Um enredo elaborado e uma história não é exatamente a primeira coisa que se pensa quando falamos em FIFA. Na verdade, esse não é nem mesmo um pensamento, já que a franquia, desde sempre, focou sua jogatina nas partidas em si, oferecendo uma experiência multiplayer arrojada, tanto pela internet quanto no sofá, além de uma inteligência artificial capaz de desafiar até aos jogadores mais experientes.
FIFA 17, entretanto, apresenta uma série de mudanças, e a principal delas, é a de paradigma. Aqui, pela primeira vez em muito tempo, temos um título efetivamente novo, desenvolvido praticamente do zero com uma nova engine, a Frostbite. E com um retorno às origens, veio algo inédito não apenas na franquia, mas novos games de futebol em geral – um modo campanha.
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Nesta Jornada, como é chamada, controlamos Alex Hunter em seus primeiros dias na Premier League, a liga de futebol inglês e uma das mais importantes competições do mundo. Seguimos seu caminho desde o momento em que ele surge, como um novato promissor, ainda no banco de reservas, até o estrelato. Ou não, já que tudo depende de suas habilidades com a bola, em um modo que se molda de acordo com as ações do jogador.
O que acontece, então, quando o sistema de decisões de Dragon Age se junta ao motor gráfico de Battlefield, mas tudo isso segue com a bola nos pés? Foi o que conversamos com o produtor João Barão, da EA Sports, durante a Brasil Game Show 2016.
Imagem: Torcedores.com
New Game Plus: Os jogos esportivos em geral não têm exatamente uma tradição de contar grandes histórias. O que levou à criação de um modo história para FIFA 17?
João Barão: Isso é algo que os fãs de FIFA vinham pedindo há vários anos. Infelizmente, não pudemos fazer antes, mas neste ano, todas as condições se reuniram: a transição para a engine Frostbite, o novo estilo visual e a nova forma de se trabalhar culminaram no modo Jornada. Basicamente, a ideia é dar aos jogadores a possibilidade de viver a vida de um jogador profissional tanto dentro quanto fora dos campos.
NGP: No modo, é possível jogar de duas formas – com o time todo, permitindo uma criação melhor de jogadas e a utilização de outros atletas, ou somente com Alex Hunter, algo que é bem mais difícil. Qual a diferença entre essas duas escolhas para o andamento da história?
JB: O enredo sempre vai caminhar de acordo com o que você fizer na partida. Jogar apenas com Hunter ou com toda a equipe somente diferencia a jogabilidade, mas noto que, mesmo controlando toda a equipe, tento passar a bola sempre para [o protagonista] e fazer coisas com ele.
Um dos preceitos básicos do modo história é que tudo o que o jogador faz, tanto dentro quanto fora do campo, vai ter uma influência direta na história. Cumprir os objetivos durante as partidas, ganhar notas boas de desempenho, seguir a estratégia do treinador e tudo mais definem se Hunter será reserva ou titular, por exemplo.
Já fora do gramado, isso acontece por um sistema de conversas – o mesmo usado em Dragon Age: Inquisition, da BioWare. As respostas que você der e sua interação com os outros personagens vai moldando a personalidade de Hunter, e cenas específicas serão exibidas. Isso também tem influências dentro de campo – na maneira como ele reage a um erro, por exemplo.
NGP: Outros elementos fora da trama também influenciam desta forma? Por exemplo, se eu der um carrinho em um adversário e for expulso, ou fizer um gol contra, isso também terá relevância no enredo?
JB: Tudo tem influência. Uma expulsão libera uma cena específica, por exemplo. Qualquer coisa que fizer vai modificar a experiência de forma direta, não apenas no enredo mas também nos comentários em áudio.
NGP: A narração em português também faz parte do modo Jornada, então?
JB: Sim. Gravamos muitas linhas de diálogo com o Tiago [Leifert], incluindo algumas específicas para determinadas situações. O resultado disso é espetacular.
NGP: Em FIFA 17, temos o uso da engine Frostbite, da DICE, e também o sistema de escolhas e decisões da BioWare. Temos desenvolvedores de Battlefield e Dragon Age participando desse game, ou isso foi apenas um intercâmbio de tecnologias?
JB: Tivemos alguns engenheiros da DICE que se uniram ao time de FIFA neste ano para ajudar na transição. Além disso, colaboramos muito com a BioWare para usarmos o sistema de conversas deles. A colaboração entre os estúdios aumentou bastante, e para o futuro, isso vai continuar acontecendo. Quanto mais gente trabalhando, melhor e mais rápido se fazem as coisas.
NGP: Quantas horas de duração tem o modo Jornada?
JB: São várias horas! [risos] Não posso dizer quantas, é surpresa.
NGP: Mas até que ponto ela apresenta consistência? Como evitar que aconteça o mesmo que com Battlefield, por exemplo, onde os jogadores não dão tanta atenção à campanha e, muitas vezes, acabam nem mesmo a jogando, em prol do multiplayer, ou no caso de FIFA, das partidas com os amigos?
JB: Sim, criamos algo que é bastante substancial. O modo Jornada não apresenta conteúdo para mais de um jogador, pois o objetivo é vestir a pele de Alex Hunter e ser um jogador profissional da Premier League. É possível jogar em qualquer um dos times da liga, e daí para o estrelato, está tudo em suas mãos.
NGP: Já temos mais de 20 anos de FIFA, com algo de novo a cada edição. Como foi unir essa preocupação com a evolução da série e adicionar uma campanha com roteiro, captura de movimentos, atores e tudo mais?
JB: Tivemos bastante trabalho. Estamos desenvolvendo o modo Jornada há dois anos. Em 2015, por exemplo, enquanto uma equipe trabalhava em FIFA 16, nós cuidávamos da história e dessa transição para a engine Frostbite.
Tentamos inovar todos os anos e há sempre coisas que podem melhorar. Somos fãs de futebol, e em casa, assistindo a um jogo, vemos um tipo de passe que pode ser colocado no game ou algum tipo de movimento ou acontecimento que ainda não faz parte dele. Há sempre algo a adicionar, e continuamos fazendo isso o tempo todo.
NGP: A ideia, então, é transformar o modo Jornada em algo constante, que teremos nas próximas edições daqui em diante?
JB: Estamos esperando a resposta dos fãs, e aqui no Brasil, tudo tem sido muito positivo. Temos falado bastante com os fãs que estão jogando FIFA 17 e estamos contentes com a qualidade que atingimos em termos visuais e de jogabilidade. Temos certeza de que este é o melhor jogo da série.
NGP: E quando veremos a Jornada de um jogador brasileiro, que começa em times pequenos e chega à Europa?
JB: Tudo é possível! [risos]
FIFA 17 chega em 27 de setembro para PC, Xbox One, PlayStation 4, PS3 e Xbox 360. A edição para a geração anterior, entretanto, não conta com o modo Jornada.