Em 2007, quando o cenário Indie ainda engatinhava, com games remetendo à geração 8-bits ou fangames, parecia loucura alguém começar um projeto autoral sem seguir a tendência da época, de jogos casuais e personagens simplórios para os recém chegados smartphones. Pior ainda, sem financiamento coletivo pra cobrir os gastos da produção de um jogo com gráficos bem trabalhados e trilha sonora encantadora em uma engine profissional. Daí vem o D-Pad Studio e quebra um grande tabu para qualquer game maker: encarar um título demorado e trabalhoso sem deixar a peteca cair por quase 10 anos.
Owlboy foi criado por cinco jovens que persistiram e lançaram a mais nova obra-prima do segmento Indie. Espero que esta matéria traga pelo menos 10% da emoção que é jogar este game maravilhoso.
A primeira coisa que precisa ser mencionada são os gráficos. Que Pixel Art foda! Apesar de os personagens serem pequenos, os detalhes, a fluidez das animações, as nuvens, a grama, os detalhes das rochas, as frutas, a água, as expressões faciais, tudo é tão magnífico e detalhado que o carisma infinito já nasce no primeiro contato com o universo de OwlBoy. Aí, quando junta a trilha e os efeitos sonors, torna-se cativante. É divertido só voar pelos cenários, ver o tempo passar entre a manhã linda, tarde magnífica e noite estupenda. Certamente, a beleza vai jogo adentro, com a história e as cenas épicas que você verá com certa frequência.
O sistema de jogo é muito simples e a dificuldade vai de mediana para grande em pouco tempo, mas isso dependerá apenas do jogador. Controlando o carismático e sofrido Otus, você tem os comandos básicos de andar, pular, dash e ataque, com o diferencial que está no voo livre. É fundamental dominar a movimentação do menino-coruja, principalmente quando se tem mais de um atirador. Sim, neste jogo você nunca está sozinho nos combates e a maior habilidade do personagem é o “transporte aéreo”, usado para combates e puzzles divertidos, nenhum maçante. Então, aprenda logo a voar, esquivar, atirar, trocar de atirador e desviar dos perigos do cenário, tudo de uma vez!
Jogando um pouco você já percebe que de repetição, só os comandos do jogo, pois a cada cenário os inimigos e desafios são novos. Não basta dominar o esquema de enfrentar os inimigos anteriores para se garantir, pois um dragão de pedra pode surgir cuspindo fogo e nenhum ataque parece funcionar contra ele, por exemplo. Por isso, é importante conhecer muito bem os queridos personagens e suas habilidades em seus disparos diferenciados: Geddy tem uma pistola que destrói madeira e solta tiros repetidos, já Alphonse tem seu bacamarte e solta um disparo de fogo poderoso e demorado que pode queimar plantas e grilhões no caminho.
A história começa simples e tem reviravoltas que não são esperadas num plot inicial tão clichê: Otus é um garoto-coruja de baixa auto-estima com com seu mestre rígido que o põe pra baixo sempre que pode, e que acaba sofrendo bullying dos outros alunos. Ele tem apenas um amigo, Geddy o atirador que jurou defender Vellie, a sua vila-natal, dos temidos piratas. A região é atacada pelos corsários alados enquanto você estava fora numa quest, e, claro, você é responsabilizado, apesar de não ser a força principal de defesa, e vai atrás destes bandidos para tentar limpar sua barra e reaver a relíquia das corujas roubadas pelo capitão Molstron que na verdade foi criado por… sem Spoilers, né?
Claro que o jogo tem pontos fracos, como não dar para pular as cutscenes ou configurar o controle facilmente na versão PC, mas acaba por aí. Certamente, Owlboy foi criado e revisado no passar destes nove anos de produção, que não foram em branco, pois a desenvolvedora foi conquistando prêmios como Norwegian Awards e IGF Nominee em 2010, PAX em 2013 e GDC em 2015 com seus gráficos e poder de imersão fantásticos. Não posso ser totalmente imparcial ao avaliar este jogo, pois ele resgata algo que só os tiozões do passado encontravam nos games da era 8 e 16-bits, que era adotar os personagens e querê-los bem. É algo que ainda persiste em alguns jogos, como Final Fantasy, que tinham seus dramas pessoais aprofundados e a empatia é magnética com cada um deles.
O jogo está disponível para PC, Mac, Linux e cada segundo sem jogá-lo é tempo de vida desperdiçado.