Monster Hunter é uma daquelas estranhas séries que parecem ser sempre a mesma coisa, mas que conseguem fazer com que cada novo jogo seja uma pequena revolução em suas mecânicas. E, por mais estranho que seja pensar nisso, essa característica é um dos grandes diferenciais da franquia que é um sucesso estrondoso no Japão, mas que somente agora vem sendo descoberto no Ocidente.
Boa parte da magia que atrai os jogadores para as caçadas está em suas mecânicas e a Capcom vem fazendo um excelente trabalho no refino na jogabilidade e nos esforços de fazer com que ela seja interessante para os veteranos ao mesmo tempo que se torna acessível para os novatos. Essa característica já havia sido um dos destaques em Monster Hunter 4 Ultimate e agora se torna ainda mais aparente na mais recente iteração da série, que chega por aqui sob o nome de Monster Hunter Generations.
Como o próprio título sugere, o jogo é uma viagem pelo passado da franquia. Ao trazer de volta mapas e monstros dos games anteriores, ele revisita essas aventuras passadas e as atualiza com as novidades introduzidas em Monster Hunter 4 Ultimate e com aquelas originais de Generations. Com isso, e transforma em uma enorme homenagem a tudo aquilo que a série construiu até aqui ao mesmo tempo em apresenta todo esse conteúdo a quem está dando seus primeiros passos no mundo das caçadas.
Esse retorno a conteúdos antigos está bem longe de ser apenas uma reciclagem da Capcom. Como dito, Monster Hunter Generations adapta muita coisa para adequar esse material à mecânica atualizada que a série adotou desde MH 4 Ultimate. Isso significa que os cenários receberam pequenas alterações para dar mais ênfase à possibilidade de montar nos monstros e houve um balanceamento nas criaturas para encaixá-las dentro desta nova realidade.
Assim, quem teve seu primeiro contato com a série em Monster Hunter 4 Ultimate já chega a Generations percebendo a enorme familiaridade que ele oferece. Porém, por mais que tudo esteja bem próximo daquilo que você já conhece, em nenhum momento ele esbarra naquele incômodo dejà vu. Por mais que você domine a mecânica ou conheça o cenário, nada soa como reaproveitamento.
Além disso, Monster Hunter Generations traz ainda outros pequenos ajustes que ajudam a fazer com que a jogabilidade fique ainda mais refinada. Isso inclui desde coisas pequenas, como a possibilidade de ver os benefícios de cada refeição feita em sua vila ou a de coletar todos os itens deixados por um monstro de uma só vez, até mudanças um pouco mais elaboradas.
Monster Hunter é uma daquelas séries que parecem ser sempre a mesma coisa, mas que conseguem fazer com que cada novo jogo seja uma pequena revolução em suas mecânicas.
A maior delas são os chamados Deviants, uma nova categoria de monstros que chega para acabar com aquela sensação repetitiva quando você se depara com uma criatura já vencida. Eles são uma espécie de evolução de suas caçadas anteriores, e com novos padrões de ataque, exigem que o jogador deixe de lado tudo o que já sabe sobre aquela presa e adote uma nova estratégia. Com isso, Monster Hunter Generations faz com que cada nova missão seja única, por mais o alvo final seja “o mesmo”.
Porém, o novo game da série não se resume a apenas atualizar conceitos anteriores. Ele se preocupa em fazer todos esses ajustes, mas também pensa em maneira de adicionar conteúdo inédito. Não estamos falando de uma expansão de Monster Hunter 4 Ultimate, mas de um passo da franquia rumo ao seu futuro.
Nesse aspecto, a Capcom adicionou dois elementos fundamentais à jogabilidade. O primeiro deles são os chamados Hunting Styles, que funcionam como estilos diferenciados de combate. Logo de início, o jogador pode escolher um entre os quatro modelos diferentes e definir como seu personagem vai agir em um confronto. Com o Guild Style, por exemplo, ele se mantém mais conservador e com uma mecânica próxima dos jogos anteriores. Porém, ao optar pelo Aerial Style, ele usa e abusa dos ataques aéreos e da capacidade de se pendurar em um monstro, o que cria uma dinâmica completamente diferente.
E esse é o objetivo de Generations ao trazer os Hunting Styles. Como cada um deles oferece um estilo de combate diferente, isso influencia diretamente nas mecânicas e no modo como você vai se portar diante de uma fera. Desse modo, a personalização da série não se limita mais aos equipamentos utilizados por seu caçador, abrangendo também as suas características de batalha. Além disso, como é possível alternar a qualquer momento do game, você pode testar e experimentar qual Style se encaixa melhor no seu modo de jogar.
