Todos estão falando da série do momento, e por isso, nada mais justo do que reservarmos um espaço para ela aqui também. Afinal de contas, tamanho choque merece não apenas um lugar, mas também toda repercussão necessária. Bem-vindos à nova temporada de “Black Mirror”, onde as nossas maiores fragilidades e medos aparecem em meio ao brilho da linha do tempo e a escuridão gerada pelo botão de bloqueio.
Em seu terceiro ano e agora nas mãos do Netflix, o seriado britânico apresenta uma série de histórias que exploram a compulsão do ser humano pela tecnologia e os reflexos que um mundo totalmente conectado pode ter sobre nós. Como você deve estar imaginando, eles nem sempre são sadios, e aqui, aparecem extrapolados em situações das mais diversas, envolvendo, sempre, gente como a gente.
Em suas primeiras duas temporadas, o show já era bom o bastante para merecer sua atenção, e agora, na terceira, tem um sabor especial para os games. Em “Versão de testes”, segundo episódio da nova temporada, somos levados para um mundo em que a indústria se livrou do maior problema da realidade virtual, os pesados capacetes e óculos. Agora, a jogabilidade acontece dentro de nossas cabeças, e essa jogatina pode não ser tão irreal assim.
No capítulo, seguimos Cooper, um mochileiro em busca de dinheiro com pequenos bicos enquanto viaja pelo mundo. Ele acaba sendo convidado para participar dos testes de um novo jogo criado pelo visionário Shou Saito – uma referência direta a Hideo Kojima. O game de terror trabalha com os piores medos do jogador, gerando uma experiência que acontece de forma diferente para cada um, e dentro do próprio cérebro.
A questão é que nada nunca é positivo em “Black Mirror”, e o resultado, claro, passa bem longe da revolução dos games que muitos gostam de alardear com os capacetões de hoje em dia. E é justamente essa mistura de extrapolação de conceitos que faz da série algo tão interessante – todas as ideias parecem bizarras e absurdas de início, e aos poucos, vão ganhando contornos tão reais que chegam a ser aterrorizantes.
Apesar da referência gamer, “Versão de testes” está longe de ser o melhor episódio do show. Ainda não terminei a terceira temporada, mas pelo menos por enquanto, estou entre “Natal”, “Manda Quem Pode” ou “Toda a sua História”. Se quiser começar explodindo, vá com estes, e prepare-se para limpar seus miolos do teto.
É justamente no despertar dessas reflexões que está um dos maiores trunfos da série. O nome “Black Mirror” se refere à superfície reflexiva na tela de celulares ou tablets desligados, mas poderia muito bem falar, também, do próprio espectador. É comum, ao fim de um episódio, estar parado na frente da televisão, estático, sem saber exatamente o que pensar.
O tal espelho negro, nesse sentido, pode acabar sendo a própria televisão, onde o espectador se vê refletido de mais de uma maneira. Nos faz pensar se aquela tecnologia que nos traz tanta diversão e comodidade realmente trabalha a nosso favor, e até que ponto as pessoas podem chegar quando, ao mesmo tempo, podem expor suas vidas da mesma forma em que têm seus podres mais evidentes.
A série completa está disponível no Netflix. Assista e repense sua vida.