Depois de dar uma olhada em Beholder, meu destaque pessoal no BIG Festival 2017, chegou a hora de analisar o grande campeão do prêmio de “melhor jogo brasileiro” e  “melhor game por voto popular”, Distortions do estúdio Among Giants, de São Paulo. Tive acesso à mesma demo disponível no evento, não se tratando da versão final do produto, que pode ainda receber melhorias.

À primeira vista, no evento, o jogo chamava a atenção pelos gráficos bonitos e a personagem feminina, que anda em cavernas com um violino nas costas. Nenhum inimigo aparecia e não entendíamos como o instrumento funcionava. Acreditamos que o game continuaria do lado de fora e que a caverna seria uma grande metáfora da personagem, visto que o título é ambientado em um universo fantasioso semelhante a sonhos, mas ninguém achou a saída para termos certeza…

Jogando em casa, com toda a atenção devida, percebi que Distortions é um jogo-cabeça (não só por ter puzzles), que coloca o jogador na pele da violinista que usa capa de chuva e consegue distorcer a realidade com melodias curtas que você é obrigado a tocar para poder avançar. Como o instrumento é funcional e livre pra usar em qualquer momento, você pode relaxar e tocar as músicas que quiser/puder usando os quatro botões principais, que representam as cordas, lembrando muito a Ocarina de Link, que permite executar canções conhecidas, bastando saber as notas.

Tudo inicia com lembranças de um relacionamento que não deu muito certo e a protagonista começa no breu de um corredor escuro. Seguindo a luz, chegamos em um apartamento que ela dividia com alguém – um lugar branco, rodeado de fotografias que remontam ao passado distante e próximo da personagem. Em uma luz emitida da mesa, onde repousa uma partitura, um ser estranho de forma humanoide segurando um violão nos faz recordar da nossa habilidade musical e começa o tutorial do violino. Tudo é muito simples de aprender e, terminado, somos jogados ao mundo surreal de Distortions.

Começamos na caverna, onde a maioria das pessoas experimentaram o jogo no BIG Festival de 2017 e diferente deles eu consegui sair da caverna e até entendo porque eles não o fizeram, não era tão fácil ou intuitivo de fazê-lo e aí entramos em um território pantanoso para este título: os quesitos básicos para um game não estão presentes. Lembrando os mesmos quesitos que destaquei na criação do jogo de boxe Cruz Brothers, Distortions peca por deixar de lado 3 fatores de suma importância: comunicação gamística (metalinguagem), curva de aprendizagem e diversão.

O trajeto vai do apartamento, onde se aprende sobre a personagem e violino, para a caverna, onde a protagonista tenta fugir do monstro e aprender a melodia do silêncio. Depois, chegamos ao mundo aberto (com restrição de caminhos, por estarmos jogando uma demo) e continuamos a caminhar até encontrar uma carta que conta como ser uma namorada pode ser terrível se não tivermos auto-estima.

Nestes três pontos, não existe uma composição de cena que mostre claramente os obstáculos “puláveis”, aberturas “passáveis” e sistema de navegação que indique se você está avançando ou retrocedendo na caverna. Tudo é igual, não existe um ponto de referência claro, principalmente quando mudamos de perspectiva. Mesmo quando completei a partitura para aprender a canção do Silêncio, não sabia se a passagem à frente era o caminho certo, pois não estava claro se eu devia voltar. Minha última alternativa, por eliminação, era usar a melodia para o inimigo não me notar e me deixar passar.

A ativação da música designada, por sinal, é complicada, com um esquema parecido com o de Guitar Hero se sobrepondo às cordas. Enquanto isso, o botão do mouse precisa ficar pressionado o tempo todo, com a falta de padronização dificultando a experiência.

A personagem anda rápido e os comandos funcionam bem. A trilha sonora é boa e a mecânica do violino funciona de maneira gratificante, principalmente quando se quer tocar músicas que não as exigidas pelo game. Nas cenas, o 3D fica craquelado e dá pra ver do outro lado, como na época do Nintendo 64, dependendo de como se rotaciona a câmera. Jogando na resolução máxima, podemos ver objetos se formando à frente e a interação da personagem com itens não é dinâmica, tudo muito lento e sem botão de confirmação. Algumas vezes, só o botão ESC me fez sair de uma observação de foto sem querer.

Distortions me lembrou um game de PS2 feito com a tecnologia atual e sem a pretensão de ser um jogo na essência da palavra, e sim, uma experiência narrativa surrealista , parecida com Life Is Strange, mas sem o mesmo carisma. Espero que a versão final esteja muito além do que foi apresentada nesta demo, principalmente se pretende ser um Triple A nacional.

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