Machismo, falta de representatividade e desrespeito são palavras comuns nas rodas de discussão da internet, mas para as mulheres, também são parte de um cotidiano constante. A luta contra esse tipo de coisa, para elas, nunca termina. Ela não acontece apenas nesse dia 8 de março, e não somente na internet. Ou, pelo menos, não deveria ser assim.

Sendo assim, o Dia Internacional da Mulher não é uma data para festejar, nem dar parabéns. Pelo contrário, é uma data de reflexão e fortalecimento. Uma ocasião para exaltar a luta e, neste singelo artigo, lembrar de alguns nomes que fizeram ou fazem parte desse movimento. São algumas das mulheres mais fortes dessa indústria, que você pode ou não conhecer, mas que, com toda certeza, pavimentaram o caminho para muitas outras que virão e influenciaram a forma como eu, você e todos nós consumimos games hoje em dia.

Carol Shaw

Carol Shaw

Quando se fala do passado da indústria, não tem como ir muito mais longe do que o Atari. O console que para muita gente foi o primeiro também tem em sua história a primeira mulher a trabalhar na indústria de games. Em seu cartão de visitas, Carol Shaw era “engenheira de software para microprocessadores”, e em seu currículo, está River Raid, um dos maiores clássicos da indústria.

Mais do que apenas um título de sucesso, o game da Activision representou uma revolução em termos de tecnologia. Estamos falando da geração procedural de conteúdo, que tornava cada fase de River Raid diferente da anterior a partir de uma aleatoriedade no comportamento de inimigos, itens e objetos do cenário. O que impressiona a todos em No Man’s Sky, por exemplo, começou aqui.

No currículo de Carol Shaw também estão clássicos como Happy Trails, Super Breakout e 3D Tic Tac Toe. Ela deixou o mundo dos games em 1990, quando se aposentou. Hoje, mora no estado americano da Califórnia, onde faz trabalho voluntário.

Carla Meninsky

Carla Meninsky

E se Carol Shaw foi a primeira mulher da indústria dos games, Carla Meninsky foi a segunda. Uma integrante tardia da equipe original que desenvolveu os primeiros títulos para o Atari, ela fez parte da equipe de desenvolvimento de ports dos arcades para os consoles caseiros, como Dodge ‘Em e Warlords.

Apesar de ser filha de uma programadora e de ter aprendido a lidar com códigos e números ainda no ensino médio, Meninsky optou por seguir carreira no campo da neuropsicologia, quando na faculdade. Entretanto, sua paixão pelas artes e pela forma como o cérebro interpreta a visão acabaram a levando de volta para as ciências da computação, e daí para os games, foi só um pulo. Depois da Atari, ela trabalhou na Electronic Arts e também teve sua própria desenvolvedora.

Ao longo do caminho, entretanto, mais uma mudança. Sua carreira no campo dos jogos eletrônicos e da animação a chamou a atenção para as quebras de direitos do autor, tão comuns nos anos 1980. Com isso, ela acabou se enveredando pelo campo do direito e, até hoje, atua nos Estados Unidos como advogada especializada em propriedade intelectual.

Lucy Bradshaw

Lucy Bradshaw

Você pode não se importar mais com ela, mas The Sims ainda é uma das marcas mais importantes da Electronic Arts. E dentro de sua desenvolvedora dos títulos quem mandava era Lucy Bradshaw, que se tornou a principal representante não apenas dos títulos de simulação, mas de todo o portfólio da produtora Maxis desde a saída do fundador Will Wright.

Atuando como gerente geral da franquia, ela era mais do que uma executiva, supervisionando o desenvolvimento de todos os títulos e spin-offs da produtora e aparecendo pessoalmente em vídeos e apresentações de títulos da empresa. Com passagens pela LucasArts e Activision, ela entrou para a Maxis em 1997 e foi subindo de posto, tornando-se produtora de executiva de The Sims 2, até chegar a vice-presidente de produção em 2008, com o lançamento de Spore.

