A edição 2016 do The Game Awards será lembrada não por causa das discussões com relação ao GOTY vencido por Overwatch ou ao troféu honorário recebido por Hideo Kojima (ok, talvez por este também). O principal momento da noite, no fim das contas, não foi protagonizado por um gigante da indústria, mas sim, por Ryan Green, criador de That Dragon, Cancer, ao receber o prêmio Games for Impact.

O discurso do pai que decidiu transformar sua dor e a da esposa, Amy, em game, gerou aplausos do público presente e também reações da plateia online. O título independente, financiado pelo Kickstarter, fala sobre a pequena vida de Joel, filho do casal, diagnosticado com um câncer quando tinha apenas um ano de idade. Os médicos lhe deram poucos meses de vida, mas ele viveria por mais quatro anos.

Sem dúvida, uma das maiores barras que um pai pode enfrentar, o processo é transformado em jogo de maneira lúdica. A aceitação do inevitável, os momentos no hospital e as noites mal dormidas são transformadas em minigames, enquanto os jogadores têm um olhar bastante dolorido sobre tais momentos. Não é para ser um jogo divertido, que alivia, mas sim, uma experiência que toca, da forma mais dolorosa possível.

É uma história, inclusive, extremamente real, e tão dolorida quanto. O câncer é uma realidade, infelizmente, comum, e você que está lendo, com certeza, já esteve pelo menos nos arredores de uma situação como a retratada no título. Se não esteve, dê graças a qualquer coisa que você acredite por isso, pois não há nada pior do que perder alguém que amamos. Talvez, apenas a perspectiva de tocar cada dia sabendo que aquele ente querido vai nos deixar.

É justamente por isso que That Dragon, Cancer, merece o destaque que recebeu. O game é, basicamente, um memorial da curta vida de Joel Green, além de permitir que seus pais lidem com isso. Se existe um título melhor para vencer uma categoria chamada “jogos de impacto”, eu não sei qual é. Ryan Green recebeu o prêmio das mãos dos YouTubers iJustine e MatPat. E em seu discurso, agradeceu não apenas pela honraria, mas também pela possibilidade de contar essa história e, acima de tudo, ser ouvido.

“Muitas vezes, nos video games, podemos escolher como somos vistos. Nossos avatares, tuites e o trabalho que fazemos refletem a história que queremos contar ao mundo, sobre porque nossas vidas importam. Mas, às vezes, a história é escrita por nós, por nossa causa ou apesar de nós, e revela nossas fraquezas, fracassos, esperanças e medos. Vocês nos deixaram contar a história de nosso filho, Joel.

E, no final, não era a história que queríamos contar. Mas vocês escolheram nos amar em nosso luto, parando e ouvindo, e não dando as costas. Deixar a vida de meu filho mudar vocês, pois escolheram vê-lo e perceber como o amamos. Quando estamos dispostos a ver uns aos outros, não pelo que queremos ser, mas pelo que somos e quem fomos feitos para ser, esse ato de amor e graça pode mudar o mundo.”

That Dragon, Cancer foi lançado em janeiro deste ano para PC. Mais tarde, recebeu também uma versão para iPhone e iPad.

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