Existem poucos projetos de jogos de luta na indústria indie por dois motivos simples: os criadores têm mais empatia em realizar seus sonhos de games nostálgicos de infância, que na maioria são Adventures ou RPGs, mas o principal é o segundo: a rentabilidade. Os fighting games fizeram a cabeça de quem teve infância entre os anos 1980 e 1990, mas hoje em dia, o apelo deles perde para games que não requerem tanta dedicação mental e estratégica, com movimentos de direcionais considerados complicados, muitos termos e precisão.

Por isso, não é à toa que o jogo de luta mais amado desta geração é Super Smash Bros, mas nem por isso eles deixariam de existir. É com Pocket Bravery que outro estúdio nacional chega para mudar esse cenário!

Criado pelo Statera Studio, do Youtuber Jon Satella, famoso por falar e analisar jogos de luta, Pocket Bravery traz toda a carga nostálgica e experiência de quem certamente cresceu amando os jogos de luta (principalmente da SNK), com detalhes e referências que só outro moleque dos anos 1990 poderia notar. Com mais de duas décadas de experiência como jogador e alguns anos como desenvolvedor, somos brindados por ele com um novo jogo de luta totalmente brasileiro, com vozes em português e jogabilidade original, passando longe de ser um sucessor espiritual de qualquer outra franquia, e isso é ótimo.

A primeira coisa a se notar em Pocket Bravery é que o jogo está muito bonito! Não só nas artworks, portraits e pixel art, mas os cenários, trilha sonora, efeitos especiais e a qualidade nas animações. Os dois personagens deste Alpha aberto estão desfilando muitos frames de animação até nos movimentos mais simples, e com essas cores vibrantes, tudo fica ainda melhor. As vozes estão em português, mas a qualidade é baixa, assim como o volume. Este talvez seja o único ponto fraco gritante do jogo, fatores que certamente serão corrigidos em breve.

Neste Alpha, temos três opções de jogo: Combate contra outro jogador, contra a CPU e treino. Antes de se aventurar pelas lutas, é altamente recomendável treinar antes. Por mais simples que sejam os comandos e o sistema de jogo à primeira vista, o timing dos ataques pode ser frustrante se não praticado, pois a janela de oportunidade para continuar certas sequências é muito pequena, nada que um ajuste não resolva. Pode-se notar que os ataques fortes no ar foram divididos em voadora com soco forte para acertar o oponente no ar e com chute forte para acertar o oponente no chão e dar tempo para acertar outro ataque em sequência, o que deveria ser mais simples, como de hábito em jogos de luta 2D.

Os personagens disponíveis são Nuno Alves, um lutador de capoeira somado a Muay Thai, e Sebastian McClane, clássico boxeador. As escolhas também são uma forma de mesclar o novo com o velho, e vice-versa, pois enquanto é inédito um lutador utilizar capoeira e Muay Thai ao mesmo tempo, ser luso-brasileiro e ter um poder de luz dourada, o boxeador se assemelha a Dudley, Steve Fox e Rick Strowd, mas tem poder de gelo e pode provocar um iceberg na tela.

É possível notar que ambos têm as mesmas características, onde só o poder elemental os diferencia um do outro, e este será o grande trunfo da individualidade sobre os personagens. Nuno Alves tem uma magia curta que funciona como uma explosão, possui alcance curto, mas serve de anti-aéreo, que em sua versão EX espirra para a frente, acerta duas vezes e pode ser cancelada num Dash, como em Street Fighter IV, para mais combos. Já Sebastian usa seus poderes elementais para potencializar o poder de gelo e consegue até criar um paredão glacial, mas seu cancelamento vem do seu super golpe de Dash, fazendo com que, de modos diferentes, ambos tenham técnicas de Dash Cancel.

O sistema de jogo traz algo similar a The King of Fighters, com seus ataques fracos e fortes junto a um pouco de Street Fighter, com agarrão para a frente e para trás ao pressionar os dois fracos, os dois fortes juntos geram um movimento especial e os ataques EX e Target Combos. Uma grande novidade está nas duas barras de Super, uma para os Especiais, que podem ser estocados como em The King of Fighters 97 e 98, mas ao lado uma barra de Elemental, com duas divisões e o poder específico do personagem, o que permite fazer o ataque definitivo quando a energia estiver abaixo dos 30%, outra herança da SNK. Essas duas barras não vieram complicar, e sim diversificar, pois como se pode cancelar Super golpe em Super golpe ou em Especiais, o uso criativo permite criar um combo devastador para virar o jogo, bastando ter uma oportunidade.

A primeira coisa que um jogador veterano de games de luta vai notar é que os personagens parecem pesados para se movimentar e pular, certamente devido ao input lag e à falta de velocidade em algumas animações, como as joelhadas do agarrão reverso do Nuno, que poderia ser mais rápida, sem quebrar o ritmo frenético do jogo. Por mais que se acostume, sua mente ainda se adianta ao resultado esperado pela experiência de outros jogos do mesmo gênero; uma velocidade nível The King of Fighters 2002 seria perfeito.

Agora destacando minha parte preferida do jogo: os efeitos especiais! Não só possuem um design bem impactante como estão cheios de detalhes e frames de animação para passar aquele ar de beleza extravagante dos poderes dos personagens ao limite. Lutadores em estilo “Pocket” permitem ter mais espaço em tela para abusar dos super poderes, que ganham uma impressão de algo colossal e enchem os olhos.

Tais capacidades, somadas ao trabalho gráfico e efeitos sonoros, colocam Pocket Bravery na lista de jogos de luta obrigatórios. Em breve, o título também se tornará destaque internacional, principalmente para quem busca novidades e quer conhecer mais do Brasil, pelos brasileiros e não pelo imaginário de americanos e japoneses.

Claro que um jogo desta qualidade empolga e chama a atenção, ainda mais por já dar amostras dos próximos personagens a chegar, uma mulher que luta BJJ e TaeKwonDo ao mesmo tempo, possivelmente com elemental da terra, e outra mexicana com os poderes da Calavera, certamente das trevas. Como no total serão 11 personagens para a primeira temporada ou versão, esperemos um Wrestler e um karateka, os clássicos em jogos de luta, e quem sabe um monstro japonês, como vingança pelo Blanka?

Com muita vibração, originalidade e interação com os fãs, Pocket Bravery se torna o jogo de luta indie mais esperado do Brasil, e talvez do mundo, que de certa forma mescla velocidade com qualidade e todos os canais de comunicação abertos e atenciosos, sem falar do concurso de NPC para os cenários! Sem data prevista de lançamento e tendo como única plataforma o PC, por enquanto, aqui está a nova promessa nacional que vem para ficar e, quem sabe, agitar os torneios de jogos de luta no Brasil de novo?

A Alpha pode ser baixada neste link. Divirta-se e, se puder, divulgue mais este primoroso primeiro projeto do Statera Studio, que já tem aqui sua obra-prima.

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