Não sou exatamente um fã inveterado da Nintendo. Não acompanho todos os consoles da empresa nem fico maluco a cada lançamento do encanador Mario, mas sim, como todo mundo que teve infância e ainda possui um coração, tive os games da “Big N” como parte da minha vida. Mas tem um título da empresa, em especial, que eu destrinchei cada canto escuro: Super Smash Bros. Melee.
Considero o game para GameCube um dos melhores da série, tanto que fiz absolutamente tudo o que era possível nele. Sua sequência, para Nintendo Wii, não me agradou tanto por motivos que eu não sei bem explicar, o que me fez esperar pouco desta nova versão. Uma expectativa que seria muito bem justificada, caso tivesse existido.
Em sua estreia nos consoles portáteis, Super Smash Bros. faz bonito, não apenas em termos de jogabilidade como também visualmente. É um dos títulos mais divertidos do Nintendo 3DS e mantém, em grande estilo, a tradição da companhia de botar seus principais protagonistas para brigar.
Um dos principais destaques da nova edição do título está em seu gigantesco fator replay. Isso não se restringe apenas à gigantesca quantidade de personagens – são 49, contando os desbloqueáveis –, mas também à imensidão de modos de jogo. Tudo isso, combinado, garante não apenas muitas horas de jogatina, mas dias e dias de diversão até que cada canto seja explorado, algo que vai deixar os colecionistas completamente ensandecidos.
Super Smash Bros. sempre foi um game muito mais divertido quando jogado em galera, mas presencialmente, não online. A versão para Nintendo 3DS leva isso às últimas consequências
Não se trata apenas de terminar todos os modos com cada personagem, temos também aqui comportamentos diferentes entre eles. Uns utilizam espada e são ágeis, outros mais lentos. Um tipo prefere ataques à distância, com projéteis, enquanto outros se aproveitam da força bruta para atacar de perto. Charizard é gigante e pesado, Diddy Kong é pequeno e veloz. Tem para todo mundo, e por muito tempo.
Essas possibilidades se tornam ainda mais infinitas quando se considera uma das adições do game, que é a possibilidade de customizar personagens. Esse processo pode ser feito não apenas com os Miis, criados a partir dos avatares dos próprios jogadores, mas também com os protagonistas normais. A ideia é adequar ainda mais o estilo de cada um deles aos usuários e permitir uma experiência totalmente personalizada.
Tal novidade evidencia o trabalho de balanceamento realizado pela Nintendo, que agora, quer ver Super Smash Bros. se tornar parte do circuito competitivo dos jogos de luta. É claro, existem suas falhas nesse sentido – a invasão de Little Macs no modo online que o diga – mas, na maioria das vezes, tal problema não acontece e a tão chamada “apelação”, reclamada por jogadores que não sabem perder, dificilmente terá mais a ver com problemas no desenvolvimento do que com a própria habilidade do adversário.
Ainda falando sobre os personagens, a Nintendo merece aplausos de pé pelo tratamento dado a Mega Man e Pac-Man em Super Smash Bros. Enquanto as próprias detentoras dos direitos sobre os personagens os transformaram em aberrações em Street Fighter X Tekken, a “Big N” faz a lição de casa direitinho e transforma os dois veteranos no que, para mim, é o grande destaque do rol de personagens.
O robozinho azul tem uma grande variedade de ataques, que variam desde os disparos normais até golpes especiais inspirados em seus clássicos oponentes. Ao saltar, abre os braços e as pernas, e ao morrer, explode em bolas de luz. Enquanto isso, o “Come Come” se transforma em sua forma clássica dos arcades ao realizar ataques especiais, enquanto faz alusão aos títulos tridimensionais mais recentes com sua movimentação e ataques comuns. Um brinde aos saudosistas e uma demonstração de que, quem sabe, faz direito.
Super Smash Bros. sempre foi um game muito mais divertido quando jogado em galera, mas presencialmente, não online. A versão para Nintendo 3DS leva isso às últimas consequências apresentando modos voltados tanto para jogabilidade competitiva quando cooperativa, além de cenários que reservam surpresas.
No sistema mais tradicional, com lutas simples, é que eles brilham. A modificação acontece em tempo real, por exemplo, na arena de F-Zero, em que carros passam sem parar na parte debaixo. Como já é tradição, lava e outros elementos que causam danos aos personagens aparecem o tempo todo nas fases e são capazes de transformar completamente a jogatina quando um jogador experiente e com vantagem vê o chão simplesmente desaparecer sob seus pés.
Para muitos, a arquitetura online da Nintendo pode fazer o papel de vilã. Durante nossos testes, tudo funcionou bem na maioria dos casos, mas tivemos problemas para marcação de partidas ou localização de adversários. Além disso, o lag se mostrou presente muitas vezes durante as partidas, provando ser uma dificuldade a mais para a competitividade delas. Uma conexão da NASA poderá ajuda-lo apenas até certo ponto, já que o restante da possibilidade fica por conta da defasada infraestrutura da “Big N”.