Após 18 anos de história, Bradshaw deixou a Maxis – e a Electronic Arts – em setembro de 2015, em meio a uma reorganização interna que fundiu o estúdio a escritórios mobile da distribuidora em busca de um maior alcance. Ela ainda não divulgou o que vai fazer a seguir.

Amy Hennig

Amy Hennig

Diretora e roteirista, Amy Hennig é figurinha carimbada na lista das mulheres mais importantes do mundo dos games. Com créditos que remetem aos anos 1980 e passagem por empresas como EA e Nintendo, ela ganhou ainda mais respeito quando se tornou um dos principais nomes por trás da franquia Soul Reaver, trabalhando na Crystal Dynamics.

Foi justamente o trabalho de produção, arte e roteiro realizados na produtora que a levaram à Naughty Dog. Foi aí que veio a notoriedade, com a direção de Uncharted: Drake’s Fortune e o posto de diretora criativa da franquia do aventureiro. Na desenvolvedora parceira da Sony, ela liderava um time de 150 pessoas e teve participação também em outros jogos, como The Last of Us.

Uncharted 4: A Thief’s End, entretanto, foi seu último trabalho com a Naughty Dog. Antes mesmo de completa-lo, ela deixou a empresa e hoje trabalha na Visceral Games, sendo uma das principais responsáveis pelo aguardado e ainda não anunciado título de Star Wars da empresa.

Hope Cochran

Hope Cochran

Com experiência na área de telecom, Hope Cochran é a mulher forte por trás da transformação da King na maior empresa de jogos mobile do mundo. Nas costas do sucesso de Candy Crush Saga e suas microtransações, o viciante título abriu as portas da desenvolvedora para o mercado financeiro, é o principal responsável pelo faturamento estrondoso que a empresa acumula ano após ano e continua, firme e forte, no topo da lista de mais baixados em praticamente todas as plataformas.

A diretora financeira da produtora também foi uma das principais responsáveis por trás da negociação e posterior compra da King pela Activision. O negócio no valor de US$ 5,9 bilhões não foi apenas um dos maiores já realizados no mundo dos games, mas também transformou a distribuidora de Call of Duty na maior empresa desse mercado.

Roberta Williams

Premiada com o “Icon Award” no The Game Awards de 2014, Roberta Williams, ao lado de seu marido, Ken, é a fundadora da Sierra Entertainment, que no passado longínquo dos aventures para PC, foi uma das principais empresas da indústria. São da empresa títulos clássicos como Phantasmagoria e King’s Quest.

A história de Roberta com os games começa quando ela foi apresentada, pelo marido, a Adventure, um game de aventura baseado unicamente em texto. Até hoje citado por ela como um de seus preferidos, o título a levou a pensar que os games poderiam ter um incrível potencial visual. Isso fez com que ela desenvolvesse, ao lado do marido, Mistery House. O título com linhas simples foi a base fundamental da Sierra, que se tornou uma das empresas mais icônicas do mercado.

Como distribuidora, a Sierra também trouxe ao mercado jogos consagrados como Half-Life e Counter-Strike, além de games da série Crash Bandicoot e Spyro: The Dragon. Anos após sua fundação, ela se tornou parte da Activision e chegou a deixar de existir em 2008, voltando à ativa seis anos depois com o reboot episódico de King’s Quest, que ainda está em andamento.

Susan Wojcicki

Susan Wojcicki

Temos aqui alguém que não é necessariamente da própria indústria de games, mas que cada vez mais vem moldando esse setor, na maneira com a qual as desenvolvedoras divulgam conteúdo e os usuários o consomem. Considerada, em 2015, como a pessoa mais importante do ramo de publicidade, Susan Wojcicki é a CEO do YouTube.

É ela, por exemplo, quem esteve à frente da empresa no recente lançamento do YouTube Gaming, e também quem está transformando a companhia em mais do que apenas uma plataforma de compartilhamento de vídeos. Iniciativas de produção de conteúdo original, uma maior abrangência entre plataformas e, acima de tudo, o apoio aos criadores, tudo aparece sob sua gestão.

