Overwatch

Overwatch

por Caio Vicentini

Melhorando a roda

Se alguém falasse para mim que um multiplayer em equipes, sem qualquer modo história e com basicamente três modos de jogo seria um dos melhores títulos que eu jogaria esse ano, eu provavelmente não acreditaria. Mas depois de jogar a Beta de Overwatch e depositar mais de 40 horas de jogo em sua versão final, eu tinha certeza que estava diante de algo especial.

Overwatch é a primeira franquia original da Blizzard em quase 20 anos, se afastando um pouco dos Orcs, paladinos e guerras alienígenas. É um jogo surpreendentemente acessível até mesmo para aqueles que não são experientes em FPS, mas com profundidade o suficiente para interessar o círculo profissional competitivo.

O game se baseia em disputas de duas equipes com seis membros cada, com diversos papeis a serem preenchidos, caso você queira colaborar em tornar sua equipe em um mecanismo funcional. Divididos em quatro categorias, os 21 personagens principais (com promessa de mais no futuro) têm características bem distintas, tanto visualmente como em suas mecânicas.

Há variedade até mesmo entre combatentes da mesma categoria, como Mercy, uma personagem de suporte que é a mais próxima que conhecemos dessa função tradicional, focando sua rajada de cura em um aliado específico. Enquanto isso, outro protagonista do mesmo tipo, como Lucio, tem habilidade de curar em área, sendo mais útil para manter a integridade da equipe como um todo, ao invés de apenas um jogador.

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Essa variedade possibilita chamar os mais diversos públicos, como os veteranos de Call Of Duty, que se sentirão em casa jogando com Soldier 76, ou os saudosistas de Quake e Unreal Tournament, que podem reviver com Pharah suas lembranças de bombardear inimigos com seu lança foguete.

Simples de aprender, complexo de dominar

No meu primeiro contato com Overwatch, eu estava cético quanto às minhas habilidades. Tendo jogado poucosFPS online como Call of Duty e Counter-Strike, eu tinha como certo que me frustraria rapidamente e desinstalaria o Beta após algumas partidas, mas, para a minha surpresa, não foi bem assim.

Antes de terminar de instalar o jogo por completo, a primeira coisa acessível é o tutorial, onde se aprende os comandos básicos de como atirar, quais as habilidades de cada personagem, como usar seu especial e por aí vai.

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Logo após, é aberto o espaço para testar todos em um campo com bots, dando a chance de experimentar as nuances de cada personagem sem se preocupar em prejudicar seu time, caso fizesse isso em partidas reais. Todos têm um nível de dificuldade estabelecido, ajudando cada pessoa a sentir com qual personagem se sente mais confortável.

Se alguém falasse para mim que um multiplayer em equipes, sem modo história e com três modos seria um dos melhores títulos que eu jogaria esse ano, eu provavelmente não acreditaria.

Teste após teste, acabei gostando de jogar com Pharah, a egípcia que dispara mísseis em seus inimigos enquanto voa pelo do cenário. Levando-a para partidas reais, conseguia eliminar diversos inimigos sem muita dificuldade, graças ao dano em área que cada foguete disparado causava, mas meu desempenho individual nem sempre refletia no resultado da partida, em que meu time não conseguia escoltar o carro até o objetivo, ou impedir o inimigo de controlar uma área.

Você pode muito bem dominar um ou dois personagens, mas para garantir a vitória, é necessário reconhecer que ações individuais não tornam o time mais eficiente, mas sim pensar como um coletivo e se adaptar a situação vigente.

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Nem toda partida vai exigir que você fique plantado numa área com Bastion, fuzilando os inimigos; às vezes você precisará assumir o papel de suporte para garantir a sobrevivência da equipe em um trecho difícil do cenário, ou então de um personagem que aguente muito dano para destruir as armadilhas inimigas. Se na primeira hora se aprende a jogar com um personagem, nas dez primeiras isso vale para o trabalho em equipe.