Para tristeza de muita gente, o foco no multiplayer veio acompanhado de uma redução na atenção dada aos modos single player. Não é como se eles não estivessem lá, pelo contrário, eles são parte integrante da experiência e se integram muito bem à já citada variedade na jogabilidade. Mas não temos aqui, por exemplo, algo do porte de Subspace Emissary, a quase-campanha vista em Super Smash Bros. Brawl.
A Nintendo merece aplausos de pé pelo tratamento dado a Mega Man e Pac-Man em Super Smash Bros.
O grande destaque para quem gosta de jogar sozinho é o Classic Mode, que coloca os personagens como peças em um jogo de tabuleiro. Ao longo das partidas, o jogador pode escolher o caminho a seguir de acordo com a dificuldade que está adiante e as próprias habilidades, até chegar à boa e velha Master Hand, que serve como chefe final. Dependendo de suas escolhas, porém, o boss pode ser substituído pela Crazy Hand, ainda mais desafiadora e bem menos previsível.
As escolhas diferentes dão acesso a opções de personalização variadas, troféus e moedas que podem ser usadas para compra de itens. A exigência é de reflexos rápidos para que o jogador escolha o melhor caminho a seguir e, nas primeiras vezes, é normal não entender exatamente o que está acontecendo. Com algumas rodadas completas, porém, já dá para compreender como tudo funciona e garantir que a rota seja efetivamente escolhida.
Há ainda o labirinto Smash Run, que também garante itens especiais e coloca os jogadores contra diversos inimigos de diferentes categorias enquanto um contador marca o tempo restante para exploração. Trate de escolher um personagem rápido aqui, caso contrário, você vai sofrer com um modo simplesmente não feito para protagonistas pesadões. Além disso, falta carisma para manter os jogadores ligados após a impressão inicial bastante esquisita.
De resto, estão presentes velhos conhecidos, como Home Run e Multi-Man Smash, além de um aceno à turma que gosta de Angry Birds com Target Blast. São, porém, praticamente extras, que ficarão velhos rapidamente. No conjunto, o grande beneficiado é mesmo quem gosta de jogar com a turma, e os mais solitários poderão se decepcionar.
Um dos principais destaques da nova edição do título está em seu gigantesco fator replay.
Uma das maiores preocupações dos fãs de Super Smash Bros. quanto aos portáteis era em relação ao tamanho da tela. Quem jogou sabe: o game é frenético e as batalhas escalam rapidamente, com a tela sendo tomada de itens, personagens, luzes, explosões e tudo o que há de bom. Como lidar com isso em um display menor?
A Nintendo, mais uma vez, mostra que manja desse negócio de fazer joguinho e adiciona características interessantes para tornar as coisas mais fáceis de serem visualizadas. Uma borda preta, por exemplo, é adicionada ao redor dos personagens para torna-los mais evidenciados contra os cenários, um recurso que pode ser desabilitado caso o usuário deseje.
A verdade é que as coisas só ficam difíceis de serem enxergadas, pelo menos mais do que o normal, nos casos em que a câmera abre demais. Isso acontece sempre que os protagonistas estão longe demais uns dos outros. Por outro lado, nesses casos, dificilmente a tela estará caótica o bastante para que a visualização seja dificultada, o que torna a questão mais algo para se acostumar. Ainda assim, quem tem um Nintendo 3DS comum deve sofrer um pouco.
De resto, não existem problemas quanto à apresentação. As quedas de frame rate são esporádicas e somente acontecem quando a tela é efetivamente preenchida de objetos, algo que, por incrível que pareça, não acontece tanto assim. São momentos em que sua performance pode até ser prejudicada, mas eles acontecem pouco.
Por fim, vale a pena citar uma modificação nos controles bastante bizarra para quem está acostumado a jogar jogos de qualquer tipo. Invertendo a lógica de absolutamente tudo o que existe, Super Smash Bros. utiliza os botões superiores, X e Y, para pular, enquanto os de baixo, A e B, controlam os ataques simples e especiais.
É uma simples conversão de uma dinâmica existente desde o início da série. Só que antes, nos antigos consoles da Nintendo, o posicionamento fazia sentido. Aqui, dá um nó na cuca da galera. Porém, é possível alterar a configuração de controles no menu de opções e tornar as coisas mais tradicionais ou, então, persistir nos comandos tradicionais e acostumar com eles.
De maneira geral, Super Smash Bros. se configura como uma estreia bastante digna da franquia nos consoles portáteis e um jogo que, com certeza, vai pavimentar o caminho para que os títulos futuros também recebam suas versões desse tipo. Não é, de forma alguma, apenas uma prévia do que está por vir no Wii U, muito pelo contrário: temos aqui um dos melhores jogos do 3DS e, mais do que isso, um dos capítulos de maior qualidade da franquia de luta.