A diferença pode nem sempre ser uma virtude, mas é a exata responsável pelo talento de Lindsey Stirling. É ela que está permitindo à moça viajar o mundo mostrando seu show e suas composições originais, lotando teatros e trazendo um espetáculo simples, mas com porte de grande produção, graças, quase que exclusivamente, ao carisma e a uma presença de palco assustadora para seu porte miúdo.
Foi justamente esse fator que fez com que a apresentação que vi nesta terça (14), na cidade de Porto Alegre, parecesse lotada, mesmo sem estar. A empolgação era visível e o público, como normalmente acontece nos shows da violinista, era composto quase que completamente por fãs. E quando tocou uma música de amor, ela pediu que todos procurassem ao redor uma pessoa por quem se apaixonar naquela noite. Não houve dúvida para ninguém: todos os olhos se voltaram para a própria Stirling.
Mas mais do que uma demonstração de talento, o show é uma alegoria para a própria carreira da artista. Em seus dois grandes momentos, mostra de que forma ela evoluiu, de alguém que foi duramente criticada no palco do America’s Got Talent (e que voltou lá quatro anos depois como uma artista convidada), para alguém que seguiu além das próprias barreiras e contra tudo aquilo que falavam sobre ela. “Song of the Caged Bird” é, como o nome já diz, uma composição melancólica sobre um passarinho que quer sair de sua gaiola, e uma de minhas favoritas do repertório original. E “Shatter Me”, que encerra o espetáculo, fala justamente sobre o momento em que ela sai da prisão criada por ela mesma e os outros, não pela portinhola, mas estraçalhando todas as barreiras.
Isso transparece perfeitamente na apresentação: Lindsey Stirling é alguém que ama o que faz. Mas não apenas ao vivo – ouvindo suas gravações, vendo os clipes ou até mesmo os vlogs que faz em suas viagens ao redor do mundo, é fácil perceber que toda a qualidade de seu trabalho vem, justamente, do fato de ela ter nascido para a coisa. Além disso, sabe que só pode estar fazendo isso hoje devido ao suporte dos fãs. Por isso, toca olhando diretamente nos olhos deles, e usa as plataformas espalhadas pelo palco não para parecer superior ou inatingível em meio a luzes e fumaça, mas para que possa enxergar todos de uma vez só.
Você pode não conhecer Lindsey Stirling de nome, mas com certeza já ouviu algumas de suas versões. Um medley baseado nas canções de The Legend of Zelda, por exemplo, foi seu passaporte para o sucesso na internet. Uma parceria com os Pentatonix entregou um cover de “Radioactive” muito bom e, ao lado de Tyler Ward, a violinista conseguiu entregar até mesmo uma versão suportável de “Thrift Shop”. Quem acompanhou com a gente a cobertura do The Game Awards, no final do ano passado, também pôde ouvir temas de Dragon Age: Inquisition interpretados por ela.
Mas essas musicas são apenas a ponta do iceberg. Em seu show, Lindsey Stirling não toca músicas de outros artistas e apenas interpreta uma dos games, justamente a de Zelda. Por isso, nem faria sentido recomendar aqui tais canções, quando o repertório próprio é muito, muito melhor – afinal de contas, para alguém tão exemplar justamente por suas diferenças, não faz nem sentido fazer o mesmo que outros tantos já fizeram.
Por isso, a dica é: comece pelos covers e fique pelas originais. Minhas preferidas estão espalhadas por esse post (foi difícil escolher). E entenda porquê, muitas vezes, aquilo que faz com que as pessoas digam que você não vai dar certo e tentem te diminuir é, justamente, o que te fará único e te levará às alturas.