No começo dos anos 2000, o Game Boy Advance reinou supremo, e sozinho, por muito tempo até a chegada do PSP, que superou em muito, no potencial gráfico, esse portátil e o próximo que viria, o Nintendo DS. Mas o que deixava o páreo de portáteis interessante eram os exclusivos da “Big N”, e nessa leva de franquias destruidoras, chegou a continuação oficial de Mega Man X, Mega Man Zero.
Com um personagem de habilidades novas, conceito de jogo inédito e sagas que duraram anos, Mega Man Zero/ZX Legacy Collection chegou para mostrar para as novas gerações porque essa franquia não morre, por mais que tentem sabotá-la, e como ela ainda atrai fãs.
Sendo o personagem preferido do criador de Mega Man, Zero nesta série é o mesmo da saga X, que decidiu se isolar nos confins do mundo para nunca mais ser encontrado e, caso fosse achado, não ser religado, pois, após ser contaminado pelo vírus Sigma, era ele quem espalhava essa porcaria pelo mundo. Assim como esperado, após muito tempo, chega até ele um bando de foragidos tentando se proteger da nova força opressora de uma comunidade militar chamada Neo Arcadia, que quer dominar o mundo a partir do controle dos robôs e das fontes de energia do planeta.
Os títulos marcaram uma geração que jogou até enjoar. São jogos maduros com cenas de certa violência e dificilmente outra empresa seria tão arrojada para alterar uma série já consagrada.
Por muita coincidência, eles acabam achando Zero com o Cyber Elf que poderia despertá-lo. Abusando de tamanha sorte, Mega Man Zero também tinha o poder de derrotar sozinho esses inimigos e ganhou sua clássica espada de um novo vírus, esse do bem, que seria a única lembrança de seu amigo.
Neste universo, Zero e X são lendas do mundo robótico e muitos questionavam suas existências. Quando uma figura assumindo o nome do lendário robô X, ao estilo Inri Cristo, aparece como o salvador e demonstra habilidade e poder superiores, muitos o idolatram, e assim, uma ditadura robótica religiosa em volta desse falso profeta começou e a perseguição aos opositores, com o apoio do guru cientista Dr. Weil, que criou guerreiros que controlam as bases onde esses rebeldes poderiam atacar.
Além das referências na realidade, este é um dos capítulos mais violentos da série, tanto no enredo como na morte de certos personagens e inimigos, que podem ser fatiados. Os personagens humanos são baleados e o diálogo às vezes é tenso. Temos uma série de jogos difíceis, mas que agora têm save state opcional, como nos emuladores.
Os quatro primeiros jogos, referentes à Saga Zero, têm o mesmo sistema de introdução, desenvolvimento e ação, onde as alterações são uma arma nova, chefões diferentes e o modo de usar os Cyber Elfs, fadinhas robô que dão upgrades, te salvam do buraco ou recuperam energia, por exemplo. A estrutura é sempre a mesma: Zero é descoberto, levado à sede dos rebeldes e recebe missões até o chefe final. Não que seja chato, só é repetitivo e quem não se apegar pelo sistema de jogo e viciar dificilmente jogará os episódios 3 e 4 em seguida dos dois primeiros.
Por ser um jogo de portátil de 18 anos atrás, a saga Zero tem seus desfalques como baixa resolução e efeitos sonoros esquisitos, mas nada ofensivo, claro, porém sem o primor dos filtros como em outras coletâneas ou pixels mais bem estruturados, como na coletânea de Castlevania. Isso vai melhorando com os títulos e, no 4°, temos algo bem melhor, servindo até para notarmos como os gráficos melhoram com o passar do tempo em uma mesma franquia e plataforma. A trilha sonora é bem legal e vai no embalo da ação e dos cenários, que são bem variados, e os efeitos visuais são simples, mas têm seu impacto.
Como já dito antes, a coletânea Mega Man Zero é difícil e obriga o jogador a encarar o desafio de forma mais séria, pois as missões se perdem quando falhamos e não recomeçamos tão de perto como nas franquias anteriores. Certamente, foi um balanço necessário diante da grande gama de movimentos e ataques, sem falar das apelações do uso de arma primária e secundária, que devem ser evoluídas e dominadas para se extrair o máximo de diversão destes quatro jogos que revitalizaram o nome Mega Man na mente dos gamers. Tanto que esse mesmo protagonista chegou a participar do Crossover SVC Chaos : SNK vs Capcom, com um adaptação muito bem feita de seus ataques, armas variadas e claro, os Cyber Elfs ajudando.
