Ninguém morre de amores pelo sistema pay-to-win, ou o “pague-para-continuar-jogando”, mas, infelizmente, ele está aí e já se provou uma fonte bastante lucrativa para as empresas de jogos para os dispositivos móveis. Candy Crush é o maior expoente desse método nem sempre tão honesto. E quando se aplica essa estratégia em jogos que temos algum apego, como o nosso glorioso e sagrado Pokémon, que todos amam – ASSUME-SE – parece que o golpe é ainda mais cruel.
Mas isso não impediu a Nintendo de lançar Pokémon Shuffle na eShop com exatamente as descrições do artifício, na tentativa de arrancar qualquer centavo através de um jogo gratuito. E, propositalmente, como o título, embaralhando nossos sentimentos em relação ao tema do jogo e seu tipo de jogabilidade. Pokémon Shuffle é assim.
Começando o jogo nos deparamos com a ambientação 3D que observamos nos mais recentes jogos da série principal, mas ela para por aí. Pouca coisa além da primeira vista será alterado, mostrando que o espaço aberto de uma cidade serve apenas como paisagem.
Entre Candy Crush e Pokémon Shuffle, é mais interessante jogar o jogo da Nintendo. Nele, pelo menos, temos ataques de lança-chamas e choques do trovão.
A jogabilidade e o mundo são apresentados por uma treinadora, ou traficante, que te mostra todo aquele lugar de moedas e vidas, onde o primeiro daqueles itens salvadores sempre são de graça. Os mais importantes são os já citados corações, usados para iniciar cada partida. Elas lembram, mesmo que vagamente, um combate entre dois monstrinhos de bolso, sendo necessário avançar no puzzle candycrushiano para aplicar dano no pequeno inimigo.
Uma coisa bacana: se você forma uma sequencia de uma espécie de Pokémon que possui alguma vantagem contra o adversário, como um do gênero Fogo contra um de Planta, o dano causado é “Super Effective”, e o mesmo vale no caso contrário. Então, não vá fazer uma combinação de Pikachus contra um Ônix.
Ainda sobre as Vidas, elas são regeneradas com 30 minutos de espera, e apenas uma a cada ciclo. Assim, a primeira coisa a se pensar seria deixar o jogo ligado em stand-by numa noite enquanto suas vidas acumulam para um jogo tranquilo e divertido no dia seguinte, certo? Não é assim que funciona. O limite de vidas gratuitas é de cinco, que você consegue gastar em meia hora de jogo, ou até menos. Pagando, porém, consegue-se um total de até 80 vidas para batalhar à vontade e até encarar, se quiser, um Mewtwo com um Magikarp, só pela cretinagem.
Além das Vidas você também pode comprar, comprar, comprar e comprar Moedas que servem para gastar em Power-ups durante o combate. Coisas como mais movimentos durante uma partida, pontos de experiência extra para seu monstrinho ao finalizar um encontro, diminuir a complexidade dos puzzles e outras coisas bastante caras. Em uma jogatina normal, você NUNCA conseguiria juntar tanta grana assim. E, caso realmente precise de mais para avançar em determinado ponto, você pode comprar com pequenos Diamantes, o dinheiro dentro do jogo.
É possível gastar uma grana feroz em Pokémon Shuffle se o jogador não tiver juízo. E, honestamente, nunca pensei que acharia isso uma vantagem, mas o fato da “Big N” ser um tanto enrolada nos pormenores da sua Nintendo Network, o ato de gastar dinheiro real é um tanto atrapalhado. São algumas idas e vindas e conexões necessárias para efetivamente chegar na tela dos gastos. Apenas se uma criança quiser MUITO novas vidas, conseguirá alguma.
Nessa primeira versão do game existem 159 Pokémons, dos antigos aos que nunca ouvimos falar, para completar toda a Pokedéx. Remetendo ao clássico, ao vencermos, dependendo da “pegabilidade” do monstrinho e da quantidade de movimentos no puzzle que fizemos para vencer, podemos lançar nossas Pokébolas normais, que são abençoadamente infinitas, para capturar e guardar em cativeiro o novo amiguinho.
É possível gastar uma grana feroz em Pokémon Shuffle se o jogador não tiver juízo.
Se no fim o danado escapar por causa de uma bola fraca, não se preocupe, que por sofridas 2500 Moedas, podemos aumentar um pouco a porcentagem de captura usando uma Greatball. Em certos momentos, o item mais forte não acrescentou nem 10% na chance de captura de um Pokegenérico. Um lendário, então, rebateria sua Greatball de volta, capturando a sua carteira.
Sendo menos rabugento com o jogo, o combate, mesmo que simples, é divertido. Depois de um tempo, os monstros adversários passam a atacar de volta e não ficam apenas apanhando parados. Seus ataques são refletidos diretamente no puzzle, bloqueando movimentos que o jogador possa vir a executar. O que poderia ser melhor é a tela mostrando o combate, que mostra a cabeça do Pokémon que estamos enfrentando e só. Enfim, mesmo se tratando de um jogo gratuito, deveriam ter ao menos caprichado um pouco mais nisso, já que o objetivo do é fazer com que o usuário gaste algum dinheiro por meio de uma proposta interessante.
Em nenhum momento foi preciso gastar dinheiro real durante a análise, mas o caminho de tijolos amarelos em algum momento chegará até a fatura do cartão se o objetivo do jogador for o mesmo de Ash Ketchum. Porém, entre Candy Crush e Pokémon Shuffle, é mais interessante jogar o jogo da Nintendo. Nele, pelo menos, temos ataques de lança-chamas e choques do trovão.