Assim como no mundo do cinema, são as produções pequenas que ganham destaque no mundo do terror. Com exceção dos Silent Hills ocasionais, são os estúdios menores que conseguem efetivamente assustar aos jogadores, ganhando força na base do boca a boca e fortificados por um fluxo quase sem fim de vídeos de YouTubers gritando. Com Layers of Fear, não foi diferente.
Mais uma das tantas crias geradas pelo sucesso e posterior morte de P.T., da Konami, o título do Bloober Team coloca o jogador em uma viagem de loucura, na pele de um pintor em busca de sua maior obra. Todo visto em uma perspectiva em primeira pessoa, pode se parecer com um game focado em exploração e descoberta, mas na verdade, é uma sucessão de momentos tensos que, infelizmente, não entregam o que prometem em seu final.
Apesar do que pode parecer em seus momentos iniciais, Layers of Fear é um título bastante linear. Logo de início, o jogador se encontra livre em uma mansão que pertence ao personagem principal, e pode andar pelos cômodos para se acostumar com os controles, observar o conjunto gráfico bastante interessante e aprender como tudo funciona nesse mundo. Dá para andar pelos cômodos e abrir praticamente todos os armários e gavetas, encontrando, aqui e ali, dicas do que está por vir.
Não temos muitos jump scares, a não ser que você seja extremamente sensível ou queira fingir para as câmeras.
O jogo realmente começa quando se obtém acesso ao atelier do artista e estamos diante da tela onde será pintada nossa obra-prima. Aqui, já sabemos que algo de muito errado está para acontecer, e somos conduzidos pela mão ao longo da torturante e bizarra viagem por dentro da mente do pintor.
Isso significa que nada mais é o que parece. Salas que anteriormente levavam a um ambiente agora nos deixam em outro, portas se trancam atrás de nós e palavras enigmáticas, muitas delas escritas com sangue, começam a aparecer nas paredes. A todo momento, coisas voam na direção do jogador e um rato parece correr de um lado para outro, sempre à espreita, assim como um fantasma ou criatura, que parece estar o tempo todo por ali.
Desenvolvido totalmente na engine Unity, o título extrai bons gráficos tanto do PlayStation 4 quanto dos PCs. Chama a atenção, por exemplo, o trabalho com as sombras nas janelas e, principalmente, um processamento contínuo de cenários que faz com que tudo mude sempre que não se está olhando. Isso acontece de forma transparente, sem loadings aparentes nem quedas bruscas na contagem de frames por segundo, uma amostra de primor técnico e otimização bem realizada.
Layers of Fear pode parecer focado em exploração e descoberta, mas na verdade, é uma sucessão de momentos tensos que, infelizmente, não entregam o que prometem no final.
Como um game totalmente focado na experiência, assim como sua inspiração, P.T., Layers of Fear também utiliza poucos botões. A ideia é que o jogador realmente não se preocupe com o controle e mantenha os olhos na tela, focados no que realmente está acontecendo e na evolução desse pesadelo. Fica, entretanto, uma ressalva quanto a bugs que foram encontrados aqui e ali, exigindo um suicídio ou o recarregamento de um save para que a trama pudesse continuar.
Toda a tensão construída nos primeiros capítulos, entretanto, vai se esvaindo aos poucos enquanto o game não entrega exatamente o que promete. O tempo todo, temos música crescente e um pesadelo que parece ficar cada vez pior. Mas nada, efetivamente, acontece.
Não temos muitos jump scares, a não ser que você seja extremamente sensível ou queira fingir para as câmeras. A história também não é contada de maneira muito clara, e muitas vezes, passamos longos minutos apenas andando em frente e vendo ambientes que acabam se repetindo, por fazerem parte de uma mesma casa. Um contraste com a linearidade extrema e o foco já citado na narrativa, sem que tenhamos características que justifiquem isso.
De assustador, o título pode se tornar monótono e repetitivo, de acordo com o nível de tolerância de cada um. A desenvolvedora tenta dosar isso com capítulos bastante rápidos, que duram cerca de meia hora para serem finalizados, e uma aventura que pode ser completada em mais ou menos três horas. Uma decisão acertada, mas que ainda assim, gera algumas barrigas ao longo da experiência, que poderia ser ainda mais curta e dinâmica.
De assustador, o título pode se tornar monótono e repetitivo, de acordo com o nível de tolerância de cada um.
Tudo, claro, aponta para o final, na medida em que percebemos os recursos pouco ortodoxos, digamos, que o artista está usando para fazer sua obra. Todos os pesadelos, mensagens, elementos de cenário e alucinações nos levam adiante, até um clímax que, na realidade, nunca vem.
Temos, sim, uma virada nos acontecimentos e um encerramento bastante perturbador, mas longe do impacto que Layers of Fear parece prometer ao longo da experiência. Mais do que isso, o desfecho depende bastante de conhecimentos externos e informações que não são necessariamente dadas pelo título, em mais um fator que pode gerar frustração e uma sensação de traição. Quem leu “O Retrato de Dorian Gray”, de Oscar Wilde, deve ter um maior entendimento de tudo.
No final das contas, fica aquela impressão de que o tempo passado com Layers of Fear não foi tão bom assim. O game tem, sim, uma atmosfera muito bem construída e gráficos bonitos, mas peca na narrativa, justamente aquela que aparece como uma de suas principais características. Um pouco mais de profundidade e elementos fariam muito bem ao título.
Layers of Fear foi analisado no PlayStation 4, em cópia cedida pela Aspyr Media.