Após quatro episódios, a saga Mega Man Zero dá espaço à franquia ZX, que significa Zero e X ao mesmo tempo, partindo da saga anterior, mas com histórias e personagens novos, além de um novo conceito de jogo baseado no sistema antigo, que rendeu dois episódios, agora no Nintendo DS. Em ambos, você controla um humano que, usando um dispositivo de Biometal, pode se transformar em várias versões de Mega Man.
A novidade fica por conta do novo modo online, chamado Z Chaser, onde o objetivo é passar por uma fase mais rápido que o adversário, seja ele controlado pela CPU ou um rival humano.
Primeiro, é possível escolher se seu avatar será menino ou menina, depois se descobre o guerreiro escolhido, que terá de lutar em um sistema com arma primária, secundária e absorção de inimigos derrotados em um mapa cheio de acessos, o que faz dos títulos um Metroidvania com referências à saga Mega Man X. Em ZX, o avatar não faz muita diferença, mas em Advent, algumas habilidades se destacam, como o tipo de tiro, além de ser possível se transformar nos chefes, algo inédito na série.
Sim, ao invés de usar a arma ou habilidade do robô maligno derrotado, você se transforma nele e pode usar seus ataques e super golpes, com o gasto de uma barra de energia de poder, obviamente.
Falar ao mesmo tempo de ZX e ZX Advent não é menosprezar de forma alguma as duas franquias, mas é um modo de compará-las. É muito mais fácil analisar os episódios de uma série jogando todos em um curto espaço de tempo, e assim, perceber como os desenvolvedores trabalham para criar tantos jogos divertidos e longos em um pequeno intervalo. O primeiro Mega Man Zero é de 2002 e ZX Advente, de 2007, sendo seis jogos em menos de cinco anos, todos com roteiros, criação do design de robôs, fases, novas mecânicas e poderes, sem falar do anime nas cutscenes dos últimos, algo que não era visto desde 1997, em Mega Man X4.
É impressionante o trabalho para criar tantos jogos divertidos em um espaço de menos de cinco anos, com seis títulos lançados. É a prova que, com criatividade, dá para utilizar muito bem uma franquia.
Como esperado de um jogo de Nintendo DS, os gráficos são muito melhores, com trilhas mais pesadas e efeitos adequados ao ambiente que varia bastante. Você andará muito, mesmo tendo um sistema de teleporte mais desenvolvido. Em ZX, vai se lembrar de Castlevania II, pois existe uma cidade para explorar, cidadãos assustados para conversar e procurar por itens, muitos lados para sair e algumas ameaças. Não se sabe se foi proposital, mas com tantos robôs fortes querendo a cabeça do pobre entregador, é uma péssima noite para ser um Hunter.
A novidade fica por conta do novo modo de jogo, que tem interação online, chamado Z Chaser, onde o objetivo é passar por uma fase mais rápido que o adversário, seja ele controlado pela CPU ou um rival online, como se fosse um Time Trial com speed run. Os recordes ficam salvos em um ranking online para que você possa se exibir para todo o mundo. Os seis jogos da coletânea trazem o extra, e para quem já terminou todos, vai ser muito mais fácil conseguir tempos menores ou mesmo ver os malucos da internet jogando em tempos absurdamente curtos, descobrindo seus macetes para tentar reproduzir.
Mega Man Zero/ZX Legacy Collection era uma coletânea muito necessária para os saudosos fãs do Mega Man em 2D, para agradar aos novos e marcar no coração desta geração como a franquia é rica e pode ser muito bem utilizada em mãos criativas até a exaustão. Certamente, esse foi o motivo do fim desta saga Zero em pouco tempo.
Diferente de Phoenix Wright Ace Attorney Trilogy, aqui você não vai ter ninguém para te defender e vai ter que se virar para encontrar solução nas situações aparentemente sem saída e labirintos hi-tech até chegar na área onde se inicia a missão, com o respawn imediato de inimigos e pouca energia vital, mas muita criatividade nas possibilidades para compensar os jogadores mais hardcore
O jogo foi testado no PC, em cópia cedida pela Capcom.