Foram iniciativas assim que levaram à construção do serviço como um concorrente de peso para o Twitch, abrangendo mais e mais gente que quer levar suas jogatinas para o mundo. Nós mesmos, do NGP, estamos nessa pegada, um castelo que vem sendo construído por uma das mulheres mais fortes do mundo da tecnologia, atualmente.

Anita Sarkeesian

Anita Sarkeesian

A blogueira feminista foi a protagonista de uma das maiores polêmicas que já ocorreram na indústria do entretenimento eletrônico. Por meio de seu vlog, o Feminist Frequency, ela começou a chamar a atenção para os clichês da representação feminina na indústria dos games e também na cultura popular, gerando uma bufada de ódio, controvérsia e até ameaças de morte.

O lançamento de um projeto no Kickstarter para financiar uma websérie, em 2012, foi o estopim para toda a discussão, extensivamente acompanhada pela mídia e por apoiadores de ambos os lados, muitas vezes de forma violenta. Sarkeesian se tornou um símbolo da misoginia praticada online e também das diferentes formas de assédio virtual, ao mesmo tempo em que continuava a estudar sobre representatividade de gênero na cultura pop.

Em setembro de 2015, a Intel anunciou um investimento de US$ 300 milhões em um projeto de diversidade que tem Sarkeesian como uma de suas líderes. A ideia é promover iniciativas de educação e inclusão de forma a trazer mulheres e representantes de minorias para o mercado de tecnologia. É claro que, aqui, o ódio também correu solto, o que apenas confirmou ainda mais a necessidade de projetos desse tipo.

Tanya Jessen

Tanya Jessen

Homens musculosos e gigantescos, trocando balas com alienígenas utilizando armaduras que os deixam ainda mais parrudos. Parece o enredo de um filme de ação, daqueles feitos de caras para caras. Mas por trás disso, está uma mulher, Tanya Jessen, um dos principais nomes da franquia Gears of War.

Trabalhando para a Epic Games há mais de dez anos, ela saiu dos times de verificação de qualidade da empresa para se tornar uma de suas grandes produtoras. Aturando como associada ou em um cargo pleno, foi ela quem tocou Gears of War desde seu primeiro episódio até o mais recente, Judgment, o que inclui também a remasterização do primeiro título para PC e Xbox One.

Além disso, ela trabalhou como produtora de Bulletstorm e teve participação ativa na revolução operada por Infinity Blade, um dos primeiros jogos a demonstrarem que os dispositivos mobile podem, sim, terem “games de verdade”. Jessen também esteve ao lado de Cliff Bleszinski na produção de Fortnite, ainda em desenvolvimento, e, possivelmente, também está na equipe de produção de Gears of War 4.

Meagan Marie

Meagan Marie

Meagan Marie fez o caminho que muitos de nós, fãs de games, gostaríamos de trilhar. O amor pelos games a levou a seguir uma carreira em editorial, atuando como redatora freelancer até chegar ao posto de editora associada da revista americana Game Informer. Paralelamente, ela expressava sua paixão por meio dos cosplays, e foi a união dessas duas coisas que a fez alçar voos maiores.

Ela se tornou gerente de comunidades da desenvolvedora Crystal Dynamics, participando de forma ativa da promoção do reboot de Tomb Raider. Quem esteve na Brasil Game Show 2015 do ano passado, por exemplo, viu o suporte que a produtora, ao lado da Microsoft, deu aos fãs, com diversos eventos, concursos e até jantares que reuniram sites especializados, fãs e cosplayers de Lara Croft. Marie foi peça integrante de tudo isso.

Nesse meio tempo, ela também passou pela Riot Games, trabalhando em eventos para promover League of Legends na Europa. Marie, ainda, é a organizadora do Causeplay Shop, evento anual que reúne cosplayers e artistas que vendem seus trabalhos em prol de causas filantrópicas.

