quando está diante da molecada chata que te importuna.

Com um sistema de combate por turnos clássico com fatores inovadores, uma arte magnífica e uma história que começa simples e escalona rápido, Cris Tales é a grande pedida para quem quer mergulhar em uma história divertida com combates de dificuldade mediana e que requer muita criatividade para superar os obstáculos, tanto na obtenção de um item , para derrotar um adversário aparentemente invencível ou salvar a loja de itens de desmoronar com a passagem do tempo. Tudo isso em uma demo de menos de uma hora!

Não deixe para depois, baixe a demo e entenda agora porque uma nova legião de fãs está ansiosa por este novo J-RPG indie que pode criar uma nova tendência entre as grandes produtoras, mas que só os produtores independentes têm coragem de arriscar.

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