Foi uma longa jornada até aqui, não só para Claire, Moira, Barry e Natalia, mas também para o jogador. Ao longo de um mês, a Capcom entregou o que, para muita gente, seria a redenção ou a morte definitiva de Resident Evil. Temos, agora, o cenário completo diante de nós, tanto para quem estava acompanhando o título a cada capítulo ou para quem passou longe, e agora, terá acesso ao conteúdo na íntegra em edição física.
Dá para dizer, então, que o quarto episódio de Resident Evil Revelations 2, “A Metamorfose”, chega com uma responsabilidade ainda maior que a do primeiro. É aqui que tudo se amarra, a história termina e o caminho é aberto para possíveis futuros da franquia. E o que se percebe é que o título parece ser mais do que uma mera alusão à obra de Franz Kafka ou ao destino de personagens centrais da trama – é também uma metáfora para o momento atual da própria franquia.
Se com 13 anos de idade, Resident Evil chegou à puberdade, aos 19 parece estar se aproximando da idade adulta.
Mais uma vez percebemos uma intenção de apostar em aspectos bastante distintos a cada episódio de RE Revelations 2. Depois de criar capítulos baseados em puzzles ou focados no combate, a Capcom transforma a etapa final de Claire e Moira quase que em um jogo de plataforma, uma corrida desesperada pela torre que é o epicentro de toda a trama.
O episódio é quase que inteiramente tomado por revelações e, na sequência, vem o desesperador momento da autodestruição, no qual as protagonistas precisam escapar pelo lado de fora do complexo, ao melhor estilo dos jogos antigos da série. A diferença é que, aqui, o jogador tem controle completo sobre a escapada, que passa por um emaranhado de plataformas e caminhos que parecem feitos especialmente para confundir, como evidenciado por uma das falas do próprio sistema de segurança do local.
É aqui que a liberdade nos controles trazida por Resident Evil 6, por exemplo, mostra ao mesmo tempo sua face boa e ruim. O título permite que o jogador corra para lá e para cá e faça escolhas – será melhor tomar dano de queda para ir mais rápido ou descer calmamente? Será que vai dar tempo de fugir se eu for pegar aquele item? Ao mesmo tempo, os comandos não são precisos o bastante. Devido a esse fator, por exemplo, você com certeza verá uma das personagens caindo do precipício simplesmente por descerem como idiotas de uma plataforma para outra.
“A Metamorfose” também repete um dos principais erros do terceiro episódio, trazendo desafios insossos e pouco interessantes na parte protagonizada por Barry. E se em “O Julgamento” o trecho com o personagem parecia longo de tão chato, aqui ele é literalmente longo, já que você controlará o personagem em boa parte das cerca de 2h30 que são necessárias para completar o episódio, que também é o maior dos quatro.
Mais do que uma mera alusão à obra de Kafka ou ao destino de personagens centrais, “A Metamorfose” é também uma metáfora para o momento atual da própria franquia.
Durante todo esse tempo, você estará mais uma vez diante de desafios um tanto quanto insossos, como os longos trechos em corredores cheios de gás, que exigem que você seja rápido e se prenda completamente ao mapa para não morrer sufocado. Outros, porém, trazem a imensidão e plenitude do que está por vir, como os momentos interessantes em cima de um guindaste, capazes de trazer frio à barriga até mesmo de quem não sofre de vertigem.
Mas aqui, diferentemente do capítulo anterior, temos novamente um forte incentivo para seguir em frente. Afinal de contas, estamos perto do fim e, de forma mais flagrante que no episódio anterior, diretamente no encalço de quem causou todo o mal aos personagens da trama.
Não dá para deixar de falar do final de Resident Evil Revelations 2 aqui, mas pode ficar tranquilo, não serão entregues spoilers neste texto. A questão é que é justamente em seus momentos derradeiros que fica evidenciado aquilo que sempre comentei em diversos gameplays e artigos desde os tempos de Resident Evil SAC: a Capcom sabe fazer um bom game da série quando quer.
Depois de muitos anos, voltamos a ter um título com dois finais. De forma a não restarem dúvidas sobre qual deve ser considerado e não cometer um erro em que já caiu tantas vezes no passado, a Capcom faz questão de deixar claro qual é o “bom” e qual o “ruim”. Cabe a você, porém, descobrir como realizar cada um deles – e dica, não é tão simples quanto pode parecer.
Caso você esteja empolgado o suficiente com o game e a franquia, se verá entrando em uma espiral de emoções, sacadas e momentos realmente empolgantes, que farão com que você se arrepie, dê risada e até mesmo aplauda. E na sequência, com a sensação de dever cumprido por ter controlado os personagens e mantido-os vivos até o final, se verá impotente diante de uma possibilidade que pode acabar mudando tudo.
E é justamente aí que está a grande contribuição de Resident Evil Revelations 2 para a série. O título não apenas é capaz de recuperar a esperança dos fãs como abre um precedente interessante na abordagem de personagens, enredos e, principalmente, da própria história.
O título não apenas é capaz de recuperar a esperança dos fãs como abre um precedente interessante na abordagem de personagens, enredos e, principalmente, da própria história.
Se com 13 anos de idade, Resident Evil chegou à puberdade e passou a ter personagens que usam decote e falam palavrão, aos 19 a franquia parece estar se aproximando da idade adulta. O que percebemos aqui é um amadurecimento em termos de visão, mesmo que ainda de forma periférica. Ainda assim, é um belo avanço para uma série que, há pouco tempo, investiu em QTEs, monstros cheios de peitos e dinossauros gigantes para tentar capturar a audiência.
Em Resident Evil Revelations 2, a Capcom entrega uma mensagem que boa parte dos fãs, independente de sua visão sobre a série, devem receber de bom grado. Resta apenas esperar que ela também entenda direitinho os sinais enviados de volta e que as sementes plantadas por Dai Sato e companhia neste game não encontrem um terreno infértil logo abaixo da superfície.
O jogo foi analisado no PlayStation 4, em cópia cedida pela Capcom.