JAMs. O que são? Onde acontecem? Por que participar de uma?

Vamos pelo começo… Tudo iniciou-se no mundo da música, afinal, Jam é um termo cunhado por músicos que se reuniam para tocar juntos despretensiosamente. Largar um som no ar e tentar montar alguma coisa, sem pressa, sem finalidade. Grooves, melodias, só para sentir e ver até onde se consegue ir com amigos e arte. E, por que não, fazer algo novo.

Gosto muito dessa imagem despretensiosa. Não existe obrigatoriedade. Só feeling. Muitas vezes, o músico fica preso ao conceito da banda, a um único estilo e, se o cara é artista de verdade, não está feliz com isso, quer ir além, se colocar à prova. Ou, às vezes, só fazer algo diferente.

Million Dollar Quartet,  Elvis Presley, Carl Perkins, Jerry Lee Lewis e Johnny Cash em 4 de Dezembro de 1956. Uma JAM de peso!

Million Dollar Quartet, Elvis Presley, Carl Perkins, Jerry Lee Lewis e Johnny Cash em 4 de Dezembro de 1956. Uma Jam de peso!

Veja o caso de George Harrison (se você não sabe quem é este, sinta vergonha e reflita sobre isso): depois que a banda dele acabou, ele seguiu fazendo coisas mais autorais que são bem diferente das músicas que produzia antes, e muita coisa boa! Isso só prova que até no suprassumo da música, existe trabalho duro e sacrifícios.

O mundo dos games absorveram essa ideia, principalmente a galera da grande indústria, que não tem muita liberdade para criar alguma coisa mais pessoal, que fuja da curva de mercado. Como na música, o desenvolvedor às vezes quer fazer um jogo só pela brincadeira, para experimentar uma ferramenta, uma nova ideia. Normalmente, sem a mínima pretensão comercial.

No caso dos jogos, existem algumas peculiaridades. Não se tem como fazer um game agradável em três horas, isso exige tempo para desenvolver algo. Ou então, em vez de reunir amigos e largar uns códigos e umas artes e ver se combinam, o cara pode querer se testar. É comum a galera tentar participar de jams sozinho para ver até onde conseguem chegar.

Além disso, para que o desafio seja válido e que haja uma certa competição entre os envolvidos, todos têm que começar e terminar o jogo juntos. Desta forma, as Jams possuiem um prazo pré-estabelecido, normalmente 48 horas, e existe um tema que só é revelado ao início. Logo, você pode até pensar quem fazer um Jump’n’Shooter rapidão só pela diversão, contudo, o tema do evento é “gratidão”, ou “solidão”, “infinito”, ou “tons de vermelho”, e seu Jump’n’Shooter agora precisa ser um pouco mais arrojado para se encaixar nele. Ou, por que não, começar a pensar em algo novo, diferente.

Tema da Global Game Jam 2014

Tema da Global Game Jam 2014

É dentro desse espírito que a Jam entra na vida do desenvolvedor. Quem está começando encontra aí uma boa oportunidade. Fazer um jogo do zero em um final de semana, isso é muito intenso e, para quem nunca fez um, parece até impossível! Se colocar nessa situação é um grande aprendizado e faz você ganhar muito XP. Contudo, depois de alguns eventos do tipo, o desafio se torna meio tedioso, algo como “já vivi isso”. Às vezes, o tema é chato, ou naquele final de semana seria muito mais interessante ficar deitado no chão olhando pro teto. É aí que entra o desafio, sair do chão e fazer um jogo por ter que fazer. Por ser um desafio. Afinal, sempre podemos aprender alguma coisa e tentar algo diferente. Pois não existe um melhor jeito de se fazer, não existe certo e errado nas Jams.

Outra coisa legal é o alcance mundial. Tanto a Global Game Jam quanto a Ludum Dare acontecem no mundo todo! E essa sensação de fazer algo com essa proporção é extremamente agradável.

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A GGJ acontece de maneira local, reunindo centenas de pessoas no mesmo espaço para fazer jogos. Pelo menos aqui em Curitiba é assim, uma sede que já está criando o habito de ser a maior do Brasil e a segunda maior do Mundo! É muito legal participar, ver outros desenvolvedores, acompanhar os jogos e trocar ideias. Recomendo fortemente que você se prepare para, no começo do ano que vem, participar numa das sedes mais legais que existem. Ou em outra mais perto de você.

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Enquanto a Global Game Jam tem esse nome super impactante, mas que bem na real parece ser um evento mais local que mundial, a Ludum Dare é uma vitrine para o mundo. Não é um lugar tranquilo, cheio de desenvolvedores, pizza e risadas; você participa dela de onde você quiser. Vale a pena levar a sério, afinal, além do jogo, você também competirá com o mundo inteiro! Durante um mês apos o lançamento do projeto, as pessoas que participaram votarão e avaliarão o que você fez e te darão uma nota. Feedback gratuito! Acredite, existe um momento da vida que tudo que você quer é receber críticas, pois sem elas você não evolui.

A Ludum Dare é minha favorita. Ela acontece diversas vezes por ano e tem temas normalmente estranhos, que não fazem sentido com nada que você queria fazer na vida. Mas esse clima de competição, o fato de você ficar divulgando o seu desenvolvimento ao longo do processo e vendo a produção da galera em tempo real é muito foda. Lembro de, uma vez, ter feito um jogo plataforma, normalzão, e um alemão reclamar que o uso das teclas A S D para botões de ação ter sido uma escolha péssima. Foi assim que aprendi que existem teclados diferentes ao redor do mundo todo. Isso é só um exemplo simples. Existem vários que aconteceram com a minha equipe e com outras, como um russo se sentir ofendido com o jogo ou outra pessoa falar que aquele outro game era ofensivo para crianças(sendo que o evento é fechado, como uma criança ia chegar até ele?). Críticas que fazem você se sentir no mundo.

O próprio Notch declarou que, após vender sua empresa, participaria mais das Ludum Dares. E saca só os jogos que ele já fez!

Além disso, as grandes publishers estão de olho no que está sendo feito. Lembro de uma Ludum Dare em que o jogo Titan Soul foi lançado, e foi muito bem criticado pelos participantes. Na E3 do ano seguinte, foi anunciado que ele seria publicado pela Sony.

Antes de Depois

Antes e Depois

Falando em Ludum Dare, a próxima acontece no dia 17 de abril. Normalmente temos uma neste mês, outra em agosto e a última em dezembro, mas, no meio tempo, existem Mini-Jams e outros eventos para quem quiser acompanhar.

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No Brasil, a mais famosa é a SPjam, que acontece em São Paulo, também de maneira local. Diferente da GGJ e da LD, ela é paga, mas por um bom motivo – a organização aluga um espaço para todos se reunirem e terem qualidade e tranquilidade para fazer os jogos. Normalmente, saem games incríveis de lá, e ela conta ainda com a presença dos mais famosos indies brasileiros.

Mas existem diversas outras Jams ao redor do mundo, com temas variados, algumas com premiações em dinheiro, outras só pela zoeira. Se pesquisar, você pode passar o ano inteiro fazendo jogos sem parar. Existe uma que acontece dentro de um trem em movimento, saindo de Chicago e chegando em São Francisco” Dentro dela, estão a maioria dos participantes da Game Developers Conference (GDC).

Creio que é isso, fica aqui o convite para participar. É um bom caminho para testar aquela ideia que não sai da cabeça e só investir um final de semana nisso. Ou o passo inicial para começar a trabalhar de verdade. Boa sorte e bora fazer jogos!

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