Paralelo a isso, as Hunter Arts são outra adição importante. De maneira resumida, elas são habilidades especiais que seu caçador pode utilizar quando completa uma pequena barra e que podem gerar efeitos variados. As Arts podem ser usadas tanto para desferir um golpe poderoso em todos os monstros ao seu redor quanto para ganhar benefícios para seu personagem e seu grupo.
E, como há um número máximo de Arts que pode ser equipado com base em seu Style e até na arma que você utiliza, o gerenciamento e a estratégia voltam a ser pontos importantes por aqui. É claro que você pode ignorá-los, mas isso seria ignorar também o que Monster Hunter Generations traz de novo. Como é tradicional da série, elaborar uma estratégia e gerenciar cada um dos recursos a seu dispor é o maior segredo de um caçador — e as novas mecânicas apenas acentuam isso.
Como dito no início desta análise, Monster Hunter Generations traz de volta o cuidado que a Capcom teve com os novos jogadores em Monster Hunter 4 Ultimate. E uma das armas para garantir essa acessibilidade são os Felynes, os pequenos companheiros felinos que sempre acompanharam os caçadores e que viraram marca registrada da série.
Em Generations, contudo, eles são mais do que apenas seus aliados. Graças ao novo Prowler Mode, o jogador pode alternar entre seu caçador e o pequeno gato guerreiro, o que garante muito mais facilidades. Ao controlar um Felyne, a jogabilidade se torna muito mais simplificada, eliminando muitos dos “complicadores” que Monster Hunter normalmente oferece.
Sem uma barra de stamina, o jogador não precisa mais se preocupar com a barra que mostra o nível de cansaço de seu personagem, o que possibilita a realização de ataques mais ferozes. Além disso, o gatinho não consegue usar itens, o que evita toda a dor de cabeça de gerenciar sua bolsa antes de uma missão. Isso deixa as coisas mais limitadas, é verdade, mas cumpre seu dever de tornar tudo mais amigável para quem está começando a jogar.
Controlar um Felyne é tão simples que eles contam até mesmo com vidas extras. Ao contrário de seus companheiros humanos, eles possuem duas vidas a mais, o que funciona como uma espécie de “Continue” para o caso de ele ser derrubado em combate. E suas habilidades também são bem mais fáceis de serem executadas.
Monster Hunter continua não sendo um jogo para todos, se concentrando em um nicho bem específico. A velha barreira de antes ainda existe, ainda que um pouco menor.
Porém, ao mesmo tempo em que tenta facilitar as coisas para os novatos, Monster Hunter Generations acaba esbarrando em um problema que já era sentido nos games anteriores, mas que se torna mais aparente por aqui: a burocracia. Há uma quantidade absurda de tutoriais e explicações, o que torna o jogo lento e cansativo. E o que deveria ser algo que atraísse novos jogadores acaba exatamente afastando-os.
É o preço a se pagar pela grande quantidade de conteúdo que o título oferece. Enquanto os caçadores mais experientes vão ignorar essa avalanche de diálogos didáticos, os novatos acabam sendo obrigados a ler cada linha de diálogo para entender o funcionamento de cada mecânica e recurso disponível. É quase como se, para poder sair em sua primeira missão, o jogador tivesse de sentar em uma biblioteca e ler livros e livros sobre o tema.
Até mesmo o Prowler Mode acaba sendo prejudicado por isso. O modo voltado para quem está tendo seu primeiro contato com a série acaba sendo engolido por um mar de tutoriais e menus de modo que não é difícil imaginar que muitos desses jogadores sequer vão saber como controlar o pequeno Felyne.
Isso faz com que o jogo acabe sofrendo do mesmo mal de seus antecessores. Ele exige muita paciência e dedicação dos jogadores antes que as coisas realmente comecem a acontecer, e isso distancia aqueles que estão interessados em ir além. Ele continua não sendo um jogo para todos, se concentrando ainda em um nicho bem específico. A velha barreira de antes ainda existe, ainda que um pouco menor.
Porém, mesmo com seu começo lento, Monster Hunter Generations é uma excelente porta de entrada para quem quer conhecer a série e entender por que ela faz tanto sucesso. Ele pode até tropeçar e repetir alguns de seus erros do passado, mas também traz de volta tudo aquilo que a série tem de melhor. E, nessa balança, os pontos positivos acabam se destacando.
Afinal, para ser um caçador, basta ter paciência e saber persistir.
O game foi testado em cópia cedida pela Capcom.