Kiki Wolfkill

Kiki WOlfkill

Como uma das franquias mais poderosas da Microsoft, Halo é tão grande que, para muitos fãs mais apaixonados, não dá nem mais para falar dela como apenas uma série de games. Com um universo que se expande por livros, séries de TV, bonecos e todo tipo de merchandising, a saga do universo em que Master Chief existe é multiplataforma. E no controle de tudo isso está a produtora Kiki Wolfkill.

Apontada pela Microsoft para “cuidar do futuro de Halo” na época em que a franquia saiu das mãos da Bungie para as da 343 Industries, ela foi a responsável por levar esse universo para o mundo. Foi dela, por exemplo, o principal incentivo para a realização da websérie Forward Unto Dawn, além de ter supervisionado acordos de licenciamento para autores e outros produtores de conteúdo a partir do quarto título da franquia.

Hoje, ela é a reconhecida produtora de Halo 5: Guardians e uma das principais personalidades do Halo Channel, o canal dedicado à série e tocado pela própria 343 Industries. Nada disso, entretanto, poderia ter acontecido caso Wolfkill tivesse seguido seu cronograma original, da época de faculdade – se especializar em estudos da língua chinesa e, quem sabe, pilotar carros de corrida.

Malena

Malena

Dona do maior canal tocado por uma mulher no YouTube brasileiro e atendendo pela alcunha de Loira Noob, Malena sempre tem uma legião de fãs a seguindo por onde vai. Na BGS, por exemplo, ela era uma das presenças vip no estande da Ubisoft, empresa para a qual ela também já produziu conteúdo diretamente. Não é à toa: são quase dois milhões de inscritos no YouTube.

Para ela, entretanto, ser uma mulher e gostar tanto de games é algo normal. Ela começou nesse mundo assistindo à mãe jogar e, depois, pegou ela mesma o controle, crescendo em um mundo de personagens e grandes histórias. Com o tempo, transformou isso em trabalho, um que coloca o amor acima do ganho financeiro, que é bastante alto, principalmente quando se leva em conta a publicidade obtida a partir do reconhecimento do YouTube.

O que mais chama a atenção em Malena, entretanto, é a simplicidade. Ela não tem problema em errar, não possui o menor pudor em mandar mal na frente das câmeras e, principalmente, está sempre pronta, com dicas para quem quer iniciar. O amor pode nos levar a longas distâncias, mas ela é a prova de que apenas isso, sem competência e simpatia, de nada adianta.

Jade Raymond

Jade Raymond

Uma das executivas mais importantes da indústria de games, Jade Raymond foi, durante anos, o braço forte por trás da franquia Assassin’s Creed. Com background de programadora, ela passou por empresas como Sony e Electronic Arts antes de chegar à Ubisoft Montreal. No estúdio, baseado em sua cidade-natal, ela não apenas participou da criação da maior franquia da produtora francesa, como também operou uma mudança interna na companhia.

A força dos sucessos desenvolvidos por ela apenas lhe dava mais relevância e a tornava mais conceituada para lutar pela inclusão e diversidade. Após o lançamento de Assassin’s Creed: Bloodlines, para o PSP, ela foi apontada como diretora dos estúdios da Ubisoft em Toronto e, por lá, começou a disseminar uma cultura que trazia mais mulheres e representantes de minorias para uma empresa tradicionalmente masculina, que chegou, certa vez, a afirmar que criar uma assassina feminina “daria muito trabalho”.

A influência do trabalho de Raymond é percebida sem muitas dificuldades nos títulos da Ubisoft dos últimos anos. Em 2015, entretanto, ela deixou a empresa para voltar à EA, mas desta vez, no comando de seu próprio estúdio, o Motive. Além disso, ela passa a trabalhar ao lado de Amy Hennig, que também faz parte dessa lista, no mítico game de Star Wars da produtora Visceral.

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