Obey Me

por Ulisses Lopes da Silva

Ah morre, diabo!

Situado em um futuro não muito distante, Obey Me se passa em um mundo em que as forças do mal estão agindo na Terra como se fossem empresas e máfias, algo similar ao que já existe, mas com toda a mitologia dos demônios e anjos que conhecemos através de quadrinhos, séries e filmes.

É neste ambiente herético que surge Vanessa Held, uma caçadora de almas a mando do filho de Satã em pessoa, que precisa obedecer as missões que lhe são passadas, enquanto Monty, seu cão demoníaco, precisa a respeitar, ao mesmo tempo em que outros seres também estão à serviço do mochila de criança. Obey Me, a obra-prima da Error 404, um estúdio independente e iniciante muito promissor, nasce dessa disputa de obediência.

Esse jogo de ação com visão de cima pode lembrar jogos como Diablo e Children of Morta por causa dos comandos, mas vai muito além destes citados, remetendo também a God of War 2, Devil May Cry e Darksiders. Você vai lutando contra hordas de monstros e ativando mais técnicas para si e seu cão em uma árvore de opções ativadas por pontos, após coletar Orbs, e conseguindo armas pelo caminho. Elas são mescladas aos poderes e também a Monty, com tudo ficando mais divertido para quem tem imaginação. A arena de combate nem sempre é amigável, porém. Partindo do clichê de jogos do gênero, Obey Me consegue se destacar por permitir gerar estratégias nem sempre comuns em jogos de ação, se tornando viciante facilmente.

Obey Me é a obra-prima do estúdio iniciante Error 404, com diversão garantida e combates instigantes que sempre permitem quebrar os próprios recordes.

O jogador controla uma assassina corporativa que vai para os lugares que o patrão mandar, sem saber ser a engrenagem da disputa entre demônios gananciosos, enquanto a humanidade está se lascando para sobreviver em um mundo totalmente inóspito. Estranhamente, os meios de transporte coletivos e ensacamento do lixo ainda funcionam, mesmo que com baixo grau de higiene.

A cada fase que avança, Vanessa vai descobrindo mais coisas sobre si e uma terceira força que decidiu, enfim, dar as caras para ajudar a derrotar os mafiosos do inferno. Com uma história simples e uma dupla de comediantes involuntários como protagonistas, a trama se mostra leve e sem muitas surpresas, mas dá o tom para fazer as missões serem divertidas.

A missão é atravessar fases lineares que, às vezes, levam a becos sem saída com itens, livros de Aleister Crowley e cristais de upgrade. Estes momentos servem como side quests, pois têm um nível muito maior de dificuldade do que a fase pelo “caminho normal”, mas a recompensa é válida, exceto por esses livros que só se mostraram itens para colecionar.

Obey Me consegue se destacar por permitir gerar estratégias nem sempre comuns em jogos de ação, mantendo o desafio e se tornando viciante facilmente.

As armas vão da rápida adaga espiritual até a pesadíssima marreta da podridão, passando pelos punhos do impacto até o escudo e espada angelical que focam em contra-ataques, com suas técnicas secundárias e muitos combos para serem ativados e mesclados durante os combates. Quando uma técnica está ativa, trocar de arma não a desfaz, e como o jogo não dá moleza, toda estratégia é válida.

Mesmo com a protagonista ficando cada vez mais forte, Obey Me não é um jogo fácil. Os monstros tem uma I.A. bem ajustada e os cenários costumam ter espinhos, lancha-chamas, minas terrestres e até bolas macias que te empurram para o lado oposto quando não são um perigo. Para ser justo, os inimigos podem se acertar e a interação com seu pet das trevas é muito alta e aumenta ainda mais de acordo com os upgrades que podem ser feitos.

A técnica mais poderosa de Vanessa é uma fusão com Monty, que fica temporariamente mais forte e recupera energia enquanto a barra de Espírito se esvazia, algo como a Spartan Rage de Kratos, mas que depende do tipo de transformação do cão no momento. A técnica suprema que explode tudo e causa muito dano varia de acordo com o tipo de Monty transformado.

A trilha sonora é muito boa e combina com o ambiente, os cenários são detalhados, mas não têm poluição visual, apenas um excesso de tons lilás e roxos e muita luz onde não precisa. Às vezes, menos é mais. Os menus são bem intuitivos de se navegar, mas falta um fundo adequado, pois é todo preto. Uma reclamação é a falta de possibilidade de configuração de comandos, seja no teclado ou joystick.

Tirando esses detalhes, tudo corre muito bem, com comandos precisos e usar o mouse como direcional de ataque permite atacar vários inimigos encurralados sabiamente pelo jogador. Vale a pena citar também que a visão é muito afastada dos personagens e mostra muito do cenário desnecessariamente. Seria mais útil focar nos inimigos de perto, até para saber se o jogador está acertando alguém no meio da muvuca, pois o game não tem hitsparks que indicam o sucesso do ataque ou um som bem alto e específico para isso.

Lançado no fim de abril de 2020, Obey Me é diversão garantida, tem fator replay garantido e ainda permite coop local. Os combates são instigantes e sempre é possível superar os próprios recordes com técnicas mais avançadas de extermínio. É importante não confundir com o jogo de celular Obey Me, que também fala da família de Satã, mas em um simulador de encontros japonês.

O jogo foi testado no PC, em cópia cedida pela Blowfish Studios.