Overwatch não é esse fenômeno por estar fazendo algo nunca visto antes, mas por fazer com extrema competência tudo a que se propõe.

É com esse foco que o jogo também acaba descartando modos tradicionais em FPS, como Deathmatch e sua variação com equipe. Aqui, o objetivo não necessariamente exige que você seja uma máquina de matar, mas que você saiba seu papel na partida e cumpra-o com exatidão.

O que não quer dizer que você sempre será o mesmo personagem até o fim, pois com a possibilidade de alternar entre heróis o quanto quiser durante os combates, o campo de batalha acaba se tornando uma grande e constante metamorfose.

Sem história, sem problema

É muito questionado internet afora a validade dos preços colocados em jogos pela quantidade de conteúdo que eles oferecem, ao invés da qualidade. Anos atrás, muitos títulos tinham multiplayers inseridos sem muito cuidado, não refletindo o trabalho colocado nas campanhas single player. Agora, com uma onda de jogos focados na experiência multiplayer, é muito comum ouvir em comentários de sites e de redes sociais que um modo história faz falta para alguns desses jogos.

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Como no caso do multiplayer feito às pressas, um modo single player pode não refletir o que foi pensado para a jogatina online, principalmente uma com foco no trabalho em equipe e relações de vantagens e desvantagens entre seus personagens. Isso não quer dizer que o jogo é vazio de qualquer backstory. Como parte de sua campanha de marketing, diversos curtas e histórias em quadrinhos foram publicados até mesmo após o lançamento do jogo.

Todas essas obras de transmídia colaboram na hora de criar o universo de Overwatch, e formular a história e jornada de cada personagem, nos ajudando a criar um laço ainda mais forte quando jogamos com eles. Em momentos preciosos de interação entre os personagens antes da partida começar, alguns deles mencionam acontecimentos das animações.

Algumas animações são tão boas, e algumas histórias tão interessantes (o que exatamente aconteceu entre o Soldado 76 e Reaper? O que aconteceu com a mãe da Pharah?), que me fazem querer um filme animado com esse universo. Melhor assim do que algo que afete o trabalho estelar feito nas mecânicas do jogo em si.

Viajando pelo mundo

Assim como o visual dos personagens, todos os cenários do jogo são coloridos e aparentam terem sido tirados de um filme da Pixar. Cada fase se passa em um país em específico e a arquitetura dos locais (assim como a música) seguem a história e cultura local.

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Em questão de level design, não há nada de inovador que não se tenha visto em outros jogos competitivos, mas visto a grande quantidade de personagens, e ao perceber que todos os cenários dão espaço para cada um deles brilhar, temos um trabalho muito bem feito. Apesar disso, algumas fases dão uma pequena vantagem para uma equipe, dependendo do lado que estão.

Missões de controle de objetivo em mapas como Templo de Anúbis podem ser mais difíceis de serem vencidas do que em outros cenários, devido à clausura e às vias de acesso muito expostas. Isso não quer dizer que seja impossível ganhar nesses mapas, mas é visível em várias partidas que um lado precisa de um esforço maior que o adversário para cumprir seu objetivo.

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Em resumo, Overwatch não é esse fenômeno por estar fazendo algo nunca visto antes, mas por fazer com extrema competência tudo a que se propõe. Pessoas podem enxergar algumas semelhanças de dinâmicas de jogo com Team Fortress 2 e discussões acirradas sobre qual personagem neutraliza outro, como visto em MOBAs como League of Legends e DotA 2, mas as comparações acabam por aí.

Com visuais coloridos e chamativos, mecânicas simples de serem entendidas até para iniciantes, mas um foco na cooperação entre jogadores, trazendo uma complexidade na hora de formar as mais diferentes sinergias entre seus personagens, é um jogo que todos deveriam dar uma chance.

O jogo foi testado no PlayStation 4, em cópia cedida pela Blizzard.