Quando fui apresentado a esta demo, achei uma incrível oportunidade de discutir com os players de hoje e ontem que existe limite pra tudo, até para as “tendências”. No texto anterior, analisamos o maravilhoso Trajes Fatais e a garra e esforço de um estúdio independente em criar um game nacional com qualidade e destaque, que de tão efetivo chamou a atenção do mundo, que já o pede no EVO 2016! Esse caso é mais que o antônimo, é o antagonista. Cruz Brothers é um jogo indie que indico a não passarem perto, mas servirá de mau exemplo. Ou seja: não é inútil.
O game já começa com um aviso de que se trata de um Pre-Alpha e, por isso, muitas coisas estarão incompletas. Acho que as correções de português ficarão para a versão Beta ou Vanilla 1.13. Depois me deparo com umas de minhas três grandes surpresas sobre este game: foram três estúdios que fizeram esta obra-prima! Sim, segue o nome dos réus: Donut Coffee Shop Studio, DesignLab, que pertence à UFSC e LZ Studios, o que se salva, pois fez a trilha sonora e é a única coisa que posso elogiar: as faixas originais são bem executadas, mas já não posso dizer o mesmo da dublagem.
Longe de parecer arrogante por ficar me auto-afirmando sobre o game independente, logo eu que sou a favor do cenário Indie e principalmente nacional, mas existem alguns pingos a se por nos Is e Jotas: por ser a favor, sou sério quanto à isso. Explicando fica melhor: fazendo uma pesquisa básica descubro que os Cruz Brothers são dois irmãos boxeadores de Santa Catarina, que foram treinados pelo professor Marcos Luz. Sua dedicação ao boxe o fez ir para Cuba, filmar um documentário sobre esta arte. Mas se o game era a realização de uma homenagem, o tiro saiu pela culatra. Não sei quais as intenções por trás deste projeto portanto não vale analisar nada além do game.
Como podemos ver nas imagens, a modelagem 3D é horrível, não respeita a anatomia humana, todos os modelos são iguais e só se alteram as características dos lutadores que parecem ser outros alunos da mesma academia de boxe. A iluminação é estranhamente escura e tem um ringue muito mal posicionado em várias telas. O HUD é simplório e todos os personagens têm os mesmos golpes e movimentos. É pior que UFC Undisputed, onde, pelo menos, tínhamos quatro variações de estilo de combate. Os controles são independentes: funcionam quando querem e não existe um sistema de luta, basta esmagar os botões. Mesmo que você queira seguir uma ordem respeitando espaçamento, esquiva e ataque, os HitBoxes não respeitam a mecânica do game mais básico. Os maiores efeitos especiais são câmera lenta e quadradinhos vermelhos que voam das luvas, a claridade dos personagens aumenta e o som muda. Mas nada ocorre além de uma decepção…
https://www.youtube.com/watch?v=19E2WKWVEOo
Temos um fangame de mais de seis anos atrás, Hajime no Ippo, de Mugen, um projeto do Xande Toskomics (atualmente desenhando no canal Rebosteio), que desenhou e programou sozinho, e em HD. Comparando ambos os jogos de boxe, um autoral e um baseado em anime, podemos notar que não era questão de criatividade e sim de aplicação. Um game é um projeto complexo, não algo que possa ser feito de qualquer jeito, ou terá o efeito contrário a seu objetivo. Se Cruz Brothers é um projeto sério, recomendo ao estúdio aprender antes de nada os conceitos básicos de um video game, jogando e lendo sobre.
O mercado de games não é o mais rentável do mundo, superando o de cinema, à toa. Sejam amadores ou profissionais, cada Game Maker deve dedicar seu esforço a conseguir o melhor possível dentro de suas capacidades, mas tem que ser honesto e focado no conceito, dentro de um projeto coeso e sério em todos seus critérios obrigatórios: gráfico, game system e roteiro. Fazer um game não é modinha… Para finalizar, espero que ainda saia algo bom desta iniciativa mas a expectativa é nula.