Trials Frontier

Trials Frontier

por Felipe Demartini

Mantenha o controle (mas não se esqueça de pagar)

A série Trials pode ser usada como exemplo quando o assunto é o desenvolvimento dos video games. Ao mesmo tempo em que títulos superavançados, com mecânicas profundas e desenvolvimento complexo fazem sucesso, ideias simples também conseguem continuar entretendo os jogadores por anos a fio. É uma fórmula que a Ubisoft experimenta com bastante sucesso desde 2009, quando reviveu a série de motociclismo como um exclusivo do Xbox 360.

Antes disso, porém, ela havia se transformado em um conceito bastante utilizado por sites de jogos em flash – e quem possuiu Orkut com certeza já se divertiu com algum clone de Trials durante a primeira metade dos anos 2000. A premissa sempre foi simples: controlar a inclinação e velocidade de uma moto enquanto enfrenta uma série de obstáculos em um circuito cheio de rampas e saltos. Alguns o chamam de “jogo de corrida de plataforma”, algo muito mais legal sendo jogado do que descrito.

Até agora, porém, a Ubisoft não havia trazido essa experiência ao mundo mobile, um universo que parece ter sido criado especialmente para a série. Mas tudo mudou com Trials Frontier, título gratuito que chegou ao iOS e Android fazendo uso de tudo o que tais sistemas operacionais têm para oferecer; para o bem e para o mal.

Adaptação

Na hora de desenvolver Trials Frontier, porém, a desenvolvedora Red Lynx com certeza se viu diante de um problema. As telas táteis dos celulares e smartphones não contam com os sensores de pressão disponíveis nos consoles nem possuem a mesma precisão dos joysticks convencionais. E agora, como levar para tais sistema um título que tem justamente o controle em seu coração?

A mudança foi feita no próprio design das pistas. Em vez de entregar caminhos insanos e elementos que exigem uma direção quase profissional, Trials Frontier decide abraçar de vez o mundo casual e entregar fases mais simples. O foco aqui está nos saltos e grandes explosões, uma característica que pode acabar desagradando os veteranos da franquia mas que se encaixa bem na jogabilidade rápida e feita no tempo livre que é um dos pontos principais do mundo mobile.

Ainda assim, Trials Frontier ainda vai te desafiar caso você deseje ser o melhor entre os motoqueiros. Por mais que a excelência e a direção perfeitas não sejam um requisito para completar o game, elas aparecem nas exigências bem elevadas para a obtenção das medalhas de ouro em cada fase. E é aqui que os veteranos passarão a maior parte do tempo, na mesma medida em que tentam colocar seus tempos entre os melhores do mundo.

Trials Frontier

Tal aspecto, porém, vai depender do jogador, que também não ganhará nada de especial ao completar todas as tarefas de maneira dourada. Essa redução na dificuldade pode ser explicada também pelo aspecto free-to-play do game: temos um jogo gratuito, em uma nova plataforma e com acesso a um grupo totalmente diferente de usuários. Para a Ubisoft, é melhor não assustá-los com uma jogabilidade difícil.

O foco aqui está nos saltos e grandes explosões, uma característica que pode acabar desagradando os veteranos da franquia mas que se encaixa bem na jogabilidade rápida e feita no tempo livre que é um dos pontos principais do mundo mobile.

A integração online, infelizmente, é feita com o UPlay, o serviço da Ubisoft que é notório por nem sempre funcionar como deveria. Pelo menos, desta vez, ele não é essencial para a experiência. Mas tudo pode mudar no futuro, já que a empresa anunciou que Frontier terá algum tipo de integração com Trials Fusion, o irmão maior que chega também ao PC, Xbox 360, Xbox One e PlayStation 4, marcando sua estreia em plataformas da Sony.

Os gráficos também merecem nota e, apesar de apostar sempre em temas steampunk e pós-apocalípticos, aparecem com uma variedade interessante. Apesar de serem pouco memoráveis entre si, as pistas aparecem em diferentes cenários e dão a sensação de que o jogador realmente está segundo adiante em uma aventura.

Em alguns momentos, você estará correndo em uma mina. Em outros, em uma cidade abandonada. Os saltos e efeitos pirotécnicos das fases parecem acompanhar tais visuais, gerando um todo coeso e que faz sentido. Não são os melhores gráficos dos dispositivos móveis, mas para um jogo como esse, visuais realistas e belíssimos nem mesmo são uma necessidade.

Método WinRAR

Trials Frontier é um game gratuito e, para muitos fãs, essa foi a melhor maneira de fazer a franquia chegar ao iOS e Android. O problema é que a Ubisoft quer mostrar aos jogadores que não está fazendo nenhum favor aos jogadores e, a todo momento, faz questão de lembra-los que aquele é um título free-to-play e que, caso deseje avançar mais rapidamente, sempre vale investir algum dinheiro.

Trials Frontier

A justificativa para a compra de itens e o uso de diamantes vem por meio de um enredo fraco, que mostra uma cidade no meio do nada e uma rixa com um motoqueiro do mal. Personagens com diferentes perfis enviam o jogador em missões diferentes: em algumas, a ideia é obter certas peças para melhorar a moto, em outras a ideia é realizar acrobacias. Há também o estilo tradicional, que pede apenas que você chegue ao final do percurso.

O problema é que todas essas atividades – com exceção da pilotagem propriamente dita – está cercada de elementos pagos ou incentivos a usar moedas reais para avançar mais rapidamente. A Ubisoft, felizmente, não caiu na armadilha de tornar Trials Frontier um título “pay-to-win”, no qual o dinheiro real dá vantagens quase sobre-humanas aos jogadores. Ainda assim, ela utiliza de métodos pouco discretos para incentivar o usuário a gastar.

A Ubisoft quer mostrar aos jogadores que não está fazendo nenhum favor e, a todo momento, faz questão de lembra-los que aquele é um título free-to-play. Caso você queira avançar mais rapidamente, sempre vale investir algum dinheiro.

É o caso, por exemplo, de certas missões que exigem uma moto envenenada. Para conseguir isso, você precisa de peças para melhorá-la e diamantes para pagar o mecânico. Ambos são obtidos nas fases e, para passar por elas, é preciso de gasolina. E sim, esse é um recurso finito. Caso você não tenha sorte na roleta que aparece ao final de cada percurso e garante novos equipamentos, é melhor se preparar para ter boa parte de sua experiência com Trials Frontier resumida a esperar o reabastecimento do tanque.

Quando percebe que o jogador está em uma situação desse tipo, o game rapidamente se apressa em exibir algum tipo de oferta especial, na qual por valores baixos, é possível obter motos completas, pinturas especiais e uma quantidade absurda de diamantes e moedas para deixar sua moto tinindo. A tática é bastante descarada e, muitas vezes, acaba cortando o pouco envolvimento proporcionado pela trama.

Trials Frontier

São justamente esses aspectos que acabaram transformando Trials Frontier em um jogo diferente e, para quem já jogou os anteriores, fraco. Seja devido à necessidade de controles menos precisos, à vontade de atrair mais e mais jogadores ou à monetização extrema, este não é exatamente o jogo de velocidade e precisão que se espera da saga.

Ao contrário dos anteriores, Trials Frontier não será aquele jogo para se divertir com os amigos, com saltos insanos e quedas mais loucas ainda. Também não será o game que te deixará com raiva, mas no bom sentido, ou que te levará ao YouTube para conhecer os caminhos exatos a serem realizados em cada fase. Nem mesmo é aquela experiência que, apesar de casual, te deixará grudado ao controle por horas e horas.

Temos um bom game aqui, mas se encarado da maneira certa. Se Frontier foi seu primeiro contato com a franquia, procure os outros games da série para conhecer exatamente do que se trata a série Trials. Caso contrário, é melhor concentrar sua atenção em Fusion e encarar a versão mobile apenas como uma diversão casual.

Este jogo foi testado no iOS.